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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 119 de 320.
27/02/2016 -
Esquinas e porta-retratos
Porta-retratos são como espelhos do passado. É como o ontem me olhando, dizendo o quanto fui feliz. É um tempo que existiu, que me sorriu e depois seguiu. O que eu quis foi o passado no futuro, fazendo do presente um lugar pouco seguro. E eu me olho e me perco nessas fotografias do ausente. Podia ter sido, podia ser tão diferente. Caminhos cruzados deviam seguir lado a lado. Por que as ruas cruzam e depois correm em separado. Cada esquina é um porta-retratos, um cruzamento concreto e abstrato que dura para sempre num tempo que existe ali, ali somente. Logo ali à frente a esquina terminou, o homem, olhando para a lua, se perde e segue por uma rua e a menina que o beijou, flutua por outra. E a história tão amarrada naquela esquina se vai tão solta. Do encontro do tempo e do espaço nas esquinas, nos porta-retratos nasce o desencontro de homens e meninas que ainda andam tontos à mercê do que tudo isso os destina.
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27/04/2015 -
Essa tal gravidade
Se não fosse essa tal de força da gravidade nós poderíamos andar nas nuvens sem nos prender a nada. As árvores ficariam de ponta cabeça, com raízes descabeladas aos céus e frutos ao alcance das mãos dos mais pequeninos. Os peixes nadariam por outros azuis e os pescadores poderiam fisgar anjos distraídos. A terra não prenderia ninguém, todo e qualquer corpo seria alforriado. Seríamos como balões de gás namorando pelo horizonte. Voaríamos, flutuaríamos, boiaríamos como astros e estrelas que somos. As pedras da calçada, das montanhas, das geleiras diriam que estávamos enganados sobre seus pesos, pois levitariam sem precisar de mágica. Ah, se a força gravitacional não nos atraísse arbitrariamente o universo nos seduziria muito mais. Não teríamos endereço fixo, pois nossas casas não parariam no lugar. Seria o caos se o caos não fosse o hoje, da forma como se está tudo aparentemente no lugar mas realmente tudo, do raso ao fundo, de pernas pro ar.
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17/06/2016 -
Esse amor que me domina
Eu já não sei mais o que fazer com esse amor que me domina. É um amor tão forte que faz perder o norte, cura-me de todo e qualquer corte, torna-se maior que a morte. Que os poetas me amparem e que o coração não pare antes de dar por cumprido o romance que intriga até o senhor cupido. É um amor que perdoa tudo. É um amor para além deste mundo. É um amor cego, mudo, surdo... que vê sentimento, que grita o que palpita, que ouve o que crê. E não há unguento nem benzedura que dê jeito ou cura nesse amor que desafia os limites da razão e, quiçá, os da emoção. Dá-lhe esperança. Dá-lhe desejo. Dá-lhe paixão. Que amor é esse que se alimenta do sim e do não, é flor que se abre e rouba a cena independente da estação. Que amor é esse que me domina e que me dobra como uma esquina. Que amor é esse que me domina como caça nas garras da ave de rapina. Que amor é esse que me domina colocando o meu orgulho-rei aos pés de uma menina. Que amor é esse que me domina e me ensina que é preciso amar mais e mais, ainda mais, para então raiar descortinando essa neblina que turva o coração.
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27/08/2013 -
Esse bicho
É essa coisa no peito, revirando, moendo, torcendo. Muita gente fala de nó na tripa, mas o que eu tenho é nó no peito. E são vários nós. É uma coisa que ata, que embaraça, que aperta. Difícil explicar. Uma sensação de angústia, de agonia, de “nada vai dar certo”. Nós pessimistas. O coração bate como que machucado, como que sem espaço, como que açoitado. Fica difícil até para respirar fundo. E quanto mais raso se respira, mais difícil fica viver e conviver e reviver como se deve.
É como se tratores com aqueles implementos pesados que reviram tudo, deixando tudo fora do lugar, fossem e voltassem dentro do meu peito dia e noite. Por fora, demonstrações de cansaço, fadiga, desânimo. Por dentro, marcas e mais marcas. Falam de encosto sentado sobre nossas costas, mas eu quero falar de um encosto acomodado dentro do peito. Um encosto sem rosto e com tantos rostos ao mesmo tempo. Um encosto que não aceita reza, perdão ou rendição. ...
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09/08/2014 -
Esse seu lado pirata
De repente, velejava com o vento (um sopro doce da sua boca) ao meu favor. Enfrentava tempestades, conhecia paisagens paradisíacas, desbravava um mundo de mistérios com o nariz do meu barco seguindo o rastro do seu perfume. Nossos corpos molhados, ensolarados ou estrelados, mas molhados faziam das velas nossos lençóis. Não havia motivo para parar, só, e somente só, para avançar. E foi exatamente isso o que eu fiz. Joguei fora as bússolas porque eu só tinha um destino – você – e era impossível eu errar esse caminho. ...
