Daniel Campos

Prosas

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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 296 de 320.

13/02/2008 - Divórcio já!

Entre a decepção e o ódio, nasceu um estado de choque. Pudera, foram séculos de uma traição diária. Ela não se perdoava. Para piorar, seus olhos estavam marejados de um choro obeso. De repente, quis sair correndo, pular do 10º andar, comer açúcar de colheradas, quebrar a tela do computador onde soubera de tudo.

Ao contrário de poetizar a beleza, ela era adepta de sua padronização. Era mais uma vítima da ditadura da balança. Para alcançar as "medidas ideais", mergulhou fundo em uma vida dietética. Riscou a glicose de seu cardápio e se entregou de corpo e alma aos adoçantes. Em gotas ou em pó, eles foram seus mais fiéis companheiros. ...
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12/02/2008 - Balde de água fria

Há sempre um balde de água fria para uma empolgação acalorada. Essa frase ainda não entrou para a galeria de ditados populares, mas é forte candidata. Uma das mais recentes vítimas desta máxima foi o estardalhaço em torno do biocombustível. O próprio Lula abraçou essa fonte de energia como um trampolim para o Nobel da Paz, assim como Clinton.

Diante de discursos inflamáveis, o biodiesel virou mania nacional a ponto de o desmatamento amazônico ser "justificável". Depois de três anos de redução, a taxa de derrubadas disparou em 2007. A verdade é que os oportunistas estão usando o discurso de planeta saudável para encher a Amazônia de soja (usada para produzir o eco-combustível). ...
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11/02/2008 - De novo!

Sem fogos, sem champanhes, sem pular sete ondas, 2008, finalmente, começou. Depois das férias, dos recessos, do oba-oba, vivemos o início, na prática, de mais um ano. O país de uma gente que não desiste nunca, depois de confetes e serpentinas, começa a funcionar. 11 de fevereiro! O Brasil engatinha para entrar no ritmo de um ano que pede muita cautela por parte do horóscopo chinês e dos analistas norte-americanos.

O ano ainda espreguiça e já estourou um novo escândalo no governo Lula; caminha pelos tapetes verdes e azuis do Congresso uma nova CPI para apurar o uso indevido do dinheiro público; o mosquito da dengue está à solta; já há um grande número de vítimas das chuvas torrenciais e das estradas brasileiras; a Beija-Flor de Nilópolis (acusada de compra de votos em 2007) sagrou-se bicampeã da Sapucaí....
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10/02/2008 - Até amanhã

Oi. Olá. Bom dia. Boa tarde. Boa noite. Como vai você? Salve. Tudo bem? Quanto tempo?! Tchau. Prazer. Adeus. Boa sorte! Sucesso! Paz e bem. Axé. Quais as novas? Deus te abençoe. A gente se vê. Volte sempre. Até breve. Até já. Até logo. Até amanhã. (...) Não se assuste, leitor. A abertura deste texto é um pequeno exemplo de como o nosso cotidiano é formado por um emaranhado de saudações.

Diferente das pedras e das plantas, que são mais discretas, os animais se saúdam se lambendo, se cheirando, se esbarrando, emitindo sons. Que o diga nossos apertos de mão, beijos no rosto, abraços, tapinhas nas costas, inclinação da coluna. Definitivamente, o corpo fala. Mas o gestual fica para uma próxima conversa. Para não desviar a rota deste texto, vou me nortear por algumas das saudações que estiveram ou estão na ponta da língua da humanidade. O Avé Cesar, saudando o imperador romano Júlio César, e o Hi Hitler, referente ao líder nazista, são exemplos de saudações que marcaram uma época. Já o amém, dos cristãos, que significa assim seja, rompeu os limites dos templos e do tempo....
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A capital do átimo ou o átimo da capital

