07/09/2015 - Eu árvore
Há muito tempo eu fui nasci, cresci e morri árvore. Eu tive raízes que ainda sinto me levando para o fundo da terra em busca de águas e minérios. Era formado por galhos, por tantos galhos, que me fazem achar dois braços pouco para tudo o que eu preciso abraçar. Não é à toa que de vez em quando um pássaro pousa em mim. Já fui desejado. Quiseram a minha sombra, os meus frutos maduros, as minhas sementes, o meu lenho. Quantos quiseram me derrubar. Hoje choro com minhas irmãs árvores sendo lambidas pelo fogo ou sangradas pelos machados. Quantas vezes eu me corto e meu sangue é seiva. Não estranho de me procurarem para fazer seus ninhos. Por todo o meu ser flui a energia das árvores, dos espíritos das árvores. Muitos riem e querem me dar camisas de força por me encontrar conversando com jacarandás, mangueiras, amoreiras, ipês, jabuticabeiras, jequitibás... Tolos! Não percebem que as árvores dançam, falam, cantam, mudam de lugar sob os narizes incrédulos. O mundo é das árvores que nos dão de comer, de beber, de vestir, de escrever... Por conta desse meu passado sou tão apegado com as folhas. Enquanto muitos só leem páginas de jornais, revistas ou livros eu sigo lendo as folhas das árvores e assim releio a minha história. Hoje eu ainda conto as prosas, os romances, os versos que o vento, no passado, deixou em minha cabeça, ou melhor, em minha copa.
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Comovente em tempos de tanta agressão à natureza
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