Daniel Campos

Prosas

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10/09/2015 - Com a chuva

Como se eu fosse árvore verdejo de dentro pra fora com a chuva. Como se eu fosse rio eu transbordo com a chuva. Como se eu fosse terra eu encharco e broto as sementes de mim com a chuva. Como se eu fosse pássaro eu abro asas e o peito cantando com a chuva. Como se eu fosse pedra eu ganho vida com a chuva. Como se eu fosse mina eu verto e corro com a chuva. Como se eu fosse criança eu brinco na enxurrada com a chuva. Como se eu fosse mato eu solto perfume com a chuva. Como se eu fosse bicho eu banho e bebo com a chuva. Como se eu fosse lavrador eu olho aos céus agradecido pela chuva. Como se eu fosse fogo eu me assossego com a chuva. Como se eu fosse barco de papel eu vou descendo a rua com a chuva sob os olhos brilhosos de quem me fez.


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09/09/2015 - O amor de Glória e Tarcísio

Glória Menezes e Tarcísio Meira são ícones, lendas vivas, que transcendem o nosso dia a dia tanto como artistas quanto como namorados. Com oitenta anos de idade, mais de cinquenta de profissão e de carreira, o casal enche os olhos de qualquer um que se rende à arte do sentimento. É bonito de se ver. Os dois juntos fazem de qualquer canto em que estejam um palco de afeto, de cumplicidade, de querer. De se querer além do tempo. Ao longo dessa estrada conjunta, a beleza mudou, mas os dois ainda se olham com o mesmo encanto, como se descobrissem a cada minuto um novo motivo para se reapaixonar um pelo outro. Assim como um espetáculo teatral em que a cada nova apresentação há um detalhe, uma emoção, um quê diferente, o relacionamento dos dois vai se aprimorando e ganhando novos contornos a cada novo dia. Os cuidados, as trocas de carinho, as admirações cruzadas arrancam aplausos dos corações alheios. Não há posse, mas compartilhamento, como se fossem continuação um do outro. Enquanto muitos andam por aí querendo um casamento de celebridade, um amor pop-star, uma relação iluminada por holofotes, Tarcísio e Glória vivem um ato sentimental baseado na simplicidade e na espontaneidade. Uma aula não de teatro, mas de vida a dois. ...
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08/09/2015 - Coração refugiado

Quando eu respiro dói porque não é fácil colocar para dentro esse ar de guerra. Há um mundo de sentimentos, de tormentos, de violências tantas jogado aos ventos. O grito de dor, o choro de fome, o nó na garganta, os sonhos abortados, os amores partidos, as perdas pra sempre, as palavras espinhadas... Tudo fica pelo ar se acumulando como nuvens invisíveis carregadas de negatividade. E ao respirar coloco para dentro de mim todo esse tempo ruim e sofro, sentimental que sou. Hoje meu coração refugiado está.


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07/09/2015 - Eu árvore

Há muito tempo eu fui nasci, cresci e morri árvore. Eu tive raízes que ainda sinto me levando para o fundo da terra em busca de águas e minérios. Era formado por galhos, por tantos galhos, que me fazem achar dois braços pouco para tudo o que eu preciso abraçar. Não é à toa que de vez em quando um pássaro pousa em mim. Já fui desejado. Quiseram a minha sombra, os meus frutos maduros, as minhas sementes, o meu lenho. Quantos quiseram me derrubar. Hoje choro com minhas irmãs árvores sendo lambidas pelo fogo ou sangradas pelos machados. Quantas vezes eu me corto e meu sangue é seiva. Não estranho de me procurarem para fazer seus ninhos. Por todo o meu ser flui a energia das árvores, dos espíritos das árvores. Muitos riem e querem me dar camisas de força por me encontrar conversando com jacarandás, mangueiras, amoreiras, ipês, jabuticabeiras, jequitibás... Tolos! Não percebem que as árvores dançam, falam, cantam, mudam de lugar sob os narizes incrédulos. O mundo é das árvores que nos dão de comer, de beber, de vestir, de escrever... Por conta desse meu passado sou tão apegado com as folhas. Enquanto muitos só leem páginas de jornais, revistas ou livros eu sigo lendo as folhas das árvores e assim releio a minha história. Hoje eu ainda conto as prosas, os romances, os versos que o vento, no passado, deixou em minha cabeça, ou melhor, em minha copa.


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06/09/2015 - Meu pé de mamão

Nasceu um pé de mamão no meu quintal. Cadê minha mãe pra fazer doce dele ainda verde? Cadê a viola para eu compor uma moda na sombra do mamoeiro? Sai pra lá sabiá pra você não ficar preso no visgo do leite do mamão. A molecada sobe no pé pra fazer a folha de canudo pras bolinhas de sabão. Tem passarinho bicando o mamão amarelinho pra desespero da moça que queria comê-lo no café da manhã de amanhã. Até o vizinho deu pra esticar o olho pro lado do mamoeiro. Tem gente gritando: olha o ladrão, pega o ladrão! Por precaução, amarrei meu vira-lata no pé de mamão. Deu chuva de vento, deu trovoada e o cachorro chorou, como choro de mamão, e derrubou o pé acabando de uma vez com o motivo da confusão.