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22/03/2008 -
Está na hora de arrebentarmos aleluia
Vó Adélia está depressiva. Aquela mulher forte e de olhos tristes, filha de italianos, ao final dos seus sessenta anos de idade conheceu a depressão. Começou, até mesmo, a ingerir aqueles remédios tarja-preta que mais fazem mal do que bem para a saúde. Além da sonolência, anda mais chorosa do que de costume. O leitor deve estar se perguntando com certa razão: o que Vó Adélia tem a ver com o Sábado de Aleluia? Á primeira vista, nada. Mas só à primeira vista.
Seja nas missas na Nossa Senhora das Graças, ou na Nossa Senhora das Dores, ou na Nossa Senhora de Mont Serrat, ou na igreja de São Benedito ou na matriz de São José, dona Adélia sempre esteve ao meu lado. Novena de Natal, Via-Sacra, Procissão, Benção das rosas ou dos pães, rosário da vela no meio da praça, quermesses, terços de Santo Antônio, São João e São Pedro. Independentemente da ocasião, lá estava minha vó a me dar o braço....
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29/04/2008 -
Está na hora de criar o Brasil do B
Uma pesquisa divulgada ontem indicou que 50 por cento dos brasileiros querem o terceiro mandato de Lula. Mais do que querer Lula por mais quatro anos, a pesquisa indica que metade do país quer continuar essa política de juros altos, de crescimento irrisório e discursos inflamados. E isso me preocupa. Afinal, até a África está crescendo mais do que o Brasil e, por aqui, aquele senhor que habita o Palácio do Planalto acha tudo maravilhoso.
Lula não é mais o mesmo. Se estivéssemos em outras épocas, jogava tudo para o alto e fazia um governo, de fato e de direito, para o lado humano e não para o capital. É difícil acreditar que metade do Brasil quer continuar sofrendo nas mãos dos banqueiros e acreditando no milagre da mamona. Na verdade, o Brasil carece de uma política social mais agressiva. E Lula demonstrou que não tem boa vontade ou força suficiente para fazê-la. ...
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13/03/2011 -
Estação das ameixas
Seus olhos são como ameixas negras, que mesmo negras são vermelhas, rubras, magentas. Olhos suculentos, lágrimas de um sangue açucarado. Prazer dos sedentos. Olhos de ameixas, queixas da estação, paixão aristocrática. Olhos lisos, aparentemente homogêneos, porém, formados por centenas, milhares, milhões de pontos luminosos. Olhos de casca fina e polpa macia; desejáveis a olhos e bocas alheias.
Olhos de ameixas, madeixas de frutas; deixas de cicuta. Olhos maduros mesmo novos, doces mesmo azedos, silvestres mesmo civilizados. Olhos de ameixas nas ameixeiras, nas prateleiras, nas bandejas, nos pratos, nas quitandas, nas gargantas e nas entranhas. Olhos de ameixas sendo lambidos, mordidos, decorados, engolidos, digeridos, incorporados a outros olhos, olhares, lugares de óleos e holísticos. ...
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Estado de emergência
Lá, deve haver aquele cachorro que anda com os olhos baixos e as costelas quase perfurando a pele. Lá, deve haver aqueles que andam com latas na cabeça, o dia todo, a procura de um pouco d?água. Lá, deve haver aquelas mães que velam seus filhos ainda bebês. Lá, deve haver aquela menina que sonha com romances nunca lidos (os olhos não sabem ler essas coisas). Lá, deve haver aquelas noites que se tornam ásperas como as mãos que lidam com a terra. Lá, deve haver aquela vontade de não se ter a hora do café, do almoço, do jantar, por não se ter o que comer. Lá, deve haver aquele homem que revira a poeira da terra com os pés, aliás, aquele homem não deve ser nem mais homem, deve ser poeira. Lá, deve haver aquela cabra que quando grita não se sabe se é de dor ou de tristeza. Lá deve haver aquela roça de milho que secou antes das espigas. Lá, deve haver aquele menino que corre com a barriga cheia de vermes. Lá, deve haver aquele rio onde correm as rachaduras da terra. Lá, deve haver aquela senhora que ascende uma vela à imagem de um santo, assim como faziam sua mãe, sua avó, sua bisavó e reza as mesmas rezas. ...
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09/04/2008 -
Estafa
Quando uma força nos empurra para baixo. Quando tudo parece dar errado. Quando estamos para além de qualquer limite suportável. É hora de fechar os olhos, abrir nossas asas e voar rumo ao infinito. Só que para alcançar os alto-céus é necessário nos depreender de tudo. Desamarra todos os laços. Quebra todas as correntes. Liberta-se de todas as algemas.
Para ganhar altura, precisamos tirar todo o peso desnecessário de nosso corpo. Joga fora todos os problemas, angústias, desilusões. Ah! Como essas coisas pesam. Temos de estar nus - completamente nus - com nossos sentimentos. Nada pode interferir, atrapalhar ou sequer ameaçar o nosso vôo. E que esse vôo não tenha planos, bússolas, destinos. Que seja um vôo livre, solto, improvisado. Sobre todos e, sobretudo, que seja um vôo apaixonado. ...
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