Daniel Campos

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20/08/2010 - O tempo da descriação

Cabeça cheia. Casa cheia. Lua cheia. É meia noite e meia. Hora de soltar os lobisomens, os vampiros, os cavaleiros do apocalipse. Que as assombrações assombrem as sombras que não cansam de nos colocar medo. Ninguém agüenta mais tanta conversa fiada, tanta prosa errada, tanta desculpa esfarrapada. É hora de mudar o enredo. Chega de ensaios, de rodeios, de devaneios. Chega de tanta promessa, de tanta quebra de expectativa, de tanta vida inativa. Vamos pegar o primeiro trem e ir além do que nos convêm.

Quero ir para uma ilha deserta, para uma casinha na montanha, para uma cidade fantasma. Quero avançar o calendário e chegar a um tempo que corra depois da extinção da humanidade, viver com fuligens e baratas. Quero voltar ao passado, numa máquina do tempo, para bens antes das explosões demográficas, viver numa vila no meio do nada. Quero fugir dessa massa que fala e respira e pira ao mesmo tempo. Quero, como quero, como Nero, atear fogo em tudo. Quero, como Deus, alagar o mundo.

Maldito bicho homem que destrói o silêncio, a poesia natural e coisa e tal. Maldito bicho homem que criou o tempo, do relógio ao calendário. Criou o alfabeto, os algarismos, o dinheiro. Criou o pecado, o concreto e o virtual. Criou o sonho e o pesadelo; a lei e o caos; o ócio e a lida; o bem e o mal. Agora é preciso adorar o Deus da descriação. Vamos descriar o que já foi criado e recriar a vida sem olhar para trás ou sequer para o lado.

Cabeça cheia. Casa cheia. Lua cheia.


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