Daniel Campos

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07/10/2010 - O telefone

O telefone toca, as palavras vão pulando pela boca afora em feitio de pipoca. Os parágrafos e estrofes que giravam pelas espirais, hoje navegam pelo ar em ondas digitais. Será que essas conversas são reais como barcos ancorados no cais ou tudo não passa de ilusão num mar de imaginação. O telefone toca, provoca, sufoca, invoca deuses e demônios. O telefone é agonia, é busca e procura, é fantasia, é suspense sem cura. É ranhura que arranha por dentro. É cavalo salteador que ninguém segura. É o estopim da loucura.

O telefone tira do ritmo, é a emoção do logaritmo, é a conexão do íntimo com o íntimo ao cubo. O telefone é o tubo que dá e ao mesmo tempo corta a respiração. O telefone é a tensão, o mundo aflito, o grito de pega-ladrão. Um telefone em silêncio é uma cena, no mínimo, instigante. É como se o pior estivesse por vir. Incomoda, mas não é tão angustiante quanto um telefone chamando sem parar. Entre atendê-lo ou não atendê-lo, tenta-se adivinhar quem está do outro lado, o que tem pra dizer.

O telefone é instrumento de tortura, é objeto de gastura. Os superiores tornaram o telefone um bem necessário, essencial, acessível. Colocaram o mal dentro das casas, das bolsas, dos bolsos de cada habitante dessa gente que foi ensinada a dizer alô. O nascimento e a morte, o emprego e o desemprego, o amor e a separação nascem de um telefonema com a mesma facilidade. Com o advento do telefone, os atos e desacatos ficaram fáceis demais de serem ditos.


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