Num átimo, os alísios desviam as naus com 1.500 descobridores comandados por Cabral. Num átimo, línguas portuguesas e tupis se misturam num mesmo beijo. Num átimo, a Ilha de Vera Cruz se veste de Terra de Santa Cruz que se tranveste de Brasil numa quadrilha à moda de Drummond. Num átimo, JK se sente desafiado a erguer a capital federal em pleno cerrado. Num átimo, Niemayer rabisca Brasília. Num átimo, a capital ganha as asas de um Lucio sem acento. Num átimo, os fabianos, sinhás vitórias e baleias de Graciliano Ramos se encontram com os severinos de João Cabral. Num átimo, suor e esperança na mesma argamassa da Esplanada. Num átimo, o concreto se alastra. Num átimo, malandros de contrato, gravata e capital, que nunca se dão mal. Num átimo, os poetas simétricos não rimam árvores tortas com praças de pedra. Num átimo, as flores do cerrado são colhidas nos camelôs da Catedral, onde, num átimo, encena-se um balé de anjos suspensos e propensos a milagres. Num átimo, o general Costa e Silva revira pelo avesso as bacias mais democráticas do país. Num átimo, o irmão do Henfil parte num rabo de foguete. Num átimo, gregos e troianos deixam-se levar pelo romantismo brega chick das fontes da Torre. Num átimo, estrelas salpicam e incitam e suscitam olhos candangos. Num átimo, o lago Paranoá vira praia, mar, oceano e se deixa povoar por biquinis, varinhas de bambu, jet sky, velas e barcos de néon. Num átimo, turistas se perdem no labirinto das tesourinhas. Num átimo, centenas de pessoas invadem seis pistas de piche, com tênis, cachorros, bicicletas, patins, velotróis e celebram o domingo. Num átimo, sol e lua flertam-se, olhos nos olhos, no céu esgarçado de Brasília. Num átimo, saboreia-se o churrasquinho de gato ou o frango esfumaçado das entrequadras. Num átimo, Dom Bosco é uma profecia, uma visão, um santuário. Num átimo, os fossos dos palácios se transformam em espelhos d?água. Num átimo, a torre Eiffel se transforma na Torre de TV. Num átimo, os jardins suspensos da Babilônia ganham à assinatura de Burle Marx. Num átimo, as pirâmides do Antigo Egito se transformam num templo ecumênico. Num átimo, Garrincha vira um estádio de arquibancadas tortas. Num átimo, a Catedral se transforma num feixe de trigo. Num átimo, o Paraguai cabe numa feira. Num átimo, três arcos olímpicos abraçam a terceira ponte. Num átimo, para se chegar a Villa-Lobos é só descer as escadas do Teatro Nacional. Num átimo, a Praça dos Três Poderes ganha a simbologia e a hemorragia das pombas. Num átimo, zebrinhas vermelhas cortam a cidade. Num átimo, o vocabulário ganha verbetes cartesianos: SQS 400, QL 2, CLN 115, SCS, SDN, SHLN, MI 3, SRTVS, SIA. Num átimo, Brasília se torna fria lírica úmida distante de uma forma tão atimica. Num átimo, crianças brincam debaixo do bloco. Num átimo, amoras, mangas, acerolas, goiabas e tamarindos perfumam as quadras. Num átimo, o amarelo e o roxo dos ipês roubam à cena do branco de Niemayer. Num átimo, comemora-se a primeira chuva de setembro. Num átimo, invasões de luxo e de miséria. Num átimo, a estrutura do pós-modernismo se quebra nas quebras da Estrutural. Num átimo, Glauber Rocha, Pedro Almodóvar e Frederico Fellini caminham pela Academia de Tênis. Num átimo, foliões colecionam bocas na micarecandanga. Num átimo, a W3 se transforma em L2 num grande circular. Num átimo, corpos submergem e imergem em piscinas de água mineral. Num átimo, nasce uma lei e um fora-da-lei. Num átimo, o vermelho do pau-brasil mancha o chão do Areal e as curvas do Blue Tree Alvorada. Num átimo, Ceilândia e Cinelândia se confundem. Num átimo, cidades deixam de ser satélites para serem planetas. Num átimo, alguém ama e mata em um setor, seja comercial, bancário, de hotéis, de mansões, de autarquias, de diversões ou de indústrias gráficas. Num átimo, come-se tapioca, pastel, pato no tacupi, vatapá, bombom de cupuaçu e algodão-doce na mesma feira. Num átimo, o Brasil passa a ser a capital de Brasília. Num átimo, a solidão nos cerca. Num átimo, a equação distância/ tempo se materializa e tem-se a impressão de que os alísios do Paranoá trarão a esquadra de um novo Cabral. Num átimo, novos descobridores da capital do átimo ou do átimo da capital....
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A humanidade precisa ser humana

Filhos matam os pais motivados por paixões adolescentes. Crianças brincam de mocinho e bandido lado a lado com traficantes. Negros ainda são vistos sob os olhos do preconceito. Casebres se equilibram nos morros. Mulheres continuam vítimas de um país machista. Mãos se espalham e até competem nas calçadas em busca da sobrevivência. Infelizmente, essas não são cenas vistas apenas nas telas do cinema.

