A humanidade precisa ser humana
Filhos matam os pais motivados por paixões adolescentes. Crianças brincam de mocinho e bandido lado a lado com traficantes. Negros ainda são vistos sob os olhos do preconceito. Casebres se equilibram nos morros. Mulheres continuam vítimas de um país machista. Mãos se espalham e até competem nas calçadas em busca da sobrevivência. Infelizmente, essas não são cenas vistas apenas nas telas do cinema.
Enquanto os primeiros artigos da Constituição Brasileira de 1988 defendem a igualdade de direitos para os cidadãos e o exercício da liberdade, a realidade se manifesta de outra forma. A fome e a violência são duas provas de que os sonhos dos discursos se perdem numa vida sem maquiagem. Terras a se perder de vista e uma multidão de famintos. As pessoas que brincam juntas no carnaval são as mesmas que se matam na próxima esquina. Frente ao enorme contraste social, a vida dos discursos é esquecida.
A crise não é só brasileira, é de caráter mundial. O mundo enfrenta uma crise moral com impacto muito mais grave do que uma guerra mundial. É uma guerra inconsciente, oculta. Uma guerra de sobrevivência. Os valores humanos (sociais) são tombados pelos valores econômicos. As vidas passam a ter preço. Liberdade e igualdade passam a fazer parte de um faz-de-conta. O não saber o que será do amanhã gera uma incerteza que gera um individualismo. Eis o Big Brother, uma vitrine do comportamento humano.
Participantes utilizam todos os meios, desde inteligência até atributos físicos, para alcançarem o sucesso. Cada um por si e nenhum por todos. A sociedade contemporânea busca o sucesso individual e com isso, o mundo passa a ser um terreno de competição selvagem, onde, pela felicidade própria, o ser humano se esquece que é dotado de sentimentos. O que importa é conseguir a felicidade que se vê na televisão.
Como resposta do capitalismo aos sonhos coletivos do socialismo vende-se a idéia de globalização. Porém é impossível conciliar liberdade e globalização. Países ricos impõem sua cultura para os países pobres. É preciso ouvir música norte-americana, assistir filmes hollywodianos, comer fast-food. Uma sociedade refém do consumo. Quem não consome Coca-Cola e Mcdonald?s não é aceito pela sociedade. Por menor que seja o salário, é preciso comprar marcas.
Diante de tamanha ambição, a sociedade mundial se encontra doente. A solução seria que as mãos negras e brancas, calejadas e macias, firmes e fracas passassem a caminhar juntas na busca por uma felicidade coletiva. Para isso é preciso, acima de tudo, ser humano. Caso contrário, se o egoísmo econômico continuar a reger o mundo, conceitos como liberdade, igualdade e solidariedade existirão apenas nos livros empoeirados.
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