Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 62 textos de setembro de 2015. Exibindo página 4 de 7.

16/09/2015 - Virando do avesso

Toma minha boca como sua e sai pela rua comemorando o fato de ter colocado entre eu e o tempo o seu retrato. Ouça balbuciar ainda em seus lábios, mesmo que distante de mim, a minha última palavra, já rouca, pedindo para você ficar mesmo sabendo que você não é de atender pedidos. Tropeça nos gatos vadios. É iluminado pelos faróis bêbados dos carros. Ganha cantadas baratas. E mesmo assim vai caminhando para longe de quem nunca lhe foi nada além de uma boca cheia de palavras sem sentido. Nunca entendeu um poema que foi dito aos seus ouvidos ou escritos em suas costas. No começo eu a rejeitei. E depois eu me neguei. E pior, acostumei a me negar para continuar lhe querendo. Comemora em outros copos o fato de ter feito desse homem sem saudade um copo vazio cheio de lembranças.


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15/09/2015 - Nêspera no galinheiro

No galinheiro tem um pé de ameixa-amarela
Que os entendidos chamam de nêspera
Meio que uma mistura de Inês com pera
As galinhas fazem ninho nos seus galhos
E eu, menino que sou, sei dos atalhos
Pra chegar até aos frutos doces e picantes
De casca aveludada e cor suculenta
É linda a florada da Inês, inesperada
Mas mais linda é a ameixas abotoadas
Pelas folhas amarrotadas e escuras
Num perfume gostoso e o mais curioso
É que as galinhas não comem nêspera...
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15/09/2015 - O seu chão

Não há nada melhor do que pisar o seu chão. Para alguns, o piso da casa, a grama do quintal, a areia da praia, o orvalho do mato, a água do riacho, o tapete do quarto, as costas do seu amor... Os pés buscam raízes invisíveis, conectando o seu agora com um passado muitas vezes desconhecido. Tudo o que está adormecido no seu chão chega a você por meio dos seus pés. Tudo o que brota, cresce e floresce no seu coração ou na sua cabeça vem do seu chão. Quando você se emociona, quando a vida ganha sentido, quando você mergulha num infinito é porque algo está passando do seu chão até você. Não importa se pisa nele de sapato ou descalço, se ele é sólido, líquido ou gasoso, se é bonito ou feio para os outros, se está no solo ou no céu, avesso ou de ponta cabeça, o seu chão é sagrado. ...
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14/09/2015 - As filhas de dona Sinhá

Seu Sinhô coloca o chapéu no peito quando as meninas de dona Sinhá passam pela rua em respeito a sua mãe que foi ter com as estrelas. Paixão antiga daquelas de tirar faísca de pedra, de apostar coração numa roleta, de montar burro xucro em noite de trovoada. Daquelas três meninas nenhuma era filha dele, mas ele tinha respeito como se fosse. Dona Sinhá deu de um tudo para seu Sinhô menos uma vida nova que ele pudesse ver crescer. Como castigo pelo que nem sabe, viu a mulher que amava ir para não voltar e as filhas dela com outros tomando corpo e o mesmo gênio ruim da mãe. Como pecador que não toma jeito, mas respeita tudo quanto é santo, seu Sinhô tira o chapéu pras meninas passarem perfumadas pelas lembranças de dona Sinhá.


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14/09/2015 - Espaço particular

Mal amanhece o dia
E lá vem você
Com alfinetes
Estourando
Minhas estrelas
Como se fossem balões
Qual o prazer?
De me tirar os sonhos
Que são tudo o que restou
Pra mim
Depois de você levar
Embora
O que eu fui
E o que eu queria ser
Deixa-me, por favor,
Com minhas estrelas
E vá viver
Com seu novo sol
Num outro espaço
Pois no meu buraco sem fundo
Só cabe um...
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13/09/2015 - Comermorar

Bota a linguiça pra fritar no fio de óleo porque ninguém vai morrer por ter prazer. Deixa dourar, deixa grudar um pouquinho no fundo da frigideira. Corta cebola e se chorar, agradeça a deus por salivar com os olhos diante do que ele criou. Mexe pra lá, mexe pra cá, o gosto já vai pegar. Sobe o cheiro e vale salpicar de salsinha, cebolinha e orégano para marcar o tempero. Cuidado pra não tampar, pois junta água e o caldo vai desandar. Deixa esborrifar nos azulejos, pois não é nada do que você não possa limpar. Sinta o frigir por inteiro. E quando frita e encorpada, solta a língua acebolada no prato e deixa o arroz se lambuzar naquele fundo de frigideira. Depois é só agradecer e comermorar. ...
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13/09/2015 - Se cheguei até aqui

Se cheguei até aqui
É porque eu perdi
Tanto de mim
Pelas trilhas, jardins
Tentando lhe encontrar

Como balão que precisa
Se livrar do peso pra voar
Como barco que solta
As ancoras para se jogar
Aos mistérios do mar

Eu vou largando sonhos
Expectativas, projetos,
Fantasias e tudo mais
Por aí só pelo prazer
De correr pra você

Se cheguei até aqui
É porque eu perdi ...
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12/09/2015 - Nunca vi

Nunca vi ninho de cobra, pito de saci nem mesmo berrante feito de chifre de peixe-boi. Nunca vi rastro de boto-cor-de-rosa nem pé de mafagafo nem riacho que corre de trás pra frente. Nunca vi lagartixa mostrar o dente, rosa dar oi pra espinho e felicidade dar prosa. Nunca vi sobra de brigadeiro, santo sem fé e tacho sem raspa de colher. Nunca vi semente de nuvem, pescador sem saudade e ferrugem que dá e some. Nunca vi homem sem idade, lobisomem sem fome e deus sem coragem. Nunca vi roda de carruagem mover moinho, vinho virar água e lua usar anágua. Nunca vi ovo de sapo, anjo de sapato e galinha que não é boa de papo. Nunca vi pássaro sem asa, caracol sem casa e fogão a lenha sem brasa. Nunca vi estrada que não volta, nó que não solta e abelha-rainha sem escolta. Nunca vi procissão de morcego, jacaré tocando violão, mulher dando sossego ao coração...


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12/09/2015 - É o mato, é o mar...

Hoje tem festa na Aldeia
Do cacique Beiramar
Hoje o mato encontra o mar
Quando as águas do seu Tupinambá
Chegarem às ondas de dona Iemanjá
E vai acender fogueira e lua cheia
Vai dar dança e corpo pintado
Vai ter pássaro que rodeia
Índio e sereia por todo lado
A estrela do mar aluminou
O povo das matas tá convidado
A árvore de cocar serenou
O povo do mar vem pra esse lado
O mar ressaca nas matas
O mato se banha no mar...
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11/09/2015 - Como o pescador

Eu amava como sonhava
O pescador
Que ia para o mar e rezava
Para voltar pro seu amor
E quanto mais
O barquinho chacoalhava
Pelas ondas ainda mais
O pescador se apegava
Na lembrança da sua iaiá
Que ficou do lado de lá
Iaiá não tirava os pés da areia
Era feita de terra, de solo firme,
Já ioiô, o pescador, vivia de caso
Com alguma sereia num filme
Do acaso entre a doce iaiá
E o mar salgado
...
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