Daniel Campos

Prosas

Ou exibir apenas títulos iniciados por:

A  B  C  D  E  F  G  H  I  J  K  L  M  N  O  P  Q  R  S  T  U  V  W  X  Y  Z  todos

Ordernar por: mais novos  

Encontrados 3193 textos. Exibindo página 66 de 320.

29/01/2015 - Quantas vidas?

Quantas vidas eu vou precisar para lhe esquecer? Quantas vidas vão ser precisar para apagar todas essas marcas? Quantas vidas ainda vão se levantar contra tudo o que sonho? Quantas vidas se enfileirarão em minha frente e cairão uma a uma feito peças de dominó? Quantas vidas ainda vão ser necessárias para me dizer que eu sou só? Quantas vidas vão desaparecer sem que eu consiga vive-las por completo? Quantas vidas eu chamarei de saudade? Quantas vidas de expectativas serão mais cedo ou mais tarde trocadas por menos do que esperei? Quantas vidas hão de ser postas à prova sem que eu possa fraquejar? Quantas vidas serão escritas para mim romanceadas platonicamente? Quantas vidas eu terei de morrer para viver de verdade?


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/01/2015 - Não dá, assim não dá

Não sofra mais, nunca mais se deixe assim ferida. Não permita novas humilhações e ameaças. Não aguente novas palmadas. Não há razão que faça você suportar quem quer lhe matar. Não há porque se prender ao sofrimento. Não há estrada que não possa ser rompida. Não há santo que abençoe essa dor. Não há como continuar se despedaçando. Não há o que pagar dessa forma. Não há como se dilacerar toda hora. Não dá para chorar sangue. Não dá para ser feliz assumindo uma culpa que não tem. Não dá para ser alguém colocando sua vida nas mãos de ninguém.


Comentar Seja o primeiro a comentar

27/01/2015 - Saudade desfeita

E, de repente, eu me vi nos braços da senhora novamente. Aquele mesmo sorriso forte, sem mostrar dos dentes, mas numa profunda felicidade estampada nos lábios contraídos de emoção. As linhas de sua face, como nos nossos reencontros depois de muito tempo, tremiam. Seus olhos tentavam capturar o máximo de mim. Como se diz por aí, nem piscava. E quando me aproximei ela abriu os braços e num silêncio arrebatador, fui pra seu colo. Não falamos nada por um período de tempo que não dá para contabilizar. E nosso silêncio disse tudo o que precisava ser dito. As energias se manifestaram e a saudade foi desfeita.


Comentar Seja o primeiro a comentar

26/01/2015 - O que nasce

Tudo o que nasce é sagrado, sacramentado a existir. Tudo o que nasce é semente há de germinar um dia e florir. Tudo o que nasce é ligado a um passado que não deixa de se abrir a um amanhã. Tudo o que nasce, corre pra frente ou pra cima, feito rio, feito árvore. Tudo o que nasce mais dia menos dia vai descobrir seu sentido. Tudo o que nasce um dia será grito, gemido e silêncio. Tudo o que nasce se ajeita, se encaixa, se acha. Tudo o que nasce tem um porque que não importa se alguém vai ou não entender. Tudo o que nasce é feito de sangue, de seiva, de água, de fogo, de cristal, de terra ou de ar. Tudo o que nasce é para se admirar. Tudo o que nasce modifica algo ou alguém ao seu redor. Tudo o que nasce é o melhor que poderia ter nascido ali, naquele momento, naquelas condições. Tudo o que nasce já é história para se contar. Tudo o que nasce tem seu propósito, suas missões. Tudo o que nasce não nasce só aos nossos olhos, mas aos olhos de outras dimensões.


Comentar Seja o primeiro a comentar

25/01/2015 - Quando se amam

Quando se amam, as onças pintadas misturam suas pintas. Quando se amam, as zebras fundem suas listras. Quando se amam, os jequitibás mesclam seus verdes. Quando se amam, os peixes enroscam suas escamas. Quando se amam, os grilos entram no mesmo tom. Quando se amam, as aranhas têm 16 pernas. Quando se amam, os escorpiões se envenenam sem saber. Quando se amam, as pedras mudam do lugar. Quando se amam, os ventos se dão em pés de vento. Quando se amam, as estrelas piscam. Quando se amam, as joaninhas vibram. Quando se amam, as cegonhas atrasam a entrega dos bebes. Quando se amam, os relógios se acertam. Quando se amam, os camelos são côncavos e convexos em suas corcovas. Quando se amam, os rios se turvam. Quando se amam, os barcos viram. Quando se amam, os profetas se enganam. Quando se amam, os duendes existem. Quando se amam, os rouxinóis se dão ao direito de desafinar. Quando se amam, as amoreiras se mancham. Quando se amam, as cobras se engolem. Quando se amam, os tatus se entocam. Quando se amam, as nuvens se desmancham. Quando se amam, os vagalumes entram em curto.


