Daniel Campos

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Encontrados 261 textos. Exibindo página 11 de 27.

18/10/2014 - Sem errrar

Nada de se cegar. Nada de idealizar. Nada de parar de analisar a fundo o que está a se mostrar. Nada de ocultar. Nada de deliberar sobre o que está além do raciocinar. Nada de se jogar sem saber com certeza se haverá alguém para lhe aparar. Nada de se doar por inteiro a quem vai lhe desprezar. Nada de calar sua boca em outra boca que só sabe dela falar. Nada de desejar quem só sabe se desejar. Nada de colocar a vida mesa do bar. Nada de apostar o amor numa roleta que não para de girar. Nada de se hipnotizar. Nada de se deixar dominar por quem não tem nada a dar. Nada de se negar. Nada de esperar por quem não vai voltar, tampouco ficar. Nada de se deixar nas mãos de quem não sabe amar. ...
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25/02/2010 - Sem inspiração

Desta vez o papel em branco não me diz nada. Completamente nu de linhas e palavras, cala-se como um paredão de concreto branco. Os olhos chegam a doer olhando para ele. As mãos o percorrem de ponta a ponta, mas não conseguem colocar letra alguma ali. A folha pesa na cabeça do escritor, que pressionado se esvazia de qualquer inspiração. Coloca a imaginação para funcionar, remexe livros antigos, busca recortes, espia pela janela, mas não há nada que o motive a desfazer aquela branquidão.
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23/01/2011 - Sem luz

Estou sem força, sem energia, sem luz, sem eletricidade. Estou ilhado, no escuro, com saudade dos watts e volts. Já perdi a hora de quantas horas vivo em blackout. Perdi o capítulo da novela e da janela só se vê o breu. Voltei ao tempo da roça, dos lampiões e lamparinas, de andar pela rua escura em companhia da lua. Os cachorros não param de latir, assombrações e ladrões aproveitam, cada um ao seu modo, dias e noites assim.

Não há como ligar o computador, recarregar o celular, ouvir um disco, assistir um filme, fazer uma ligação. Em seus altos e baixos, em seus piques e repiques, a energia ainda se dá ao desfrute de queimar o que restou na tomada. Tá tudo um caos. É preciso comprar mais velas e pilhas para as lanternas. Estou, como tudo ao redor, apagado, desligado, exilado... se explodir a terceira grande guerra só irei saber quando os soldados chegarem aqui....
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18/03/2010 - Sem maestro, a orquestra se cala

Hoje o galo de peito vermelho não encontrou motivo algum para cantar. Ao contrário de subir na cerca e cocoricar forte sua melodia caipira, abaixou a cabeça e silenciou. Seguindo seu exemplo, as galinhas carijós não vão botar ovo algum ao longo do dia. Brenda, aquela cachorra preta que o seguia pelo sítio afora, sequer se levantou. Os canários da terra e do reino, descendentes daqueles que ele capturava em arapucas de menino, não estralaram ao amanhecer do dia.

A barulhenta máquina de fazer fubá também ficou quieta em seu canto. Nem mesmo os tratores quiseram papo, ficaram mudos e com faróis baixos. Ao contrário de apitar, o trem que corta o sítio ao meio há mais de quarenta anos, soluçou. Os mais de mil pés de abacate se curvaram em sinal de reverência. A terra sangrou de dor ficando ainda mais vermelha. As águas correntes que alimentam o lago pararam de correr. As tilápias, tão cobiçadas por ele, não saíram de suas tocas....
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27/08/2011 - Sem mais

Sem mais a dizer. Essa é a frase, escrita no pé da página ou dita no decorrer da fala, que acaba com uma série de expectativas. Sempre há algo a ser dito. Não importa se bom ou ruim, se é o que se pretende realmente ouvir, se verdade ou mentira, mas há sempre algo por detrás da última palavra. Muitas vezes há mais coisas não ditas do que propriamente ditas. Há um universo de coisas e criaturas proibidas por detrás de um sem mais...

