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Encontrados 278 textos. Exibindo página 19 de 28.
20/08/2010 -
O tempo da descriação
Cabeça cheia. Casa cheia. Lua cheia. É meia noite e meia. Hora de soltar os lobisomens, os vampiros, os cavaleiros do apocalipse. Que as assombrações assombrem as sombras que não cansam de nos colocar medo. Ninguém agüenta mais tanta conversa fiada, tanta prosa errada, tanta desculpa esfarrapada. É hora de mudar o enredo. Chega de ensaios, de rodeios, de devaneios. Chega de tanta promessa, de tanta quebra de expectativa, de tanta vida inativa. Vamos pegar o primeiro trem e ir além do que nos convêm. ...
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18/08/2010 -
O diabo que te carregue
O diabo que te carregue. Que te carregue para o inferno, para o fogaréu, para as sombras, para o cemitério, para o léu. Sinceramente, não me importa para onde desde que ele te carregue para bem longe de mim. Não quero mais ver sua cara de pau, ouvir suas mentiras, sentir seu cheiro enjoado. Chega de tanta ruindade, de tanta maldade, de tanta crueldade. Basta dos castigos que me vem dando, das coisas que me vem aprontando, das máscaras que vem empregando.
O diabo que te carregue, que te arraste, que te puxe, que te leve daqui do jeito que quiser. Não tenho pena, dó, misericórdia, compaixão ou quaisquer outros desses sentimentos ditos divinos. Sou humano, propenso a falhas e falta de paciência. Eu não queria ser tão indelicado, mas já que pisou no meu calo por diversas vezes: o diabo que te carregue. E não negue qualquer familiaridade com o demônio. Aproveitem para falar mal dos outros, fazer fofoca e comer um churrasquinho. ...
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04/08/2010 -
O castelo, o curió e o pé de marmelo
Ao lado da minha casa tem um pé de marmelo. E numa das galhas desta árvore tem um castelo. É ali que faço a minha imaginação voar de volta aos tempos medievais. Depois de passar pela ponte levadiça, eu percorro calabouços e torres, escudos e brasões, costumes e lendas. Tudo isso ao canto de um curió que insiste em pousar no meu pé de marmelo. Porém, eu confesso que a cantoria só dá mais charme ao lugar. Não me importo em dividir a vista com o pássaro. Afinal, ele é a mascote da cavalaria. Sir curió, o paraninfo da minha fantasia. ...
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18/07/2010 -
Ovos
A gema era tão vermelha quão o sangue da terra em que lavorava o dono daquelas galinhas. Os galos eram furta-cores, coloridos, índios de canelas alongadas e esporas afiadas. Cristas em riste, eles cocoricavam por aquelas terras descortinando o véu da noite e livrando suas noivas do açoite. Noivas de tantos vestidos e matrimônios. Com suas penugens pretas, marrons, brancas, ruivas e carijós desfilavam pelo terreiro arrancando suspiros dos frangos num amor praticamente impossível. Afinal, o destino dos frangos não era tão romântico assim: ou fariam companhia a uma boa polenta ali no sítio mesmo, ou viajariam até a cidade para conhecer outras bocas, ou ainda, se dessem sorte, substituiriam algum dos galos naquele galinheiro. ...
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15/07/2010 -
O mundo de Hanna
Você soube do centenário de nascimento de William Hanna completado esta semana? O nome desse norte-americano pode soar desconhecido aos seus ouvidos, mas tenho certeza de que lembra de pelo menos de um de seus mais de dois mil personagens produzidos em parceria com Joseph Barbera. Personagens de novela, de romances, de teatro, de cinema? Quase. Personagens de desenho animado assistidos por pais e filhos. Afinal, quem não conhece Scooby-Doo?
Além do famoso companheiro do Salsicha, minha infância se mistura aos cachorros Dom Pixote, Bib Pai e Bob Filho, Mumbly, Dino, Hong-Kong Fu, Ruivão, Goober, Dinamite e Oscar, todos criados pelo estúdio Hanna Barbera. Depois da escola, passava as tardes em companhia da extinta Rede Manchete e da Bandeirantes deixando-me envolver com as aventuras de Zé Colméia, Família Adms, Tartaruga Tuchê, Formiga Atômica, Homem Pássaro, João Grandão, Leão das Montanhas, Manda-Chuva, Os Herculóides e tantos outros. ...
