Daniel Campos

Prosas

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08/02/2015 - Hibernação

Ai meu amor hiberna em meus braços em posição de compasso circulando todo o meu ser. Ai meu amor o tempo invernou, o frio por todo lado se instalou e é hora, mais do que hora, de você não ir embora de mim nunca mais. Ai meu amor não há coberta mais quente do que sua pele poente sem dizer da sua língua de palavras ferventes aos ouvidos meus. Ai meu amor não se pode mais ir lá fora, nem pássaro consegue voar, nem o sol consegue raiar, a chuva fria tomou conta do tempo que corria contra nós. Ai amor tudo o que quero são dois corpos em seus devidos postos como lençóis sobrepostos numa cama onde do atrito há de nascer infinita chama. Ai meu amor esquece o quanto nos faltamos e abraça-me, por favor, e não fala mais nada que não provoque ou invoque ou dê suporte ao calor que tanto precisamos. Ai meu amor queima os pesadelos, queima os dias de solidão, queima a saudade atravessada, queima o choro de ser tão só, queima os caminhos sozinhos, queima as partes de uma vida que não conseguiu ser inteira, para ver se desse fogo sobra, nasce, fica algo de nós. Ai meu amor queimemos feito fênix pelos céus pelas cinzas pelas verdades rabiscadas nas nossas quatro paredes. Ai meu amor internemo-nos urgentemente ao fundo mais fundo da nossa caverna entrelaçando nossas pernas como ursos hibernados, sem futuro sem passado, com corações aos soluços ao pulso de chorar e de esperar por um novo tempo ao acordar.


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07/02/2015 - Amor pra vida inteira

Quando da Portela, ela esnobava o malandro que roubava seus olhares do alto de sua janela. Quando da Imperatriz, ela confessava que por mais que amasse e se entregasse não era feliz. Quando da Grande Rio, ela desfilou com todo respeito ao estandarte, mas num sorriso vazio como se sua cabeça estivesse em Marte. Quando da Mocidade, ela foi destaque, verdadeira obra-de-arte no abre-alas, vestida de saudade. Quando da Vila Isabel, ela ganhou o nobel da imaginação, pensando que Noel pra ela entregava o seu samba-coração. Quando da Estácio de Sá, ela beijava para lá e para cá querendo se reencontrar. Quando da Império Serrano, ela saiu na comissão de frente querendo fazer diferente mas foi tudo engano. Quando da Beija-Flor, ela teve tanto glamour quanta solidão que olhava pro malandro dizendo bonjour como se nem pisasse no chão. Quando da Viradouro, ela dizia que amava deus e o mundo mas lá no fundo ela escondia o ouro. Quando do Salgueiro, acreditou que o sentimento que doava era lhe entregue de modo inteiro. Quando da União da Ilha, ela foi a muitas milhas do que poderia ir e no meio da avenida chegou a cair. Quando da Caprichosos de Pilares, ela batia os bares e os altares com a mesma intenção. Quando da Mangueira, novamente, ela chorou copiosamente, pedindo perdão ao malandro pelos meandros de um verso que admitia a traição e assumia a agremiação pela vida inteira.


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06/02/2015 - Tomando chuva

No meio de tantos que correm e se cobrem da chuva, que fazem uso de sombrinhas pretas ou coloridas, das românticas às psicodélicas, há quem passe literalmente tomando chuva. Tomando no sentindo de beber, pois cada milímetro quadrado de tecido, cada poro, cada célula é devida e inteiramente preenchido pela chuva que há. Homens que não se importam em manchar seus sapatos engraxados, embaçar seus óculos, incitar o linho de suas camisas de mangas longas ao desejo de florescer. Mulheres que tomam aquela chuva borrando a maquiagem, desmanchando o penteado, revelando segredos corporais. Felizes os que não gritam com suas crianças quando elas vão pela enxurrada ou poças. Aliás, como seria bom se fossemos barquinhos de papel sendo levados pela água no meio fio pela força da gravidade, vivendo o êxtase até ser desmanchados e tragados por alguma boca de lobo. Olhemos a chuva e saibamos com ela como nos comportar. A chuva não combina com gritos, com correria, com desespero. A chuva alimenta a alma, e por maior que seja sua força, é um convite ao silêncio, à contemplação, à entrega. Ninguém toma uma bebida caríssima num gole só, é fundamental a existência de um ritual que permita o aproveitamento a fundo de todos os sabores que compõem aquele sabor. E não há bebida mais cara neste mundo do que a chuva. Portanto, não desperdice a chuva correndo ou blasfemando o quanto de deus (de deuses) há nela. Viva a chuva para que a chuva possa viver você.