Sem mais a dizer. Sem mais a fazer. Sem mais a sofrer. Sem mais a nascer. Sem mais a querer. Sem mais a florescer. Sem mais a esquecer. Sem mais a convencer. Sem mais a colher. Sem mais a tecer. Sem mais a enlouquecer. Sem mais a beber. Sem mais a escrever. Sem mais a oferecer. Sem mais a poder. Sem mais a prometer. Sem mais a falecer. Sem mais a envolver. Sem mais a aprender. Sem mais a amanhecer. ...
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01/07/2010 - Sem mais rodeios

O peão, com chapéu moldado a cabeça, debruça seu olhar estremecido sobre a arena vazia. A terra remexida ainda geme castigada pelas pisadas dos bois. As musas do rodeio já se foram. As luzes dos refletores baixaram. E o narrador deixou o silêncio pairando no ar. Nossa Senhora apareceu para recolher o que sobrou das preces elevadas a ela. Longe dali, alguns comemoram ou lamentam o resultado num copo de cerveja. Há quem dance, festeje, abrace, beije, mas aquele peão não consegue fazer nada disso tendo os olhos presos à arena. É como se sua história de títulos fosse sepultada naquele chão junto à coragem e à vontade de continuar. ...
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22/08/2016 - Sem medo de nada

Se apaixonado, não tenho medo de nada. Enfrento tudo e todos olhos nos olhos. Viro bicho se precisar para defender a criatura amada. Sinto-me tão forte, mas tão forte que nada me abala. Protejo quem amo com unhas e dentes. Estou sempre pronto para batalhar por quem quero e pelo que eu quero para nós dois. Faço festa e guerra pelo amor que tenho. Nada me amedronta, nada me faz desistir, nada me afasta do meu coração, que é minha espada e meu escudo.


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05/11/2012 - Sem música, não há pássaro

Há cada vez menos música e cada vez mais barulho no ar. Para onde foram as melodias de Tom Jobim, os acordes de João Gilberto, a voz de Clara Nunes? Que gerações são essas que não conhecem Pixinguinha, Noel Rosa e Cartola? Algum adolescente sabe me informar por onde andam Francis Hime, Aldir Blanc, Newton Mendonça... Alguém me dá notícia do choro bandido de Edu Lobo, do mineiríssimo Clube da Esquina, do piston de Araken Peixoto. Quero mais, mais Maria Bethânias, mais Marienes de Castro, mais Alciones... ...
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07/01/2010 - Sem papo

Eu não quero falar, ver, tampouco saber de você. Que você suma do mapa geográfico, político, astral. Que você desapareça sem deixar endereço, telefone e sequer ponto final. Que você enlouqueça, desapareça, vire às avessas que eu não ligo. Aliás, maldigo você do primeiro ao último instante. Que duvide, que revide, que olvide, mas se mantenha distante. Não me importo com o que faça, com o que seja, onde esteja. Vá com os diabos porque Deus está de férias. Ao menos, de férias para você.

Não me aborde mais. Não me escreva mais. Não me pense mais. Não insista mais em mim. Já estou para lá das fronteiras da delicadeza. Daqui por diante meu comportamento pode não ter a mesma nobreza. Invente outro caminho desde que ele não cruze com o meu. Faça qualquer coisa desde que não interfira em meus dias. Tome chá de sumiço, vire-se em seu reboliço, tome rumo num feitiço... mas sai daqui, daqui de perto, de perto de mim. Entenda de uma vez: é o fim. ...
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28/12/2009 - Sem perguntas

Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas. Agora precisamos entrar em acordo se queremos saber para onde vamos, quem somos, o que sentimos ou se vamos viver tudo isso sem perguntas. Afinal, as respostas surgem naturalmente, não precisam ser provocadas ou pré-fabricadas. Questionários só desgastam, estressam, violentam todo e qualquer relacionamento. Amor não é vestibular, mas vale uma dica: pressuposto de amar é não desconfiar.

Nenhuma pergunta acontece por acontecer. Todas têm segundas intenções e a maioria, um quê de veneno. Quem pergunta, duvida. E dúvida é o combustível perfeito para a derrocada de qualquer relação a dois. O vírus da incerteza, em termos de estragos, é pior do que o ato em si. Se existe um codinome para demônios, sem dúvida é “dúvida”. Então, pra que interrogar? Não basta viver um amor, será preciso sabê-lo? Entre você e eu há um mundo inteiro de perguntas e respostas disfarçado de buraco negro, pronto a sugar os amantes....
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