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Encontrados 62 textos de setembro de 2015. Exibindo página 5 de 7.
11/09/2015 -
Ciranda de lavanda
Ciranda, pequena, cai na minha roda e não se apequena, gira daqui, mira dali, e acerta meu peito com seus olhos flechados de lira. Anda como quem dança. Alcança o céu como criança. Filha de Luanda, de Ruanda, de Uganda, de Aruanda. Dona dos ventos que movem os moinhos da Holanda. Afina o meu coração no ritmo da sua banda. Danda, samba, ganda, ciranda no barracão dos meus olhos que forram o seu chão. Ciranda, dando de banda pra solidão. Manda seu passo, indica seu paradeiro, pontilha meu caminho com seu destino por inteiro. Abranda a minha vida com sua ciranda e deixa-me flertar com você da minha varanda. Ciranda e faz propaganda de que como anda pelo meu corpo num sopro de lavanda.
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10/09/2015 -
Com a chuva
Como se eu fosse árvore verdejo de dentro pra fora com a chuva. Como se eu fosse rio eu transbordo com a chuva. Como se eu fosse terra eu encharco e broto as sementes de mim com a chuva. Como se eu fosse pássaro eu abro asas e o peito cantando com a chuva. Como se eu fosse pedra eu ganho vida com a chuva. Como se eu fosse mina eu verto e corro com a chuva. Como se eu fosse criança eu brinco na enxurrada com a chuva. Como se eu fosse mato eu solto perfume com a chuva. Como se eu fosse bicho eu banho e bebo com a chuva. Como se eu fosse lavrador eu olho aos céus agradecido pela chuva. Como se eu fosse fogo eu me assossego com a chuva. Como se eu fosse barco de papel eu vou descendo a rua com a chuva sob os olhos brilhosos de quem me fez.
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10/09/2015 -
Coaxo de sapo
Sapo coaxou no pé da minha janela
O alto céu escureceu e o sol correu
Pra debaixo da cama, acendeu vela,
E a bicharada se atacou. Lobo uivou,
Morcego voou, coruja se arregalou,
Pirilume piscou e o violeiro cantou
Quando a noite caiu antes da hora
Jogando seu manto negro e pesado
No dia de ontem mandando embora
O nosso presente tecendo o passado
Num dia inacabado no rastro do sapato
Trazendo dor e medo no coaxo do sapo...
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09/09/2015 -
Beijo de araçá
Mulher,
Se quer um beijo com gosto de araçá
Daqueles que amarram de verdade
Como jatobá ou ingá
Numa doçura de jabuticabá
Vem, vem buscar
Direto nos meus campos. Vem sabiá
Aninhar-se na minha boca
Num ninho de capim santo
Vem sabiá beliscar o meu doce
Que o tempo, agricultor das almas,
Aos lábios me trouxe.
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09/09/2015 -
O amor de Glória e Tarcísio
Glória Menezes e Tarcísio Meira são ícones, lendas vivas, que transcendem o nosso dia a dia tanto como artistas quanto como namorados. Com oitenta anos de idade, mais de cinquenta de profissão e de carreira, o casal enche os olhos de qualquer um que se rende à arte do sentimento. É bonito de se ver. Os dois juntos fazem de qualquer canto em que estejam um palco de afeto, de cumplicidade, de querer. De se querer além do tempo. Ao longo dessa estrada conjunta, a beleza mudou, mas os dois ainda se olham com o mesmo encanto, como se descobrissem a cada minuto um novo motivo para se reapaixonar um pelo outro. Assim como um espetáculo teatral em que a cada nova apresentação há um detalhe, uma emoção, um quê diferente, o relacionamento dos dois vai se aprimorando e ganhando novos contornos a cada novo dia. Os cuidados, as trocas de carinho, as admirações cruzadas arrancam aplausos dos corações alheios. Não há posse, mas compartilhamento, como se fossem continuação um do outro. Enquanto muitos andam por aí querendo um casamento de celebridade, um amor pop-star, uma relação iluminada por holofotes, Tarcísio e Glória vivem um ato sentimental baseado na simplicidade e na espontaneidade. Uma aula não de teatro, mas de vida a dois. ...
