Daniel Campos

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30/01/2015 - Lágrimas de conhaque

Ela chegou depositando seu sorriso contido no primeiro copo que viu pela frente. Sua alma fria, nada sorridente, foi tentando se aquecer com conhaque barato. Tinha dinheiro para champanhes, e uísques e drinques mirabolantes, mas carecia daquela bebida pobre, pois já estava farta de ter coração nobre. Ajudava, atendia, auxiliava, fazia, e nada recebia do que bem pretendia. Então, resolveu dar um basta em tanta nobreza e descer da beleza para um copo sujo. Aquele ambiente que cheirava a cigarro e sexo, fazia a transpirar por debaixo de um vestido que custava pelo menos dois anos do salário de quem depositava o conhaque turvo em seu copo. E aquilo mexia com ela. Sentia-se igual a qualquer um. Não precisava de regras de etiqueta, de segurar a línguas nas horas de desequilíbrio, de conter o choro para não borrar a maquiagem. Ali não vali a regra dos títulos, mas das dores. E dores não são maiores ou menores, são dores. De que adiantava seus diplomas, seus cursos no estrangeiro, suas horas deitada em um divã, se nada nem ninguém poderia dar jeito naquilo que chamavam de amor. Estava frustrada. Desiludida. Encurralada. Não podia sequer contar com as amigas que não entendiam ela se apaixonar por aquele que podia ser tudo menos seu namorado, marido, amante. Seu pai não queria aquilo para ela. Seu ex-noivo, ainda inconformado com a perda, não entendia os rumos que seu coração tomou. Sua mãe fazia até novena para ela se desencantar. Mas não tinha jeito. Seu coração, como um bicho, gostava daquele que não valia um cuspe. Ela própria tinha desistido de se entender. Embora relutasse, quando abria os olhos e dava conta de si, estava nos braços daquele homem que a tratava como um pedaço de carne. Não havia sentimento, não havia promessa, não havia compromisso, somente o prazer pelo prazer. Seu corpo dominava sua cabeça e o coração, como que enlouquecido, entregava-se ao absurdo. Ela não conseguia lhe botar freio. Ela tinha vocação para ser rica, feliz, bem resolvida, mas, de repente, seu destino era ser mais uma, talvez a mais baixa das mulheres, aquela que se deixa usar e ainda sente prazer nisso. Estava sendo contra seus valores, princípios e demais aprendizados. Mas de que importava a ética e a moral quando o assunto era satisfazer a si própria? Ao mesmo tempo em que ela tinha nojo de si ela sentia arrepios e se contorcia toda sendo assim. Ela queria mais mesmo chorando lágrimas de conhaque, tão doces quão ardidas.


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