Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

Arquivo

2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Encontrados 29 textos de março de 2009. Exibindo página 2 de 3.

20/03/2009 - Raposa do Sol

Eu quero demarcar suas terras, minha raposa do sol. Eu quero me embrenhar em suas matas, natividade de mim. Eu quero me pintar nas suas guerras. Eu quero saber das suas lendas. Eu quero vingar o sangue dos seus vermelhos. Eu quero acender uma fogueira e contar histórias em sua língua. Eu quero cair nos seus costumes e fazer você sentir ciúme como se eu fosse terra sua.

Eu quero ser sua reserva de amor. Eu quero lançar meus olhos nas lanças dos seus olhares em arco. Eu quero despir toda a sua nudez. Eu quero ser sua tribo, sua oca, sua aldeia. Eu quero me embaraçar nos seus colares. Eu quero crer em suas crenças. Eu quero expulsar seus invasores, quero lhe trazer em primeira mão a doença dos brancos - o amor egoísta. Eu sou a cobiça, o desejo de posse, a dizimação. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

19/03/2009 - Quanto vale a minha morte?

Não sei se eu pulo da ponte, do décimo terceiro andar ou se deito na linha da ferrovia esperando o próximo trem. Será que ainda passam trens por aqui? Não sei se corto os pulsos, o pescoço ou a virilha em busca da veia mais suculenta. Não sei se me jogo na frente de um caminhão, se ateio fogo em meu corpo ou se me afogo na banheira. Não sei se vou em busca de algum vírus novo, se me ofereço à loucura de algum marginal ou se contrato um matador de aluguel.

Não sei se opto por faca, bala ou descarga elétrica. Onde será que vai cair o próximo raio? Não sei se visito alguma guilhotina ou se apelo para a boa e velha forca. Se a morte for em público ou em particular, pouco importa. O que eu quero é morrer de qualquer jeito, de qualquer forma, a qualquer hora. Não sei se tomo uma overdose de remédios ou entro em uma câmera de gás letal. Não sei se me jogo à boca do dragão da inflação ou se me entrego aos rodopios do redemoinho da crise. ...
continuar a ler


Comentários (1)

18/03/2009 - Primavera oceânica

Eu quero deslizar por tuas pernas como veleiro ao mar. Quero conhecer todas suas ilhas desertas e secretas. Quero lhe levar ao meu convés e sussurrar palavras de estibordo ao seu ouvido. Quero suspirar como a brisa altaneira que os pescadores tanto falam. E quero revirar seu corpo à procura de tesouros ainda não revelados. E quando a noite cair, quero provar da fogueira dos seus olhos de folguedos.

Quero que grite "terra à vista" dentro de minha boca, de modo a conclamar que todos os meus sentidos e instintos deixem meu corpo. Que a tripulação dos meus sentimentos esteja a sua disposição. E que não exista âncora em nossa relação. Que sejamos sempre ondas, em constante movimento. Que as estrelas se guiem pelos cardeais existentes em seu corpo. E que as conchas cantem a sua canção. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

17/03/2009 - Quaresmeiras

Agora eu não tenho qualquer sacada. Tenho uma sacada com uma quaresmeira. Está certo que é só um vaso com uma mudinha, mas um dia ele vai ter uma copa frondosa de flores que ora são roxas, ora são lilases. Mas desde já essa quase-árvore me leva a um tempo de reflexão sobre o sofrimento. Embora lindas, as quaresmeiras são tristes por natureza. Não é por acaso que suas folhas forram o chão das procissões de semana santa.

Na minha rua não tem quaresmeiras. Na minha quadra não tem quaresmeiras. No meu bairro não tem quaresmeiras. Na minha cidade não tem quaresmeiras. Só na minha varanda há um exemplar da árvore da penitência. Ah! Se eu morrer, que morra sob uma quaresmeira, com as costas recostadas em seu tronco imperfeito e suas folhas ásperas. Que o tom fúnebre e feminino de suas flores repousem sobre meu corpo, ofertando minha carne à mãe terra. E que minha morte dure quarenta dias. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

16/03/2009 - Um mundo novo

Quantos sonhos ainda precisam vingar para o nascimento de um mundo novo? Não importa se de parto normal, se de parto humanizado, se de cócoras ou com a ajuda de um bisturi, se pelas mãos de um médico ou de uma velha parteira, o novo mundo precisa vir à luz. À luz de um novo tempo, de um novo espaço, de um novo signo. Muitos sonhos já foram abortados, já se dilaceraram e se esqueceram pelo caminho. Mas muitos ainda estão virando, beirando, chegando e muitos outros ainda estão por vir.

