Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 18 de 27.

14/10/2012 - Seu Caboclo Liberato

Seu Caboclo Liberato, rei do mato, em ligação direta com a linha de Oxóssi, dê-me a sua proteção. Caboclo do cabelo de índio e dos olhos verdes, serdes o meu guia no clarão da noite, na sombra do dia. Com seu facão, vá abrindo a picada do meu destino. Seu Caboclo Liberato é espírito corajoso e trabalhador, idoso com o coração de menino, homem com asas de condor. Seu Caboclo Liberato aparece de chapéu de palha, roupa remendada e engomada, e bigode. Com Caboclo Liberato nem o diabo pode.

Seu Caboclo Liberato faz valer o sangue da terra vermelha trazendo uma centelha acesa nos olhos. Seu Caboclo Liberato entende a língua dos bichos, conversa com o vento, doma o fogaréu, leva e traz as nuvens do céu. Seu Caboclo Liberato sabe o feitiço da chuva e o que se esconde atrás de cada curva. Tudo o que seu Caboclo Liberato toca, dá fruto, semente e flor. Chega aboiando e assoviando, fazendo escarcéu junto dos boiadeiros. Conhecido por sua alma de pássaro e por suas rédeas de aço....
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30/07/2015 - Seu jeito de amar

Num dia você me chama carinhosamente. Noutro, manda-me embora como se eu nem fosse gente. A mesma boca que grita é aquela que me enche de palavras bonitas. A mão que dá adeus é a que busca os seus prazeres e me dá conforto. Quando você me deseja morto eu sei que me quer bem, que é o seu jeito de dizer que ama e tem medo de amar também.


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23/11/2014 - Seu Liberato manda chuva

Seu Liberato, caboclo do mato, converse, por favor, com as nuvens pra chuva mudar o retrato dessa paisagem. Ocê que entende e fala a língua dos ventos, traz as nuvens negras, carregadas de água e sentimento. Vê o sofrimento do lavrador. Escuta o lamento das árvores que morrem à mingua nessa sequidão. Tem planta lá do morro que já nem grita mais por socorro tamanha rouquidão. Mas ocê, seu Liberato, que é feito do sangue do mato, pode ouvir o coração empoeirado, seco e atrofiado desses campos que não cansam de pedir chuva aos santos. É tanto pó que a estrada anda ruiva. A mina já não corre mais pras bandas do seu mundo. O poço da casa grande agora tem fundo. O desespero de bicho, planta e gente é profundo. Peça para Tupã que traga água para essas crias que ardem numa febre terça. Que venha a chuva antes que a terra do amanhã tenha olhos de viúva.


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06/05/2013 - Seu nome, Marilene

Hei de dizer seu nome por onde quer que eu vá. Hei de dizer seu nome próximo e longe de ti. Hei de dizer seu nome sobrepondo desejos. Hei de dizer seu nome pelos caminhos da saudade. Hei de dizer seu nome com minha boca, com meus olhos, com meus braços. Hei de dizer seu nome para não me perder de ti. Hei de dizer seu nome bendizendo tudo o que me fez, tudo o que me trouxe, tudo o que me quis. Hei de dizer seu nome como proteção e invocação.

Hei de dizer seu nome sempre de um jeito nunca dito. Hei de dizer seu nome em línguas (des)conhecidas. Hei de dizer seu nome mesmo quando distraído. Hei de dizer seu nome num assovio. Hei de dizer seu nome em dias de lua em noites de sol. Hei de dizer seu nome ao longo de um sorriso. Hei de dizer seu nome como que fazendo uma poção mágica. Hei de dizer seu nome flertando com as estrelas. Hei de dizer seu nome marilenenado por aí.


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05/07/2012 - Seu Tranca-Ruas

Na encruzilhada das luas eu quero encontrar seu Tranca-Ruas. Seu Tranca-Ruas é o Exu que tranca e destranca a evolução dos espíritos humanos conforme o comportamento de cada um. Seu Tranca-Ruas é quem fecha os caminhos dos espíritos sombrios. Foi um Tranca-Ruas quem zelou pela descida de Cristo, pois é o guardião de todos os caminhos terrenos ou espirituais. O que seu Tranca-Ruas fecha, só seu Tranca-Ruas abre. Ele é conhecedor de todas as magias, de todas as demandas, de todas as trilhas da nossa alma. Não adianta fingir ou esconder, seu Tranca Ruas sabe cada um dos caminhos que percorremos ou tentamos percorrer por meio de nossos pés, coração e cérebro. ...
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24/02/2014 - Seus braços

