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Encontrados 254 textos. Exibindo página 19 de 26.
06/12/2010 -
Penduricalhos de natal
Pendure seus sonhos mais bem guardados nas galhas da árvore de natal. Pendure suas esperanças e o sorriso das crianças. Pendure as lembranças dos natais passados e o que colheu em suas andanças. Pendure as flores de Noel e as tranças da Rapunzel. Pendure os projetos prediletos, os planos de anos e as luas das ruas por onde passou. Pendure o que ficou depois de tantos balanços, retrocessos e avanços. Pendure música e dança e até mesmo a estrela que não se alcança.
Pendure o beijo que arde nos lábios e as teorias dos astrolábios. Pendure bolas tão redondas quão o mundo. Pendure o que encontrou depois do poço sem fundo. Pendure abraços e passos. Pendure as frutas da estação e um sabor temporão. Pendure velas e aquarelas. Pendure as poesias que colecionou. Pendure a promessa que vingou. Pendure a santa e essa força tanta. Pendure as meias e o medo que ainda receias. Pendure cartas e loucuras fartas. ...
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23/10/2010 -
Pinte um sorriso
Pinte um sorriso neste rosto dês-sorriso. De preferência, num tom quente e num estilo renascentista, daquele capaz de renascer das cinzas. Pinte um sorriso delicado, mas capaz de crescer vertiginosamente a ponto de chamar atenção de um beijo. De um beijo perdido e desesperado ou guardado e esquecido. Pinte um sorriso neste rosto tirando qualquer traço de tristeza no ar. Pinte um sorriso simples, destes que sorriem simplesmente porque gostam de sorrir.
Pinte um sorriso leve, límpido e duradouro. Pinte um sorriso diferente. Pinte um sorriso jardineiro, erguido de pétala em pétala. Pinte um sorriso arquitetônico, engenhoso, artístico. Pinte um sorriso em perspectiva. Perspectiva de encontro. Pinte um sorriso dobrado, molhado, nascido para sorrir. Pinte um sorriso silencioso daqueles que cantam somente ao pé do ouvido. Pinte um sorriso ao ritmo do vento. ...
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20/10/2010 -
Picadinho
Depois do nosso show, do nosso filme, do nosso teatro, mulher, que tal um picadinho pro jantar? Pedacinhos de carne cortados na ponta da faca e dourados no óleo acompanhado de arroz, ovo poché, couve, farofa e banana à milanesa. Não importa se comida de pobre ou de rico, só sei que só o seu picadinho para alimentar a minha boêmia, substanciando corpo e espírito no que diz respeito às paixões de meia-noite. O picadinho pode e deve ser servido à luz de velas, afinal seu encanto morre ao raiar do dia. ...
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19/10/2010 -
Por todas as horas
Por todas as horas eu hei de rogar-lhe proteção. Por todas as horas dos meus relógios físicos ou químicos eu hei de ficar ao seu lado e desejá-la ao meu lado. Por todas as horas de sóis e luas eu hei de amanhecer-lhe e chover-lhe palavras de afeto. Por todas as horas de fora e de dentro eu hei de implorar para que ninguém lhe leve de mim. Por todas as horas do que sou e do que sei hei de pedir mais e mais tempo para nós. Por todas as horas e universos eu hei de compor-lhe versos. Por todas as horas eu hei de afugentar a saudade. Por todas as horas do firmamento eu hei de eternizá-la como uma paixão além tempo. ...
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15/10/2010 -
Pé de arara
Há árvores que dão mangas, castanhas, jabuticabas, flores, sementes, sombras e araras. Araras? Isso mesmo. Uma árvore seca lá de casa depois de morrer deu pra dar araras. Araras azuladas, araras cobertas com plumagens verdes, araras de peito avermelhado. Não sei de onde esses papagaios coloridos surgem, tampouco pra onde vão. O que sei é que elas se dependuram nos galhos como frutos e explodem em cores como uma floração primaveril. E mais: elas cantam e conversam entre si enquanto escorregam pra lá e cá num balé morfológico, biológico e comportamental capaz de deixar qualquer um boquiaberto. ...
