Daniel Campos

Prosas

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18/02/2015 - Uma capa, um legado

Quando criança, já quis ganhar a camisa de um jogador de futebol, as luvas de um piloto de Fórmula-1, o piano de um cantor-compositor, o caderno de anotações de um escritor... Enfim, algo que me transferisse um pouco do encanto dos meus ídolos... Com o passar dos anos, aprendi que ídolos não existem, pois ninguém é melhor do que ninguém... O que há são, na verdade, exemplos de vida, de conduta, de amor... Pessoas nem sempre famosas e distantes do nosso universo que amamos, admiramos e com as quais aprendemos a ser melhores do que fomos ontem. ...
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17/02/2015 - Portela campeã

Respeitosamente, o mangueirense aqui abaixa o seu chapéu reverenciando a águia redentora ao tempo em que vai declarando Portela campeã do carnaval. Salve a majestade do samba, a maior das vencedoras, a carioca da gema, numa aquarela azul e branco, direto de Madureira, Portela, Portela, Portela... Do baluarte Paulinho da Viola ao verde-rosa Tom Jobim, o Rio passa pela janela da passarela foliã como arte viva, altiva Portela, da nobreza à favela, cidade-samba tão bela, Portela do ontem e do amanhã é hoje a minha campeã. A águia portelense abraça o Rio de Janeiro com asas pela folia de fevereiro tomando de conta do céu inteiro. Num tempero surreal, vem sem igual, arrancando gritos da arquibancada como gol no Maracanã, balançando as palmeiras do Jardim Botânico num amor oceânico, tremulando repiques terças de uma bateria que bota pra rodar a fantasia das baianas atiçando a chama da escola de samba na veia que volteia e rebola no balanço de quem ama. Os malandros-marujos de Oswaldo Cruz içam as velas, azul e branco na tela, da comissão de frente à velha guarda é Portela passando aplaudida, destemida e amada como num conto de fada.


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16/02/2015 - Fez-se a Mangueira

Ao contrário do tradicional azul, o céu amanheceu esverdeado como se uma floresta tivesse sido plantada de ponta cabeça na órbita da Terra. Um verde espesso esparramado em várias tonalidades. Talvez, por algum rearranjo celestial, o céu passou a ser regido por Oxóssi. As crianças achavam que as fadas teriam trocado a cor das nuvens. Os cientistas falavam na mutação de em partículas resultantes da poluição. Porém, o ar não cheirava a fumaça, tampouco a outro odor desagradável. Havia um perfume de mato, de folha verde, de mangueira pelo horizonte. Era só abrir a janela e aquela brisa carregada de pé de manga invadia a casa. Lembrava a infância, o tempo de se deitar debaixo da sombra fresca de uma mangueira e ver o dia brilhar por entre aquelas folhas verdes cuja sombra não há melhor. Porém, havia mais um diferencial céu, pois o sol surgiu rosa. Nada de sol amarelo, laranja, vermelho, era um sol rosa. Continua brilhando forte, intensamente, a ponto de dor as vistas que o buscavam com espanto diante do seu rosa. As meninas se encantavam. Os homens deixavam-se seduzir por aquele fenômeno. Os astrônomos gaguejavam. Os astrólogos afirmavam que era o início do tempo do amor. Os compositores versavam a fusão do sol com a lua. Sim, era grande a expectativa para ver a cor que a lua raiaria quando descesse a noite. Os machões estavam indignados com aquele sol rosa, mas eram poucos, pois todos, exceto os que estavam com medo do fim do mundo, brindavam aquela nova paleta de cores. O fato é que aquele céu tinha um balançado especial, uma alegria sincopada, uma folia generalizada, uma sensação de que o impossível era possível. Muitos casais se apaixonaram e muitos outros se reapaixonaram sob aquele céu. As mangueiras, em reflexo daquela nova conjuntura, floriram fora de época, deram frutos que num passe de mágica amadureceram fazendo a felicidade dos amantes do fruto que se lambuzavam daquela licença poética. No céu verde-rosa, por obra do carnaval, a Mangueira brotou os corações mais secos.