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08/09/2015 -
Bata a porta
Faça-me um favor
Saindo por esta porta
Bata-a de uma vez
Eu não vivo de frestas
De brechas, tampouco,
Do pouco,
Do entre, do entreaberto,
Do que é e não é,
Mas do inteiro que há
Em cada um
Em cada qual
Eu peço, ordeno,
Determino
Que o que quiser ir
Saia de uma vez
Seja de que passado for
E por maior que seja a dor
Que o que não for para ficar
Plenamente
Intensamente...
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08/09/2015 -
Coração refugiado
Quando eu respiro dói porque não é fácil colocar para dentro esse ar de guerra. Há um mundo de sentimentos, de tormentos, de violências tantas jogado aos ventos. O grito de dor, o choro de fome, o nó na garganta, os sonhos abortados, os amores partidos, as perdas pra sempre, as palavras espinhadas... Tudo fica pelo ar se acumulando como nuvens invisíveis carregadas de negatividade. E ao respirar coloco para dentro de mim todo esse tempo ruim e sofro, sentimental que sou. Hoje meu coração refugiado está.
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07/09/2015 -
Uma lua na palhoça
Aqui na minha palhoça
Tem bossa em rama
E uma lua inteira
Que deita na cama
Com suas dez cordas
Esparramando modas
Pela mata sem poda
Lua cheia violeira
Que aqui dorme e some
Do céu sem explicação
Pra mor da imaginação
Nossa, que é maior
Do que essa palhoça
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07/09/2015 -
Eu árvore
Há muito tempo eu fui nasci, cresci e morri árvore. Eu tive raízes que ainda sinto me levando para o fundo da terra em busca de águas e minérios. Era formado por galhos, por tantos galhos, que me fazem achar dois braços pouco para tudo o que eu preciso abraçar. Não é à toa que de vez em quando um pássaro pousa em mim. Já fui desejado. Quiseram a minha sombra, os meus frutos maduros, as minhas sementes, o meu lenho. Quantos quiseram me derrubar. Hoje choro com minhas irmãs árvores sendo lambidas pelo fogo ou sangradas pelos machados. Quantas vezes eu me corto e meu sangue é seiva. Não estranho de me procurarem para fazer seus ninhos. Por todo o meu ser flui a energia das árvores, dos espíritos das árvores. Muitos riem e querem me dar camisas de força por me encontrar conversando com jacarandás, mangueiras, amoreiras, ipês, jabuticabeiras, jequitibás... Tolos! Não percebem que as árvores dançam, falam, cantam, mudam de lugar sob os narizes incrédulos. O mundo é das árvores que nos dão de comer, de beber, de vestir, de escrever... Por conta desse meu passado sou tão apegado com as folhas. Enquanto muitos só leem páginas de jornais, revistas ou livros eu sigo lendo as folhas das árvores e assim releio a minha história. Hoje eu ainda conto as prosas, os romances, os versos que o vento, no passado, deixou em minha cabeça, ou melhor, em minha copa.
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06/09/2015 -
Meu pé de mamão
Nasceu um pé de mamão no meu quintal. Cadê minha mãe pra fazer doce dele ainda verde? Cadê a viola para eu compor uma moda na sombra do mamoeiro? Sai pra lá sabiá pra você não ficar preso no visgo do leite do mamão. A molecada sobe no pé pra fazer a folha de canudo pras bolinhas de sabão. Tem passarinho bicando o mamão amarelinho pra desespero da moça que queria comê-lo no café da manhã de amanhã. Até o vizinho deu pra esticar o olho pro lado do mamoeiro. Tem gente gritando: olha o ladrão, pega o ladrão! Por precaução, amarrei meu vira-lata no pé de mamão. Deu chuva de vento, deu trovoada e o cachorro chorou, como choro de mamão, e derrubou o pé acabando de uma vez com o motivo da confusão.
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