Daniel Campos

Texto do dia

Imprimir Enviar para amigo
14/03/2009 - Um novíssimo poema de Drummond

Como quem não quer nada, cheguei à vendinha da esquina pra comprar um queijo minas. O senhor de olhos amontanhados, que me atendeu detrás do balcão, disse-me que o queijo estava em falta, porém tinha um poema fresquinho de Drummond. Mas será que os versos drummondianos ficariam bons no meio de um pão francês com algumas gotas de molho inglês? E o que seria um simples lanche de fim de tarde virou uma questão de lingüística.

Pra não chegar de mãos vazias e agradar minha menininha, que me esperava debruçada na janela, o velho de sobrancelhas brancas me ofereceu doce de goiaba, bananada, compota de figo, abóbora açucarada, caramelo do bom, biscoitinho de nata, doce de leite coalhado e uma cachacinha direta do engenho. Engenho de dentro. E tudo aquilo foi pingando em mim, remoendo em mim, como num poema de Carlos, que era Drummond e Andrade ao mesmo tempo.

Pra acompanhar a comprinha, o mineiro das gerais me falou dos ovos caipiras de gemas vermelhas, das lingüiças de porco com bacon e pimenta da braba, da manteiga batida no tacho, do mel de abelha de laranjeira, dos pururucas e dos chás contras urucas que ele tinha na prateleira, em feitio de feira. Fui pegando um pouco disso, um pouco daquilo e quando percebi, eu tinha em minhas mãos um novíssimo poema de Drummond.


Comentários

Nenhum comentário.


Escreva um comentário

Participe de um diálogo comigo e com outros leitores. Não faça comentários que não tenham relação com este texto ou que contenha conteúdo calunioso, difamatório, injurioso, racista, de incitação à violência ou a qualquer ilegalidade. Eu me resguardo no direito de remover comentários que não respeitem isto.
Agradeço sua participação e colaboração.

voltar