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05/09/2015 - Sem vendas

Hoje acordei com um vazio dentro e fora e fora e dentro de mim como se o tudo fosse nada e as faltas fossem deveras notadas. Nada se pôs a encaixar. Ninguém parecia amar como eu amei. E tudo ficava fora do lugar. O meu mundo havia sucumbido a um desses buracos negros espaciais que levam o que temos sem deixar nada para trás. Por todos os lados eu via a dona do meu coração, mas não conseguia tocá-la como se ela fosse poeira, fruta madura da árvore chamada ilusão. Hoje acordei com um vazio como rio sem água, como estrela sem luz, como alicate sem fio, como porto sem navio, como cruz sem Jesus. E eu tentei fechar os olhos e dizer para mim mesmo que estava tudo bem. Mas o amor, quando é amor, vendas não tem. ...
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04/09/2015 - Pisadas cegas

Meus pés me levam por estradas que eu não sei, mas que hei, por amor, de seguir e me descobrir a cada passo entregando-me ao tempo com a coragem do aço. Piso na falta de chão, bailando com nuvens sob os olhos da Lua de João, ou seria de Jorge o matador de dragão? Meus pés tateiam cada sentimento que o vento traz ao meu caminho e eu me espinho porque andar e não sangrar é igual a amar e não perdoar. E eu me alinho com as rosas que desabrocham pelo estradão como as prosas que adoçam, como açúcar mascavo, como mel de jataí, como minha boca a sorrir no seu peito, como torrão de coração. Meus pés - cavaleiros do infinito - vão volteando pelos seus cabelos e voltam cada vez que escutam ou enxergam seus apelos. As passadas vão vivendo o destino de procurar a amada tal e qual o menino procura o doce pelo mar de sal. Meus pés sabem as suas direções, porém se jogam aos labirintos das suas intenções e assim caminham cegos pelos pregos e ilusões de um amor sem fim. ...
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03/09/2015 - Por que isso?

Se é a minha metade por que não continua tentando se encaixar em mim? Se é a minha princesa por que essa insistência em negar a coroa e fugir do meu reino? Se é parte de mim por que se separar e me deixar incompleto? Se é para seguir o coração por que o pra sempre acaba agora? Se é a minha vida por que me mata? Se é a minha mulher por que me quer só no passado? Se é o meu futuro por que sai, apaga a luz e me deixa no escuro? Se é a minha estrela por que deixar órfão o meu céu? Se é o nó do meu laço por que arrebentar nossas amarras? Se é o meu sorriso por que salgar os meus lábios? Se você é a minha cor por que me desbotar assim? Se é a minha chama porque me oferece só as cinzas? Se é a minha superação por que se render ao obstáculo? Se é o meu amor por que amar-me como pedra, tão dura, tão fria, tão intransponível? Se é o meu anjo por que fazer todo esse inferno? Se é a minha flor por que me condenar ao inverno? Se é a minha música por que me atirar ao silêncio? Se é a minha lâmina pra cortar o medo por que me deixar cego? Se é a minha estrada por que me tirar o chão? Se é o meu tempero por que acabar com o gosto da minha vida? Se é minha pra sempre por que se tornar pra sempre a minha saudade?


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02/09/2015 - Nada além de nada

Não me diga, com ou sem palavras, que eu não sou nada além de um nada. Não invente histórias. Não coloque pedras onde não há. Não insista no que não tem discussão. Não manche as minhas memórias. Não me faça de boco. Não me cobre o que você não pode me dar. Não me trate como se eu não fosse nada além de um nada. Não coloque em mim culpas que eu não tenho. Não me distraia com seus beijos que para mim nunca forma distração. Não invente motivos para fazer o que seu coração quer. Não me venha com desculpas. Não me traia como seu eu não fosse nada além de um nada. Não tire tudo de mim. Não me faça doer mais do que já tenho doído. Não me tome pelo que não sou. Não me venha com caridade quando eu quero amor. Não ignore o que eu sinto. Não me jogue fora como seu eu fosse nada além de um nada. ...
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01/09/2015 - Beijos pelo caminho

Olha na minha boca a procura do nosso último beijo. Veja quanto tempo faz. Pensa no quanto de beijos já deixamos pra trás desde que nossa boca se encontrou pela primeira vez num mês que já nem me lembro mais. Mentira! Eu guardo em mim cada detalhe seja quanto ao lugar, ao horário, ao medo, à textura, ao sabor do nosso beijo primogênito. Tudo segue intacto em minha memória. Tudo é nítido demais para mim. E isso é bom porque revivo cada movimento. E isso é ruim porque me vejo cada vez mais beijos ficando ao longo do nosso caminho. E beijos longe da boca não sobrevivem pra sempre. São como balões que ficam ao vento por dias, mesmo que mais murchos, mas quando tocam o chão ou até mesmo a ponta de uma estrela estouram. ...
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