16/02/2015 - Fez-se a Mangueira
Ao contrário do tradicional azul, o céu amanheceu esverdeado como se uma floresta tivesse sido plantada de ponta cabeça na órbita da Terra. Um verde espesso esparramado em várias tonalidades. Talvez, por algum rearranjo celestial, o céu passou a ser regido por Oxóssi. As crianças achavam que as fadas teriam trocado a cor das nuvens. Os cientistas falavam na mutação de em partículas resultantes da poluição. Porém, o ar não cheirava a fumaça, tampouco a outro odor desagradável. Havia um perfume de mato, de folha verde, de mangueira pelo horizonte. Era só abrir a janela e aquela brisa carregada de pé de manga invadia a casa. Lembrava a infância, o tempo de se deitar debaixo da sombra fresca de uma mangueira e ver o dia brilhar por entre aquelas folhas verdes cuja sombra não há melhor. Porém, havia mais um diferencial céu, pois o sol surgiu rosa. Nada de sol amarelo, laranja, vermelho, era um sol rosa. Continua brilhando forte, intensamente, a ponto de dor as vistas que o buscavam com espanto diante do seu rosa. As meninas se encantavam. Os homens deixavam-se seduzir por aquele fenômeno. Os astrônomos gaguejavam. Os astrólogos afirmavam que era o início do tempo do amor. Os compositores versavam a fusão do sol com a lua. Sim, era grande a expectativa para ver a cor que a lua raiaria quando descesse a noite. Os machões estavam indignados com aquele sol rosa, mas eram poucos, pois todos, exceto os que estavam com medo do fim do mundo, brindavam aquela nova paleta de cores. O fato é que aquele céu tinha um balançado especial, uma alegria sincopada, uma folia generalizada, uma sensação de que o impossível era possível. Muitos casais se apaixonaram e muitos outros se reapaixonaram sob aquele céu. As mangueiras, em reflexo daquela nova conjuntura, floriram fora de época, deram frutos que num passe de mágica amadureceram fazendo a felicidade dos amantes do fruto que se lambuzavam daquela licença poética. No céu verde-rosa, por obra do carnaval, a Mangueira brotou os corações mais secos.
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