25/02/2010 - Sem inspiração
Desta vez o papel em branco não me diz nada. Completamente nu de linhas e palavras, cala-se como um paredão de concreto branco. Os olhos chegam a doer olhando para ele. As mãos o percorrem de ponta a ponta, mas não conseguem colocar letra alguma ali. A folha pesa na cabeça do escritor, que pressionado se esvazia de qualquer inspiração. Coloca a imaginação para funcionar, remexe livros antigos, busca recortes, espia pela janela, mas não há nada que o motive a desfazer aquela branquidão.
E o que dizer para o leitor? Nada. Absolutamente, nada. O leitor não vai entender essa brancura toda como uma obra pós-moderna e sim como ausência de inspiração. Vão mandar o escritor para um lugar não muito bonito de se dizer. Mas o que fazer se não há nada para contar? O silêncio é a morte do escritor. No silêncio o escritor sequer existe. Como é desesperador ficar longos minutos diante de uma folha de papel em branco sem conseguir flertá-la ou, até mesmo, violentá-la com palavras.
Se ao menos o vento trouxesse uma canção? Se ao menos um espírito resolvesse ditar um conto? Se ao menos a mulher amada chegasse agora trazendo versos em seus lábios? Tudo seria diferente. Mas o vento não ventou. O espírito não desceu. E a mulher amada mantém-se calada e distante há horas. Agonia. Tensão. Angústia. A mão treme, porém não consegue tirar histórias de personagens reais ou fantasiosos da caneta. É como se a inspiração tivesse presa em algum lugar daquele papel em branco.
E de lá não consegue ser vista, emitir pedidos de socorro, tampouco escapar por si própria. Enquanto ela não voltar à tona a poesia continuará tão ausente quão doente de amor.
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