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05/02/2015 - A melhor idade

Qual a melhor idade? Aos 5 meses, quando ainda não se conhece a realidade? Aos 5 anos, quando ainda não se tem conta para pagar? Aos 15, quando vivemos um tsunami de sonhos e paixões? Aos 35, quando se está muitas vezes no auge da carreira? Aos 50, quando a qualidade dos passos ganha importância em relação ao ritmo? Aos 70, quando cada segundo ganha um valor imenso? Aos 85, quando nossas histórias são verdadeiras lições de sabedoria?

A melhor idade é sem dúvida a que estamos agora, basta que nós queiramos que ela seja a melhor. Mas, sem dúvida alguma, depois dos 60 nos tornamos uma safra humana de excelência. Afinal, não há nada mais valioso do que a nossa trajetória. Com erros e acertos, vamos desenhando um caminho cheio de curvas e retas, de subidas e descidas, de encontros e despedidas. Um caminho que muitos chamam de destino....
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04/02/2015 - Nossa missão

Eu, você, ele, ela, nós temos uma missão. Não importa o que, como ou quando, mas temos que realizá-la de qualquer jeito. É para isso que viemos. É só por isso que existimos neste plano. Podemos ter muitos planos, sonhos, desejos, que temos de ir atrás para torná-los possíveis, mas se não nos dedicarmos a nossa missão tudo será em vão. E não há nada pior do que completar nossa vida sem cumprir o que nos foi confiado. É importante que cumpramos essa missão de forma feliz, por isso ninguém precisa abrir mão da felicidade, muito pelo contrário, mas temos de ter foco. E é bom ter consciência de que a missão não está no fim do caminho, a missão é o caminho. Então muito cuidado e atenção na forma como você desenvolve essa caminhada. Tudo está sendo registrado nos planos astrais, portanto, atente-se a cada movimento, a cada palavra, a cada silêncio. Tudo conta. Atenção: tudo, tudo, do micro ao macro, é colocado na conta.


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03/02/2015 - Assovio mágico

Quando você assoviou a minha tarde mudou de cor, de temperatura e até de textura. Foi uma loucura para todos os meus lados, do direito ao avesso foi me virando e revirando. Como se um pássaro me assoviasse a canção predileta chamando-me para o ninho de sua boca, tornei-me lábios e ganhando asas fui ao seu encontro. Fiquei tonto por tudo, fiquei pronto para tudo. A saudade se estilhaçou em segundos com as notas que tocaram fundo vindo desses lábios tão sábios de mim. Você foi falando a língua do desejo e o sol se envermelhou ao nosso beijo. E do nosso enroscar de asas surgiram tantos gritos, tantos ritos, tantos mitos. A tarde virou manhã, o azul do dia virou céu estrelado, as árvores ganharam perfume, as pedras cantaram o nosso bingo e tudo ficou lindo, ainda mais lindo, de se ver. E antes de falar qualquer sílaba, o assovio cortou meu peito como flecha de cupido. Não vi mais nada senão minha amada e um rio. Um rio de arrepio interior. E veio o calor, e veio o resplendor e veio então o meu, o seu, o nosso amor.


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02/02/2015 - Salve Iemanjá!

Salve as águas de Iemanjá. Salve os cabelos longos e ondulados de Iemanjá. Salve o azul, todo o azul de Iemanjá. Salve as sereias de Iemanjá. Salve os reinos de Iemanjá. Salve o amor, o verdadeiro amor, de Iemanjá. Salve as energias curadoras de Iemanjá. Salve os mantras de Iemanjá. Salve a corte de Iemanjá. Salve as ondas, as corredeiras, as cachoeiras de Iemanjá. Salve a lua, as estrelas e a seta branca de Iemanjá. Salve a Estrela Candente de Iemanjá. Salve a pureza de Iemanjá. Salve as limpezas de Iemanjá. Salve as elevações de Iemanjá. Salve as lágrimas de Iemanjá. Salve o horizonte de fluidos de Iemanjá. Salve o sol doutrinador de Iemanjá. Salve o povo de Iemanjá.