Enquanto os primeiros artigos da Constituição Brasileira de 1988 defendem a igualdade de direitos para os cidadãos e o exercício da liberdade, a realidade se manifesta de outra forma. A fome e a violência são duas provas de que os sonhos dos discursos se perdem numa vida sem maquiagem. Terras a se perder de vista e uma multidão de famintos. As pessoas que brincam juntas no carnaval são as mesmas que se matam na próxima esquina. Frente ao enorme contraste social, a vida dos discursos é esquecida. ...
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A lenda do sabiá

Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou água, passou flor, passou tábua de pescador... E o sorriso na boca do peixe namorador a correnteza levou. Levou pro lado de lá do mar de maré cheia. Ôo Oxumaré... Alumeia ô alumeia.

Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou barquinho de papel, passou ingá, passou carinho de Iemanjá... E a estrela caída do céu a correnteza levou. Levou pra terra dos botos, dos brotos e das sereias. Eê rainha do mar... Entonteia.

Sabiá cantou lá na beira do rio. Passou chuva de corrupio, passou vento de assobio... E quando menina marilene chegou, uma sirene ordenou e a correnteza parou. Chegou com cabelo dourado e olhos alaranjados que até o velho sabiá, gaguejou: Eê Oxum... Vê se me ajuda a voar....
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A maestrina das tardes

Enquanto as tardes londrinas são marcadas pelo tradicional chá das cinco, as brasileiras são saboreadas com doses diárias de Leda Nagle. E o melhor de tudo é que do lado de cá do Atlântico Sul não há aquele formalismo, aquela frieza, aquela monotonia britânica. O nome desse encontro vespertino já diz que não existe limite para voar ou mergulhar. Sem censura, os dedos de prosa rolam à vontade. Sob a regência de Leda - a maestrina das tardes - surgem típicas rodas de conversa. Em um momento, estamos em frente à televisão, em outro, em rodas de conversa na sala de visita, ao redor do fogão à lenha, na calçada em frente ao portão, no meio da Praça da Matriz, na esquina... Aquele bate-papo tem um quê de ebulição de metrópole e outro de trenzinho caipira que vai passando, vagão a vagão, pelas janelas das nossas retinas. ...
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A mulher que passa cantando coisas de amor

Quem não se lembra dos versos da música A Banda? Versos que falam de coisas simples. Feche os olhos e se deixe só por alguns instantes (como há tempos não se deixa). As bandinhas a desfilar pelas ruas da cidade, sem maiores pretensões ou contentamentos. A cidade se enfeitava para vê-la passar. E tinha lá a sua beleza. E existia algo em comum - a banda. Fruto de uma espécie de magia, ela, a banda, seduzia os transeuntes com marchas que falavam coisas de amor.

Mas as bandas calaram as cidades de ruas pacatas e coretos na praça da matriz. As ruas tranqüilas se transformaram em ruas de hemorragia e as praças se divorciaram dos coretos. A cidade tomou um drinque qualquer e nunca mais se deu às alucinações. Ninguém pára mais para ouvir, ver e dar passagem para os artistas comuns. Ninguém mais fica à toa. O ritmo é sempre o mesmo. As coisas simples, as canções que falavam de amor, uma porção de cada um e outras singularidades ficaram esquecidas em alguma lembrança. Cada lembrança no seu canto, no seu passo. ...
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A nossa missão

Hoje é domingo. Mas hoje é um domingo especial nesses mais de quinhentos anos de Pátria Brasil. Eu sei leitor, cada ser humano tem o seu domingo guardado na memória. Cada um tem as suas jovens tardes, manhãs ou noites de domingo. Cada um de nós guarda um prazer, um amor, um olhar de algum domingo. Entretanto, caro leitor, hoje é diferente. Hoje é um domingo onde o sonho pertence a todos.

Hoje, o dia, por si só, tem uma saudade. Quem não se lembra de Ayrton Senna? Quem não se lembra das corridas de domingo? Quem nunca torceu, sofreu, viveu Ayrton Senna aos domingos? Diante da tela da televisão, acima de qualquer coisa, éramos brasileiros. Quando Ayrton ia às pistas no domingo, o sonho era possível. É nesse plano coletivo que o domingo, hoje, pode se tornar um marco. Mais uma vez, somos brasileiros....
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