Daniel Campos

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18/03/2010 - Sem maestro, a orquestra se cala

Hoje o galo de peito vermelho não encontrou motivo algum para cantar. Ao contrário de subir na cerca e cocoricar forte sua melodia caipira, abaixou a cabeça e silenciou. Seguindo seu exemplo, as galinhas carijós não vão botar ovo algum ao longo do dia. Brenda, aquela cachorra preta que o seguia pelo sítio afora, sequer se levantou. Os canários da terra e do reino, descendentes daqueles que ele capturava em arapucas de menino, não estralaram ao amanhecer do dia.

A barulhenta máquina de fazer fubá também ficou quieta em seu canto. Nem mesmo os tratores quiseram papo, ficaram mudos e com faróis baixos. Ao contrário de apitar, o trem que corta o sítio ao meio há mais de quarenta anos, soluçou. Os mais de mil pés de abacate se curvaram em sinal de reverência. A terra sangrou de dor ficando ainda mais vermelha. As águas correntes que alimentam o lago pararam de correr. As tilápias, tão cobiçadas por ele, não saíram de suas tocas.

Os pés de limão amanheceram mais azedos do que nunca. As mangueiras que confiavam seus frutos a ele perderam a vontade de florescer. As ferramentas, das enxadas às chaves inglesas, perderam o trabalho e o sentido da existência. Os lagartos não quiseram tomar sol. E o sol, por sua vez, quis chover. Dina, caseira que mora ali há trinta anos, pela primeira vez na vida olhou para o terreiro com a certeza de que a perua verde água, de nome Cacilda, não traria o maestro de tudo aquilo.

Eu não estou lá, fisicamente falando, mas sei que as coisas sucederam assim... Com a morte de Liberato de Lima Barbosa morre também o sítio Boa Vista.

(...)

Meus sentimentos...


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