Daniel Campos

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06/09/2010 - Pescar como pesca o pescador

Ah! Se eu tivesse a coragem do pescador que pega seu barco e se deixa engolir pelo mar. Tempo bom, tempo ruim, o pescador rema, rema, rema remador, espia o peixe, puxa corda, sacode a rede. Não tem medo de o barco virar, de não voltar, de deixar alguém a lhe esperar para sempre na areia da praia. O pescador não leva bagagem, sai vestido apenas com o couro do corpo e as traias da pesca. É ele e o barco, é ele e o mar, é ele e o mundo das águas e dos ventos.

Queria saber pescar sonhos como pesca o pescador, que enfrenta a dor, a solidão e o desconhecido sem gritos. É o homem que deixa a terra, que tira o chão de seus pés e desafia os limites da fé. É homem duro, castigado e imolado a cada amanhecer, mas com o coração tão puro quanto à vida virgem do alto mar. Ele sabe que pode ser tragado e ceifado a qualquer momento por aqueles deuses que habitam o fundo do mar. Por isso, tenta ser o mais leve possível de modo que flutue entre o espelho d’água e o peito do céu.


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