20/10/2010 - Picadinho
Depois do nosso show, do nosso filme, do nosso teatro, mulher, que tal um picadinho pro jantar? Pedacinhos de carne cortados na ponta da faca e dourados no óleo acompanhado de arroz, ovo poché, couve, farofa e banana à milanesa. Não importa se comida de pobre ou de rico, só sei que só o seu picadinho para alimentar a minha boêmia, substanciando corpo e espírito no que diz respeito às paixões de meia-noite. O picadinho pode e deve ser servido à luz de velas, afinal seu encanto morre ao raiar do dia.
Mulher, não se esqueça das folhas pautadas de louro, do alecrim picadinho, do tomate sem casca, da salsinha fresca, do alho amassado e da cebola chorada pra salientar o quê do seu picadinho. Entre um e outro beijinho, limpe e corte o filé em cubinhos matematicamente perfeitos, com toda a licença poética de um bom sabor é claro. Com todo balançado, misture a carne e os temperos numa panela de cobre. Salpique o sal extraído das lágrimas de uma opereta. Deixe ficar úmido como seus olhos oceânicos.
Vou pegar o violão enquanto você arruma o picadinho nos pratos. E eu vou olhando o céu, picadinho de estrelas, pairando sobre nossos desejos à flor carnívora da pele. Um céu guarnecido de ilusões. A lua, tão pálida e macia, como um ovo poché. O sereno caindo em grãos de farofa. As franjas das árvores reviradas pelo vento como cabelos de couve. As pedras do caminho soltas como uma panela bem soltinha de arroz. E nossos corações, picadinhos, inflando como grãos de arroz.
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