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15/02/2015 - Bucolismo roxo

As quaresmeiras já desnudam suas flores arroxeando o dia numa litúrgica poesia. As quaresmeiras com suas pétalas macias e folhas ásperas vão dando um tom de nostalgia pelos ares que as circundam. As quaresmeiras transformam o vento alegre, aquele de espírito jocoso, em movimento choroso. As quaresmeiras são fogueiras de dor e delicadeza que se atrevem a desafiar os sorrisos e as faltas de juízo. As quaresmeiras retorcidas pelos jardins parecem velhas, mais velhas que o tempo, ensinando que no lido com a tristeza a gente ainda é aprendiz. As quaresmeiras dão as flores da penitência algo que colore em tons pesados até mesmo a maior inocência. As quaresmeiras são árvores do cortejo diário que resolvem em algumas semanas florescer a dor do mundo que acumulam ao longo do ano. As quaresmeiras choram lilases, violetas, roxas lágrimas em florescência. As quaresmeiras cantam baixinho, gemem e murmuram dias arroxeados e sem perdão. As quaresmeiras são bucólicas chegando a dar cólicas no coração, apaixonado ou não...


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14/02/2015 - É o Caboclo Tupinambá

Quem vem lá, quem vem lá, é o Caboclo Tupinambá. Chega com penas coloridas, vermelhas, amarelas e brancas, num imenso e vivo cocar. Chega impondo respeito, com pouca conversa, e fazendo grande emanação de energia. Chega batendo no peito e bradando seja noite seja dia. É índio, é mata, é cachoeira, é céu, é fé, é caboclo que ecoa como pássaro em tronco oco.

Quem vem lá, quem vem lá, é o Caboclo Tupinambá. Chega vestido de penas, com colares de pedras e dentes. Vem numa luz azulada por vezes esverdeada que limpa tudo de ruim ao seu redor. Vem com desenhos vermelhos e pretos que guardam segredos de seu povo. Vem pra trabalhar pela cura desobsessiva, fazendo limpeza pesada, pondo fim à briga, intriga, figa......
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13/02/2015 - Pai João das Matas apareceu

Com bata e paletó branco, Pai João das Matas apareceu. Como amanhecer nas matas frondosas, calmo e intenso, Pai João das Matas apareceu. Com três colares coloridos de contas miudinhas, Pai João das Matas apareceu. Sobre a bata com três colares intercalando lilás e branco, vermelho e preto, laranja e azul, Pai João das Matas apareceu. Todo alinhado, de um modo impecável, Pai João das Matas apareceu. Pronto para caridade, Pai João das Matas apareceu. De chapéu de palhinha, de bordas desfiadas e fita iluminada, Pai João das Matas apareceu. Com olhares amadeirados, que nos olham por todos os lados, Pai João das Matas apareceu. De cabelos embranquecidos pelo tempo, Pai João das Matas apareceu. Com seu jeito sério e afável, Pai João das Matas apareceu. Irradiando cura, Pai João das Matas apareceu. Numa simplicidade de se admirar, Pai João das Matas apareceu. Como pai, avô, senhor, irmão, mentor, amigo, Pai João das Matas apareceu. Com porte nobre, na mais pura nobreza de coração, Pai João das Matas apareceu. Sem pedir nada em troca, Pai João das Matas apareceu. Como que vindo de tempos distantes, mas tão atuais, Pai João das Matas apareceu. Numa roupagem de preto-velho, Pai João das Matas apareceu. Numa presença forte, Pai João das Matas apareceu. Do alto de sua evolução, Pai João das Matas apareceu. Emanando amor, humildade e tolerância, Pai João das Matas apareceu. Com vontade de prosear, Pai João das Matas apareceu. Pra fazer chorar de emoção e alegria, Pai João das Matas apareceu. Numa figura de respeito e carinho, Pai João das Matas apareceu. Negro sábio, Pai João das Matas apareceu. Com bigode e barba de algodão, Pai João das Matas apareceu. Envolto de muita luz, projetado à frente de um sol simétrico, Pai João das Matas apareceu. Em um retrato de amor, Pai João das Matas apareceu. Como este menino aqui sempre sonhou, Pai João das Matas apareceu.