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01/02/2015 - Outros homens

Eu sou tempo em que homens voavam sem medo para além das nuvens. Sou do tempo em que o coração não sofria de ferrugem. Sou do tempo em que para conquistar bastava sonhar. Sou do tempo em que as vidas não eram divididas entre o ter e o poder. Sou do tempo em que os amores, mesmo impossíveis, eram possíveis de se viver. Sou do tempo em que os relógios se cruzavam e davam origem a um novo tempo. Sou do tempo em que o horizonte era logo ali. Sou do tempo em que o sol e a lua podiam dividir o mesmo espaço. Sou do tempo em que o homem, quando abdicava de suas asas, virava árvore com raízes bem fincadas. Sou do tempo em que tudo era novidade e um simples beijo fazia o maior alarde no mundo sentimental. Sou do tempo em que as estradas se abriam ao coração. Sou do tempo em que os homens morriam por suas mulheres. Eu sou do tempo em que ao contrário de guerreiros e generais, os homens tinham alma de pássaro.


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31/01/2015 - Minhas saudações

Minhas saudações ao povo do alto. Minhas saudações a quem não é do asfalto. Minhas saudações a quem se doa sem pedir nada em troca. Minhas saudações para quem é de fazer tudo pro outro como se fizesse para si mesmo. Minhas saudações para quem é da oca. Minhas saudações para o que não se explica. Minhas saudações para o que descomplica. Minhas saudações para quem não se deixa os sonhos a esmo. Minhas saudações para as almas que brilham. Minhas saudações para nossas raízes ancestrais. Minhas saudações aos nobres casais que amam demais. Minhas saudações aos que adiante trilham. Minhas saudações aos que estendem a mão. Minhas saudações aos que enxergam para além de toda e qualquer escuridão. Minhas saudações aos anjos do mato, do mar, das cachoeiras... Minhas saudações a quem trabalha e não fica de bobeira. Minhas saudações aos mestres do ar. Minhas saudações a quem vai perseguindo o que é amar.


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30/01/2015 - Lágrimas de conhaque

Ela chegou depositando seu sorriso contido no primeiro copo que viu pela frente. Sua alma fria, nada sorridente, foi tentando se aquecer com conhaque barato. Tinha dinheiro para champanhes, e uísques e drinques mirabolantes, mas carecia daquela bebida pobre, pois já estava farta de ter coração nobre. Ajudava, atendia, auxiliava, fazia, e nada recebia do que bem pretendia. Então, resolveu dar um basta em tanta nobreza e descer da beleza para um copo sujo. Aquele ambiente que cheirava a cigarro e sexo, fazia a transpirar por debaixo de um vestido que custava pelo menos dois anos do salário de quem depositava o conhaque turvo em seu copo. E aquilo mexia com ela. Sentia-se igual a qualquer um. Não precisava de regras de etiqueta, de segurar a línguas nas horas de desequilíbrio, de conter o choro para não borrar a maquiagem. Ali não vali a regra dos títulos, mas das dores. E dores não são maiores ou menores, são dores. De que adiantava seus diplomas, seus cursos no estrangeiro, suas horas deitada em um divã, se nada nem ninguém poderia dar jeito naquilo que chamavam de amor. Estava frustrada. Desiludida. Encurralada. Não podia sequer contar com as amigas que não entendiam ela se apaixonar por aquele que podia ser tudo menos seu namorado, marido, amante. Seu pai não queria aquilo para ela. Seu ex-noivo, ainda inconformado com a perda, não entendia os rumos que seu coração tomou. Sua mãe fazia até novena para ela se desencantar. Mas não tinha jeito. Seu coração, como um bicho, gostava daquele que não valia um cuspe. Ela própria tinha desistido de se entender. Embora relutasse, quando abria os olhos e dava conta de si, estava nos braços daquele homem que a tratava como um pedaço de carne. Não havia sentimento, não havia promessa, não havia compromisso, somente o prazer pelo prazer. Seu corpo dominava sua cabeça e o coração, como que enlouquecido, entregava-se ao absurdo. Ela não conseguia lhe botar freio. Ela tinha vocação para ser rica, feliz, bem resolvida, mas, de repente, seu destino era ser mais uma, talvez a mais baixa das mulheres, aquela que se deixa usar e ainda sente prazer nisso. Estava sendo contra seus valores, princípios e demais aprendizados. Mas de que importava a ética e a moral quando o assunto era satisfazer a si própria? Ao mesmo tempo em que ela tinha nojo de si ela sentia arrepios e se contorcia toda sendo assim. Ela queria mais mesmo chorando lágrimas de conhaque, tão doces quão ardidas. ...
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