05/04/2009 - Devorações
Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais de vida. Vida para beber mais algumas taças de lua, ser carregado por cometas e dormir em estrelas falando "eu te amo" na língua dos extraterrestres. Pela mulher que me devora, pelo alguns minutos mais de febre. Febre para arder nos receios de uma época que nos poda ao meio e nos cava em decotes, atirando-nos aos seios da revolução que ainda não revolucionou, do verbo revolucionar.
Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais de paciência. Paciência para combater a fúria de matar e morrer que ultimamente, e inconsequentemente, roda na mesma moeda, ora cara ora coroa. Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais de perdão. Perdão para me autoperdoar em razão desse amor demais, que me fere a paciência, que me rouba a vida, que me adoece me curando, que perdoa me culpando e me devora entre dentes, línguas e sentimentos.
Pela mulher que me devora, peço alguns minutos mais para saborear a minha sorte. Abocanha-me, mastiga-me, tritura-me e me cuspa numa arrevoada de sementes, plantando-me sul e norte, oriente e ocidente, centro e periferia... Ah! Rola-me pela sua garganta, entregando-me aos seus ácidos, aos seus veios e veias, aos seus fluxos arteriais, a sua pira batismal, aos seus mundos e submundos viscerais, a sua porta lacrimal...
No entanto, enquanto me devora, ser devorador, nesses minutos a mais, vou tatuando nas sete camadas de sua pele o meu romance que lhe devora em nuances...
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