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12/02/2015 - Boataria

Há rumores por toda parte se estendendo da costa do Pacífico ao planeta Marte sobre um possível romance entre o poeta andante e a princesa do reino distante. Há quem pergunte diretamente e quem sonde, rodeie, imagine... O fato é que os olhares tanto para o homem-poesia quanto para a menina dos olhos estrelados nunca mais foram os mesmos. Há sempre um leque de interrogações, palavras invasivas e muitos flashes. Dizem que os versos são dedicados ao rosto, ao corpo, ao jeito dela. Ora essa, o poeta não pode mais escrever sobre amor, saudade ou desejo que tudo é imediatamente dirigido à princesa que, segundo boatos, passaria o dia lendo e relendo tais textos. Falam até que o vassalo das palavras já deitou na cama real. Também contam que a princesa havia posado completamente nua para um poema. Entre tanto disse me disse há quem postule que já moram juntos, dividem o espelho do banheiro e adaptam um quarto do castelo para receber o bebê de sangue azulado. Antes diziam que o poeta era alado e que a princesa tinha um lado malvado. Habituados aos julgamentos e às fofocas, o poeta segue com suas poesias e a princesa com suas princesices...


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11/02/2015 - Confinado

O canto dos pássaros deu lugar ao ronco dos motores e aos gritos das buzinas. O cheiro de alecrim, manjericão, erva-doce desapareceu em meio ao fedor do asfalto. Antes as vistas se enchiam de verde em diferentes tonalidades e agora são preenchidas com tons de cinza. O vento é abafado, encanado, silencioso. Sim, antes o vento dizia e trazia tanto. Hoje é um vento vazio. As petúnias e samambaias dependuradas pela varanda cederam espaço para as letras do outdoor, que se dependuram ostensivamente pela paisagem. Os pés que antes pisavam pela grama hoje precisam andar calçados o tempo todo. A chuva que temperava os cheiros verdes não pode ser a mesma que escorre insossa pelas ruas. A lua que se punha em meu colo vai-se flutua distante. As nuvens que se esparramavam preguiçosas são agora partidas pelos prédios. O que antes era casa em todos os sentidos se transformou em confinamento.


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10/02/2015 - Lua vermelha

São Jorge que baixe suas armas e não tenha ciúme porque eu vou pra lua eu vou. Eu vou pra lua vermelha que mais parece um vulcão suspenso no espaço. Eu vou pra lua como abelha vai pra lua de mel. São Jorge acenda o farol pra me guiar. Eu vou para lua em seu período fértil, corada e mansa, pronta para se dar por inteira. Eu vou para lua vermelha pois meu desejo já é bem maior que uma centelha. São Jorge abaixe a lança, por favor, perdoa o meu amor lunático. Já comprei até um foguete, um ramalhete e escrevi o bilhete para me declarar. Ninguém vai me segurar, eu vou pra lua, quando o sol baixar.


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09/02/2015 - Tempo de tempo

Nunca tenho tempo de ter tempo. Tudo sempre passa rápido demais. Tudo sempre antes de vir já fica para trás. Nunca tenho tempo de sentir os sabores a fundo, de admirar as cores do mundo, de me atentar ao movimento da vida. Sempre faltam beijos, abraços, eu te amos na minha conta. Sempre tenho a sensação de que podia ter tido mais, independentemente do que quer que seja, podia ter sido mais. Há uma sensação de incompletude em razão da pressa dos ponteiros que giram cada vez mais velozes. Há um envelhecimento precoce generalizado sobre tudo e todos. A vida passa ligeira sem que percebamos. Quantos textos se perdem antes de serem escritos? Quantos amores se vão sem ao menos ser vividos por inteiro? Quantos filmes, livros, passeios ficam pelo caminho, distantes de nós, que rumamos sempre na mesma falta de tempo? Quanto tempo nós perdemos pensando no dia em que teremos tempo? O tempo não para, não espera, não volta e demoramos a entender isso. Nós custamos a entender que o tempo não cede à chantagem, não quebra suas regras, não facilita em nada nossa vida. Não que seja cruel, mas o tempo é razão absoluta, de uma seriedade singular. O tempo não nos trai nunca, somos nós que nos traímos e culpamos o tempo.


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