É uma eterna relação de amor entre o velho e o novo, entre a carne e a terra, entre o grito do medo e o grito da descoberta. De um lado, um exército de espermatozóides do desejo, guerreando entre si, flertando os óvulos apaixonados que, do outro lado, se insinuam maduros como aquela manga no pé do quintal do vizinho, aguçando olhos e sentidos. E o feto é um coração desenhado no muro dos que já sonharam e sonharam demais. Ai meu deus, quanto tempo faz......
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

15/03/2009 - Ninho de súplicas

Uma mulher se ajoelha diante da imagem de uma outra mulher a qual ela chama de santa e de mãe.

- Ò mãe, por que tem que ser assim? Por que eu não posso viver de maneira inteira? Por que tem que ser tudo às migalhas, às metades? Eu não mereço ser feliz? O que foi que eu fiz para não merecer a felicidade? Eu rezo, vou à missa, comungo, confesso, mas os meus sonhos estão cada dia mais longe de mim. Tem tanta gente por aí que não acredita em nada e tem a vida muito melhor que a minha. Será que eu fiz alguma coisa tão horrível assim na vida passada? Ah! Já estou ficando cansada. Cansada de tantas guerras que estouram dentro e fora de mim. Queria tanto ter um pouco de paz. Mas eu vivo em meio a um bombardeio. E por mais que eu me esforce em ser uma pessoa melhor a cada dia só me sobram críticas e mais críticas. Será que sou descendente de Maria Madalena? O que será que eu fiz para receber tantas pedradas? ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

14/03/2009 - Um novíssimo poema de Drummond

Como quem não quer nada, cheguei à vendinha da esquina pra comprar um queijo minas. O senhor de olhos amontanhados, que me atendeu detrás do balcão, disse-me que o queijo estava em falta, porém tinha um poema fresquinho de Drummond. Mas será que os versos drummondianos ficariam bons no meio de um pão francês com algumas gotas de molho inglês? E o que seria um simples lanche de fim de tarde virou uma questão de lingüística.

Pra não chegar de mãos vazias e agradar minha menininha, que me esperava debruçada na janela, o velho de sobrancelhas brancas me ofereceu doce de goiaba, bananada, compota de figo, abóbora açucarada, caramelo do bom, biscoitinho de nata, doce de leite coalhado e uma cachacinha direta do engenho. Engenho de dentro. E tudo aquilo foi pingando em mim, remoendo em mim, como num poema de Carlos, que era Drummond e Andrade ao mesmo tempo. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

13/03/2009 - Mundaréu

Estou longe de casa. Na verdade, estou longe de mim. Sou planeta rebelde, perdido de sua galáxia. Sou espaço, espaço, espaço e nada. Estou pra lá de Marte, estou aquém de Plutão. Meu sol não é tão quente. Tenho nove luas. Não sou habitado. Aliás, acredito que não sou habitável. Não tenho água, não tenho gravidade, não tenho tempo.

Sou apenas um viajante de mim mesmo. Ora estou, ora sou. Ora vou, ora vôo. Ora sim, ora não. Sou o caos. Tenho explosões diárias. Estou em constante mutação. São tantos meteoros, meteoritos, cometas e estrelas cadentes caindo em minha cabeça. Ah! Quero uma chuva de analgésico e um quarto escuro de lua para me internar. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

12/03/2009 - O paraíso tem carpetes azuis

Azul é a cor que simboliza o céu e, por conseguinte, o paraíso. Mas não é preciso morrer para ter acesso a essa terra da felicidade. Basta encontrar a Praça dos Três Poderes, nos jardins suspensos de Brasília, e se dirigir até o Senado Federal. Na teoria, complementa a atuação da Câmara. Na estética, é aquela bacia de ponta cabeça plantada por Oscar Niemayer. Quem já entrou nesse recinto de cobras e lagartos sabe que ele é forrado por carpetes e mais carpetes azuis.

E é por esse azul todo que caminham aqueles que trazem a esse lugar a fama de paraíso. Pudera, um senador é dono de um castelo no interior de Minas Gerais. Com arquitetura oponente e boas doses de luxo, esse Rei Artur contemporâneo faz do Senado parte de seu reino. Também por esses carpetes azulados caminha um diretor geral que permaneceu por quase quinze anos no cargo mais alto que um servidor pode ocupar por ali. Tal diretor supervalorizado conseguiu ter uma mansão supervalorizada em um bairro supervalorizado na supervalorizada Brasília. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

11/03/2009 - Tudo está legal

Da minha janela, não há king kong algum escalando prédios. Da minha janela, não há godzilla algum cuspindo fogo. Da minha janela, não há dilúvio algum trazendo um novo Noé. Eu olho para um lado e outro e não vejo absolutamente perigo algum no ar. Mas ele existe. O asteróide Apophis está chegando. E parece que está com um mal-humor arretado. Pudera, chegaria em plena segunda-feira na atmosfera terrestre e destruiria uma boa parte do planeta. Você tem alguma dúvida de que ele cairá no Brasil?
...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   1  2  3   Seguinte   Ultima