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09/06/2010 -
O velho e os bois
Lá vai o velho bem longe se vai tocando seus bois na estrada que a lua cai. Lua rancheira, tombada como pássaro no cano da cartucheira. Os bois vão passando e a lua iluminando os olhos da criação enquanto o velho vai aboiando pelo velho estradão. Já perdeu as contas de quantas cabeças ponteou por aquelas pontas. Já perdeu as contas de quantas moças deixou suspirando pelas varandas daquelas bandas. Só sabe que coração que extravasa em seu peito é marcado como seu gado, a ferro e brasa.
Lá vai o velho bem longe se vai abrindo porteiras cavalgando na ponteira da comitiva. Comitiva solidão o empurrando pelo sertão. Os bois vão marcando a terra rumo ao pasto lá do pé da serra. E o velho, com fé no dia, se benze com um ramo de guiné depois de rezar uma Ave Maria. Ele toca em frente ciente de que a saudade é uma estrada longa, que se prolonga do amanhecer ao anoitecer. Por isso quando a coruja pia o velho dá um jeito de cair nos braços da viola que chora e assovia dentro do velho peito. ...
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03/06/2010 -
O corpo de Cristo
Dia de Corpus Christi. Dia de corpos e cristos. Dia de humanos e reis. Dia de carne e coroa. Dia que me leva aos meus poucos anos de idade e à pequena igreja de Nossa Senhora de Mont Serrat. Nunca me esqueci dos cheiros, das cores e dos sentimentos daquela igreja. Foi em mesas quadradas de madeira pintadas a óleo num tom de azul celeste, que serviam para festas e velórios, que tive minhas aulas de catecismo. Sob as assustadoras olheiras de dona Nair, a catequista, eu desvendei aquele livrinho que falava de pecados, mandamentos e outras informações vitais a um católico. Foi ali também que aprendi a decorar aquelas orações antigas, repetidas de geração em geração. ...
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31/05/2010 -
O pingado e a mulher
A coloração da mulher amada é complexa como o prisma que filtra o leque de cores primárias, secundárias e terciárias; ampla como uma caixa de 48 lápis de cor aquarela nas mãos de um menino; e, ao mesmo tempo, simples e mágica como um pingado. Um copo de café com um pingo caudaloso de leite. A mulher amada é uma presença constante em nossa vida, seja em matéria de utopia ou realidade. É um sabor cotidiano como um bom pingado. E como o tradicional copo americano no qual é servida a bebida, não se quebra com facilidade. ...
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28/05/2010 -
Os tentáculos do câncer
Poderia ser apenas o nome de um crustáceo que caminha de lado, ou de um dos doze signos zodiacais, ou de uma das 88 contelações escritas na noite escura ou do trópico situado a norte do Equador, no entanto, é mais... É mais intenso, é mais assustador, é mais complexo do que animais, estrelas e coordenadas geográficas. É câncer.
Ele já mata mais do que a Aids, a malária e a tuberculose juntas. Os números assustam e evidenciam, como nenhuma outra doença, a vulnerabilidade humana. De fato, somos falíveis. O câncer faz com que coloquemos os pés no chão e enxerguemos que toda cultura tecnológica desenvolvida até então não consegue nos salvar de nós mesmos. ...
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23/05/2010 -
O espanto de amar
Lá no fim daquela estrada tem uma árvore amarela, uma cotovia na janela e uma noite prateada de estrelas. Pelas minhas contas é exatamente lá, às escondidas, que sol e lua se encontram e aprontam coisas proibidas. Ao menos é isso o que dizem os cochichos do vento sul depois de roubar o pensamento dos moinhos que giram sozinhos pelo azul marinho do céu que lá existe. É lá que o sol do atol e a lua de mel brincam de carrossel. É para lá que nós vamos, amor meu, misturar os nossos eus.
Vamos andar nas costas de um cisne pelo lago do sol. Vamos catar conchas e ouvir o som de um mar enluarado. Vamos colher flores de fogo e nos arder numa mesma insolação. Vamos assoviar em si bemol como as aves da noite escura, na formosura das claves de sol. Vamos seguir a luz do farol lunar segurando nas asas de um serafim. Vamos nos acabar de amar numa cama de alecrim. Vamos conhecer a macieira do amor, com frutos de caramelo ao pé de uma roda gigante. ...
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