Comentar Seja o primeiro a comentar

24/01/2015 - Eu te dei me dando

Eu te dei tanto de mim que até acreditei que esse amor não tinha fim. Eu te dei tantas horas minhas fazendo de você princesa, condessa, rainha. Eu te dei tudo o que eu tinha, mas advinha? Eu te dei o meu lado gourmet para você comer até enjoar. Eu te dei minhas certezas e você fez proezas com as quebras de expectativa. Eu te dei o meu interior para você colocar suas cercas. Eu te dei minhas confissões para serem mantidas no seu segredo. Eu te dei porta-retratos falados que não têm razão quando silenciados.


Comentar Seja o primeiro a comentar

23/01/2015 - Quantas de quantos

Quantas estradas existem sobre seus pés? Quantas muralhas você desistiu de vencer? Quantos caminhos você mudou? Quantas vezes você se arrependeu de não seguir seu coração? Quantas promessas você não cumpriu a si mesmo? Quantos amores você deixou escapulir por medo? Quantas saudades você não consegue disfarçar? Quanto do que já foi dado como perdido ainda segue contigo? Quantas vezes você pensou fazer diferente e deixou pra lá? Quantos destinos diferentes deram no mesmo lugar? Quantas possibilidades se tornaram impossíveis sem maiores explicações? Quantos ciclos você não fechou? Quantas palavras você aboliu? Quantas vezes você olhou no espelho e mentiu? Quantas vidas você desperdiçou? Quantos nós serão nós para sempre? Quantos ecos do passado são mais fortes do que a sua voz? Quantos desentendimentos ainda não se entenderam dentro de você? Quanto de você ficou de lado?


Comentar Seja o primeiro a comentar

22/01/2015 - História dividida

Chora, chora por tudo o que valeu à pena. Chora, chora por ser assim, carne de poema. Chora, chora por amar demais. Chora, chora pelo aparecimento de um “mas”. Chora, chora pelos erros que não teve como consertar. Chora, chora pelos obstáculos que não teve forças para superar. Chora, chora por ter se dedicado mais e mais não sendo o suficiente. Chora, chora sua face mais ausente. Chora, chora a metade que se perdeu. Chora, chora por tudo que feneceu. Chora, chora pelas horas mais lindas das nossas vidas. Chora, chora pela criação da despedida. Chora, chora pela filha que não teve tempo de nascer. Chora, chora porque amor grande, amor poeta, tem que sofrer. Chora, chora o vazio que passa por nós na violência de um rio. Chora, chora o frio da falta do corpo alheio. Chora, chora me lembrando em seu seio. Chora, chora pelos cacos que ficaram. Chora, chora pelas bênçãos que nos devotaram. Chora, chora todo carinho derramado. Chora, chora e declara luto ao passado. Chora, chora não querendo ser mais de ninguém. Chora, chora sem saber se ainda é alguém. Chora, chora essa história dividida. Chora, chora sem querer saber de sono ou de comida. Chora, chora pelo fim do encanto. Chora, chora nas barras de qualquer manto. Chora, chora queimando como vela. Chora, chora sem coragem de olhar se há futuro pela janela. Chora, chora o apocalipse de um tempo. Chora, chora pelo eclipse que houve em nosso sentimento. Chora, chora a saudade de um perfume. Chora, chora sem entender o próprio ciúme. Chora, chora sobre fotografias. Chora, chora pelas rasgadas fantasias. Chora, chora por tudo o que fez sem ou por querer. Chora, chora porque ainda há de muito doer. Chora, chora pelos tempos que não voltam. Chora, chora pelos arrependimentos que não soltam. Chora, chora pela falta de estrada para continuar. Chora, chora porque o amor mais dia menos dia tem que chorar. Chora, chora ainda sentindo seu corpo no amado e desejado corpo. Chora, chora em meio ao torpor. Chora, chora sem guardar rancor de si ou de quem quer que seja. Chora, chora por mais que não mais se veja. Chora pelo destino interrompido. Chora um choro que ora é grito ora é silêncio ora é gemido. Chora, chora em soluços até ficar sem ar. Chora, chora como se a alma, a própria alma, fosse derramar. Chora, chora pelo que se quebrou, pelo que secou, pelo que ficou, pelo que o tempo carregou, pelo que um erro que custou. Chora, chora pelo conto de fadas que escapou das suas mãos. Chora, chora por perdão. Chora, chora tentando se perdoar. Chora, chora porque o mundo não pode parar. Chora, chora esperando quem não vai voltar. Chora, chora tentando entender o que não entendimento. Chora, chora pelo labirinto do tormento. Chora, chora sangue, suor e coração. Chora, chora diante desse muro gigante e alucinante chamado não. Chora, chora de dentro pra fora, de fora pra dentro, dos lados, de cima abaixo, de baixo pra cima. Chora, chora a mudança do clima. Chora, chora pelo que ficou para sempre preso no futuro. Chora, chora o não haver mais um lugar seguro. Chora, chora e pensa e faz e repensa uma besteira. Chora, chora a impossibilidade de uma história inteira. Chora, chora nas garras e nos dentes da solidão. Chora, chora num choro-canção fazendo da dor o seu refrão. Chora, chora de se jogar ao deleite. Chora, chora pelo derramado leite. Chora, chora por descobrir um ponto final no infinito. Chora, chora um choro contrito. Chora, chora fazendo do que não foi o seu muro de lamentação. Chora, chora pelo nascimento da morte no leito da divisão. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