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11/09/2010 -
Prosa perguntadeira
De quantas decisões é feito um homem? De quantas pedras é feita uma caminhada? Com quantos romances se faz um grande amor? Com quantos cheiros se faz uma mulher? De quantos pontos é feito um caminho de crochê? De quantas montarias é feita um peão? Com quantos sóis se faz um fim de tarde? De quantas abelhas é feito o mel que há nos lábios de uma mulher?
De quantas gotas é feito o orvalho? Com quantas ondas se faz uma ressaca? De quantos vagalumes é feita a ursa maior? De quantas profecias é feito um futuro? De quantos grãos de areia é feito o tempo? De quantos brindes é feito um bom ano? De quantos pés é feito um milharal? Com quantos golpes se faz um nocaute? De quantos ventos é feito um catavento?...
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06/09/2010 -
Pescar como pesca o pescador
Ah! Se eu tivesse a coragem do pescador que pega seu barco e se deixa engolir pelo mar. Tempo bom, tempo ruim, o pescador rema, rema, rema remador, espia o peixe, puxa corda, sacode a rede. Não tem medo de o barco virar, de não voltar, de deixar alguém a lhe esperar para sempre na areia da praia. O pescador não leva bagagem, sai vestido apenas com o couro do corpo e as traias da pesca. É ele e o barco, é ele e o mar, é ele e o mundo das águas e dos ventos.
Queria saber pescar sonhos como pesca o pescador, que enfrenta a dor, a solidão e o desconhecido sem gritos. É o homem que deixa a terra, que tira o chão de seus pés e desafia os limites da fé. É homem duro, castigado e imolado a cada amanhecer, mas com o coração tão puro quanto à vida virgem do alto mar. Ele sabe que pode ser tragado e ceifado a qualquer momento por aqueles deuses que habitam o fundo do mar. Por isso, tenta ser o mais leve possível de modo que flutue entre o espelho d’água e o peito do céu.
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22/08/2010 -
Peão apaixonado
O boiadeiro vai rompendo o fim da madrugada pelos campos do sertão. Seus passos amassam o orvalho enquanto seu rosto leva as chibatadas do vento frio. O vento aberto da invernada chicoteia para lá e para cá. Que Deus e Nossa Senhora protejam aquele homem que tem o corpo coberto das marcas da vida, que enfrenta com peito aberto e um coração de boi. Com chapéu deitado na testa e olhos no horizonte o homem caminha entre a luz e a escuridão assoviando uma canção:
Ê boi, êê boiada estrelada...
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12/08/2010 -
Procuração
Eu não sei o que acontece atrás daquelas janelas. O prédio é tão grande e o amor lá se esconde. Onde, onde, onde está você? Eu não lhe vejo. Aqui, de fora, tudo é tão igual. O mesmo desenho, a mesma cor, a mesma decoração. Onde está você? Dê um sinal. São tantos andares e você pode estar em tantos lugares. Meus olhares se perdem, se perdem e pedem: Dê um sinal. Como posso lhe encontrar se você é só mais uma pincelada nessa aquarela de Monet. Por quê?
São cortinas e persianas ocultando seu sorriso, deixando tudo tão impreciso entre nós. O concreto, a altura e o vidro abafam sua voz me chamando. Se é que me chama não consigo ouvir seus sussurros e canções. Como achar um só coração perdido no meio de centenas de apartamentos que estão trancados em pensamentos e sentimentos particulares. Não há sinal de um gato, de um vaso de flor, de uma toalha molhada pingando os pingos do seu corpo suado de calor e prazer... ...
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30/07/2010 -
Peras ao açafrão
Seus olhos são como duas peras ao açafrão, feitos a partir de mel, vinho e limão. Olhos de fervura e caudalosos, ideais para sempre degustados a colheradas. E eu, cada vez mais, tento fazer das minhas palavras espátulas só para retirar, com todo cuidado, a cada novo encontro, um pouco mais dos seus olhares. Toda a maciez e o sabor das peras, com uma coloração única, e um frescor de hortelã, colocados em olhares que alteram o meu metabolismo de uma forma que nem a química ou a física podem explicar. ...
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