18/02/2015 - Uma capa, um legado
Quando criança, já quis ganhar a camisa de um jogador de futebol, as luvas de um piloto de Fórmula-1, o piano de um cantor-compositor, o caderno de anotações de um escritor... Enfim, algo que me transferisse um pouco do encanto dos meus ídolos... Com o passar dos anos, aprendi que ídolos não existem, pois ninguém é melhor do que ninguém... O que há são, na verdade, exemplos de vida, de conduta, de amor... Pessoas nem sempre famosas e distantes do nosso universo que amamos, admiramos e com as quais aprendemos a ser melhores do que fomos ontem.
Aprendi que a magia de Ayrton Senna não estava em seu capacete, mas na forma como ele encarava a linha tênue entre a vida e a morte a cada curva. Vi que a fonte de encantaria que nutro por Tom Jobim não está em seu piano, tampouco em suas mãos, mas em seu espírito de homem pássaro. O modo de eu enxergar as coisas se transformou e, um a um, meus ídolos desceram dos pedestais que eu havia criado em minha cabeça transformando-se em pessoas de carne e alma com muito a me ensinar. E eu, de coração aberto, estou sempre disposto a aprender.
Minha visão mudou, mas não perdi a capacidade de me encantar com as pessoas sejam elas famosas ou anônimas. Há alguns poucos anos, reverenciei um médium com o mesmo silêncio, admiração e respeito com os quais já reverenciara Chico Xavier, Mãe Stella de Oxóssi e Tia Neiva. Uma pessoa iluminada que num passe de mágica, por força do destino, tornou-se meu amigo. Para mim, um dos maiores, no sentido de nobreza, de verdade, de compromisso, médiuns do Vale do Amanhecer, doutrina que assumi como minha em muito graças a ele.
José Fernandes, conhecido carinhosamente como Mestre Zezito, tem me ensinado lições importantes que contribuem, juntamente com o que tenho aprendido com meus mentores, para transformar e dar sentido a minha existência. O homem que foi conduzido pelas mãos de Tia Neiva hoje me conduz. E ele não para me de surpreender. Depois de anunciar aos quatro ventos que eu sou seu sucessor e me adotar em sua família, acaba de me dar um presente de valor sentimental e espiritual incalculável.
Com emoção dos dois lados, com direito a olhos marejados e falta de palavras, Zezito me passou uma capa que guardava a mais de trinta anos como uma relíquia. A quantidade de forças contida naquela indumentária verde forrada de tecido lilás é inexplicável. Capa com a qual aquele jaguar ganhou diversas consagrações e ensinamentos. Capa que recebeu das mãos de Tia Neiva e com a qual por muitos anos trabalhou sob seu olhar de Mãe Clarividente, emanando e curando.
Após me revelar que há dezesseis anos o seu mentor espiritual, Pai Joaquim de Aruanda, deu-lhe um recado que iria demorar muito tempo, mas que chegaria até ele um missionário de Seta Branca que ele amaria como filho, em mais um gesto grandioso e marcante, passando-me a sua capa como quem me passa sua armadura, sua bateria, seu legado - um legado de amor, humildade e tolerância, deu-me a certeza de que eu não ganhei um ídolo, mas um novo pai.
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