21/01/2015 - Se fosse diferente

Se as pedras não fossem pedras seriam nuvens. Se o tempo se contaminasse morreria de ferrugem. Se os homens fossem rios não andariam em círculos. Se a morte não fosse cega veria que a dor é mais velha que ela. Se as luzes da noite fossem sensatas se apagariam para o espetáculo da lua. Se o rei fosse nobre abdicaria do próprio trono. Se as árvores falassem, haveria bem mais verde de pé. Se Deus se apaixonasse o mundo já teria sido ofertado. Se o coração fosse nuclear estaríamos todos mortos, porque explosões acontecem a todo instante. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

20/01/2015 - De volta pro corpo

Com frio, mas muito frio a ponto de tremer, encolhi-me num canto debaixo de uma espécie de cobertura acinzentada esperando por ajuda. Não me lembrava da razão daquele frio, daquele cansaço, daquela falta de equilíbrio. Eu não estava bem, ficando à mercê de calafrios e enorme dificuldade de parar em pé. Parecia ter febre. A dor podia se assemelhar, mas era diferente do que qualquer dor física. Cheguei até aquele local de atendimento e esperei quieto a minha vez, pois havia muitos antes de mim. Quando uma moça de cabelos castanhos escuros ondulados com rosto de menina foi falar com a velha senhora eu me aproximei um pouco mais, pois em seguida seria a minha vez. A moça desandou a falar, a falar, a falar buscando conforto naquela consulta que parecia não ter mais fim. Tinha muito a contar enquanto a velha senhora só ouvia. Com aquele frio profundo, procurei pelo sol, indo para o campo esquerdo de onde se dava aquele atendimento. Foi então que a senhora me olhou e pediu para eu não ir embora. Disse então que queria apenas um pouco de sol e ela me pediu para sentar na ponta de um imenso banco de concreto, sem encosto, onde um pouco mais a direita ela conversava com aquela moça. Eu me sentei bem na ponta. Imediatamente à frente de onde estava havia um espaço vazio e mais à direita a cobertura onde esperavam a sua hora. Nas costas daquele banco, um buraco que eu não conseguia ver o fundo. Fiquei ali me alimentando daquela luz bendita que era diferente de qualquer sol já provado. Os raios solares eram mais amenos. Não demorou muito para que a menina se despedisse e tomasse seu caminho, embora não conseguisse ver o rumo tomado por aquelas pessoas pós-atendimento. Era como se desaparecessem. Foi então que chegou a minha hora. Eu me levantei, ainda bastante fraco, como que ferido pelas sombras, e fui ter com aquela senhora. Em sua frente, baixei a cabeça com as duas mãos unidas em meu peito, em sinal de reverência. Ela sorriu e tudo se fez luz. Ela vestia rosa, uma espécie de túnica rosa viva, tinha cabelos longos e negros, um rosto de várias idades. Ao seu lado direito, sobre o banco, duas muletas. Ela se revelou aos meus olhos como uma figura frágil, mas de tamanha força e vitalidade. Com palavras simples falou que faria uma coisa que ia me melhorar, como melhorou aquela outra moça que chegara primeiro. Colocou uma mão nas minhas costas e fui meio que sugado para trás. Ela me amparou com a outra mão também e a impressão era de que os dois cairiam de costas naquela espécie de precipício. Era como se ela tirasse algo de mim. Senti uma energia surpreendente e ao mesmo tempo em que me senti puxado me peguei adentrando numa mistura de tempo e espaço. Apaguei e acordei suado em minha cama ainda com a lembrança nítida daquela senhora que havia me feito voltar até meu corpo após restabelecer minhas forças.


Comentar Seja o primeiro a comentar

Primeira   Anterior   64  65  66  67  68   Seguinte   Ultima