27/08/2013 - Esse bicho
É essa coisa no peito, revirando, moendo, torcendo. Muita gente fala de nó na tripa, mas o que eu tenho é nó no peito. E são vários nós. É uma coisa que ata, que embaraça, que aperta. Difícil explicar. Uma sensação de angústia, de agonia, de “nada vai dar certo”. Nós pessimistas. O coração bate como que machucado, como que sem espaço, como que açoitado. Fica difícil até para respirar fundo. E quanto mais raso se respira, mais difícil fica viver e conviver e reviver como se deve.
É como se tratores com aqueles implementos pesados que reviram tudo, deixando tudo fora do lugar, fossem e voltassem dentro do meu peito dia e noite. Por fora, demonstrações de cansaço, fadiga, desânimo. Por dentro, marcas e mais marcas. Falam de encosto sentado sobre nossas costas, mas eu quero falar de um encosto acomodado dentro do peito. Um encosto sem rosto e com tantos rostos ao mesmo tempo. Um encosto que não aceita reza, perdão ou rendição.
É esse bicho que levo comigo para onde vou. Um bicho que ora grita fazendo-me gritar a toda altura ora se cala fazendo-me calar com ele. Um bicho que alguns chamam de preguiça outros de depressão e outros ainda de covardia. Um bicho que pesa, que atrasa, que zomba, que dificulta, que arrasa dia após dia. O que eu mais quero é que num desses amanheceres eu note que ele foi embora, mas embora de vez e para sempre. Tanta coisa podia ocupar aquele lugar que ele insiste em chamar de seu.
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