03/04/2009 - Yorkshire hippie
Em um dos maiores centros comerciais e de prestação de serviços de Brasília, por entre uma plantação de prédios e um mar de pessoas que se movimentavam em ondas, indo e vindo, vindo e indo, um yorkshire destoava do cenário. Aquele cão pequeno e de pelos longos, andava de um lado para o outro, sem saber para onde ir. Cheirava aqui, olhava ali, corri para lá e esbarrava na perna dos passantes e nas paredes dos edifícios. Na verdade, era uma yorkshire, pois levava um laço rosa na cabeça. Definitivamente, com toda aquela pelagem azul-aço escuro e fulvo tão reluzente quão limpa, não era uma cadela de rua.
De longe, notei a sensação de desconhecido que devorava a cachorrinha. Não é fácil se ver perdido em uma cidade, grande e desconhecida, cheia de perigos visíveis e invisíveis como é o caso da capital da República. Aproximei-me, olhei bem para o seu rosto e não a reconheci. Esforcei-me, porém não consegui lembrar de seu rosto em nenhum desses cartazes de "desaparecido.... ofereço recompensa". E já havia muita gente de olho nela, ou melhor, nos tostões que ela poderia render. Não tinha coleira ou qualquer indicativo de endereço, apenas um laço rosa e olhos perdidos.
Tentei chamá-la: lulu, belinha, babi, lassie, bolinha, catita, july, laica, nala, teka... esgotei meu repertório de nomenclatura canina, mas ela nem deu confiança. Quanto mais eu a chamava, mais e mais ela se afastava. Quem sabe ao contrário de perdida, era, na verdade, uma fugitiva. Cansou da sua vida de dondoca e resolveu se rebelar e cair na estrada. Havia se transformado em uma cachorra sem dono, a ponto de querer uivar para lua, furar saco de lixo e namorar quantos vira-latas quiser. Restava saber se o mundo cão iria aceitar aquela patricinha, posto que seu coração poderia ser hippie, mas ela seria para sempre uma yorkshire.
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