Meu amor, eu hei de querer seus braços como pontes, estradas, leitos pelo tempo que for me dado o direito de ser contemplado com o que mais bem feito já foi feito. Seus braços são caminhos que cruzam pelo meu corpo num abraço que me leva ao topo do céu e me faz descer de rapel pelos seus olhos. Seus braços são rios, mares, faróis, portos e me deixam certo e me deixam torto. Seus braços têm eletricidade, magnetismo e uma estática capaz de equacionar o sentimento do eterno num só momento. Seus braços são rosas, são azuis, são de prosa, são do rock, são do pop, são do blues. Seus braços são gaivotas, garças, janelas, portas, donzelas, asas de beija-flor. Bem- quero morar nos seus braços, fazer parte dos seus traços de delicadeza, respirar em suas mãos os mistérios da sua beleza. Com toda franqueza, peço-lhe para num instante de força ou fraqueza que me abrace para ter a certeza de todo amor que tatuo em seus braços.


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19/02/2014 - Seus cabelos

O sol se deixou em seus cabelos e me falou que eu devia me fazer apelos até poder correr pelas suas luzes bebendo, escrevendo e vivendo esta luminosidade que é você. Seus cabelos têm perfume e deles eu morro de ciúme ao ponto de me torturar diante do vento que os fazem dançar em dias claros ou em noites de luar. Ah! Como eu quero escorrer pelos seus fios em assovios de felicidade e arrepios de intimidade. Seus cabelos dão claridade a tudo que penso, por isso eu me deito e me levanto e sigo feito em seus cabelos. ...
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01/04/2014 - Seus dizeres, meus ditos

Tudo, tudo, tudo o que me disse por palavras musicais ou escritas ainda vive em mim. Eu acredito em tudo o que saiu da sua boca ou das suas mãos com toda fé que me leva. Suas declarações queimam vivas como velas de esperança em minhas entranhas. Seu amor, dito de tantas formas, virou colagens em meu interior, tatuagens feitas com espinho em flor. Os versos que cantou aos meus olhos ou em meus ouvidos ecoam por tudo o que sou. Tudo o que você me falou é guardado como mais que sagrado com todo seu valor em meu íntimo. Suas juras perjuram em minha cabeça. Cada “eu te amo” e/ou “amo você” estão colocados em seus devidos altares. Seu ectoplasma me dá energia e me transforma em um ser melhor. E tenho dito e redito: todos os meus eus são apaixonados por você.


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22/04/2011 - Sexta do silêncio

Hoje, o dia amanhece, entardece e anoitece em silêncio. Hoje, os pássaros não cantam. Hoje, a chuva cai sem trovões. Hoje, a criança se aquieta. Hoje, o carro fica na garagem. Hoje, a lua não diz nada. Hoje, as brigas ficam para depois. Hoje, o grito morre antes de nascer. Hoje, a oração não vai além de um sussurro. Hoje, a televisão é desligada. Hoje, o rio corre em surdina. Hoje, copos não brindam e talheres não batem nos pratos. Hoje, os sinos não tocam. Hoje, o coral silencia. Hoje, o fogo queima dolorida e silenciosamente. ...
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Sexta-feira santa

Pela virgem dolorosa
Pela mãe tão piedosa
Perdoai-nos meu senhor
Perdoai-nos meu senhor

Esses versos cortam. Cortam feito vento. Cortam feito um pressentimento que, de tão bruto, não sabe se bom ou se ruim. Esses versos latejam como ferida aberta, que o tempo, feito um mertiolato barato só faz arder. Versos que rangem dentro de mim, como aquela porteira que já não abro mais. Versos que me arrastam e que me levam. Versos que, nesses movimentos, trazem um mar revolto onde se escondem os tesouros de um pirata de perna de pau. Versos que me rasgam assim como eu rasgava as folhas do calendário do Sagrado Coração de Jesus da casa da minha avó. Versos de uma noite escura. Versos de um vento frio vindo não sei de onde. Vento arteiro que fazia estripulias para apagar a chama das velas em procissão. Ah! As velas. Aquelas velas finas e cumpridas que já não saem mais por ai. Calmamente, preparava-se o copo, furando-o com a chama de um palito de fósforo para que a cera quente não queimasse o dorso de nossas mãos. E a noite era só da luz das velas. A lua vestia a mortalha da escuridão e as estrelas menos respeitosas, brilhavam, mas um brilho minguado, quase fosco. Como castigo, elas iam morrendo, queimando e ardendo em seu próprio fogo. O dia era de silêncio. Mas os versos rasgavam o silêncio em passos geométricos. Por meio das rezas e dos cânticos de duas filas indianas, sobre os ombros, vinha o andor de nosso senhor morto....
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