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Encontrados 62 textos de setembro de 2015. Exibindo página 3 de 7.
21/09/2015 -
Rio dá no mar
As águas do rio vão dar no mar. Não importa o tempo, um dia elas vão chegar. As águas do rio só querem desaguar. E eu que sou folha caída na correnteza mais dia menos dia vou marejar. E como as águas não param de correr o doce vai se salgar. As águas vão e os peixes ficam. Peixe de rio não cai em rede de pescador que sai pro mar. Mas eu que sou folha caída na correnteza vou balançar nas ondas e cicatrizar o que fui naquele mundão de sal. Êe oceano, o homem do mato está pra chegar. Êe estrela do mar, vem pra ressaca me esperar.
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20/09/2015 -
E por amor
E por amor
Me envolvi
Me despi
E me doí
Me abandonei
E me maltratei
E me condenei
Por amor
Eu cai
Eu vivi
Eu chorei
E me tomei
E me danei
E me trai
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20/09/2015 -
Coronel do Bode
Quem é que pode com o Coronel do Bode? Acode, acode que dona Sinhazinha com ele não pode. Ele a sacode e berra feito bode. Não pode, não pode. Dona Sinhazinha merecia um lorde, mas o Coronel, que nem o diabo pode, a fez sozinha, na verdade, fez dela uma ode à solidão. No sertão quem é que implode o império do Coronel do Bode? Pra mode da alegria de Sinhazinha bem que o vento ao invés da chuva podia trazer o lorde. Um lorde capaz de fazer Sinhazinha viúva. Mas enquanto o lorde não vem, Sinhazinha fica à mercê do pagode do Coronel do Bode num compromisso de fio de bigode. E bigode não falta no Coronel do Bode, tanto que quando chove se sacode. E quem é que pode com o bode que berra e morde? ...
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19/09/2015 -
Quando o violeiro passou
Quando o violeiro passou tocando sua viola, o asfaltou rachou e pé de tudo quanto é coisa brotou. Quem pedia esmola passou a pedir bis. A cidade se alegrou e até a dor pensou que era feliz. Quem estava sozinho se juntou e quem vivia separo se reencontrou. A música tomou de conta dos edifícios, do primeiro ao último andar, e desfez a impressão de que amar era um bicho difícil. O lixo virou semente. Doente saiu do hospital a dançar. Quando o violeiro passou, sobre o seu cavalo, tocando sua viola, tudo quando foi galo de enfeite cantou. Como circo chegando antigamente, a cidade se enfeitiçou e não falou de outra coisa senão da batida do violeiro que foi absorvida por dentro até mesmo por quem já vivia com o peito seco. A música floriu o beco, plantou sonhos na avenida e revirou a terra dos corações, preparando-os para receber o amor. Quando o violeiro passou de cavalo, viola e chapéu até quem não acreditava em santo, tomou-se de encanto pelas coisas do céu. E quando o violeiro passou, indo-se embora, sem demora a noite caiu e sua viola pintou no céu uma lua de mel. E teve apaixonamentos e entregamentos e casamentos num piscar de segundos como se o amor tivesse chovido no mundo.
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19/09/2015 -
Para de se enganar
Para de mentir, de fugir, de esconder
Se sempre disse: apaixonar é sofrer...
Vacilou, se enganou, amar é sorrir,
É querer ir além do bem, é cair em si
Para de falar que a cigarra faz algazarra
Até explodir chamando por seu amor
Deixa de achar que o espinho machuca
A rosa, que o malandro enche de prosa
Aquela que por ele é maluca de paixão,
Desacredita que o coração se alimenta
De sofrimento. Quebra essa maldição,
Para de se enganar, de doer, e inventa...
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18/09/2015 -
Pensando ser pipa
Pensando ser pipa, o moleque subiu. Subiu na cadeira, na escada, na laje. Abriu os braços e esperou pelo vento. E quando ventou forte, correu, como que empinando a si mesmo, e pulou. Caiu. Quebrou o braço. Levou uma pisa da mãe. Perdeu o ano na escola. Mas não desistiu. Insistiu que queria ser pipa. Fez vareta. Caprichou na rabiola. Engomou o papel de seda. Pulou do barranco do macaco e quebrou a perna. Ficou de castigo. Levou um fora da Rosinha, que não queria namorar maluco. Passou um tempo e dando estirão no asfalto tentando pegar embalo com o vento para subir no céu da zona sul foi atropelado por um ônibus. Deu em tudo quanto é jornal. Três meses na UTI. A mãe fez promessa. O menino acordou. Um empresário se comoveu com a história do menino que queria ser pipa e o levou para voar de avião, de helicóptero, de asa delta. O menino ficou agradecido, mas não gostou. Queria mesmo era ser pipa. Cresceu frustrado prometendo para a mãe nunca mais fazer loucura. A mãe morreu. Num dia de vendaval se animou novamente, sentiu que podia. De um arranha-céu, onde trabalhava como pedreiro, correu, abriu os braços e pulou. Fechou os olhos e se sentiu pipa. O vento o sustentou por alguns segundos que pareceram anos inteiros. Não importava se seria seu último voo, se ia se acabar no chão ou nas mãos de algum ladrão. Pipa não pensa, apenas luta para se manter no céu.
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18/09/2015 -
Beijo sem registro
Eu amanhã
Hei de sentir falta
De ter saudade
Do beijo
Que ontem
Você deixou
Para hoje
Sabendo que agora
Já teríamos nos perdido.
E como sentir saudade
Do que o tempo
Não registrou?
E como lembrar
De um beijo
Que nunca existiu?
Da falta da sua boca
Na minha
Nascerá o silêncio
De nós dois.
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17/09/2015 -
Os estouros de Zé Piruá
Zé Piruá é bem moço ainda nos olhos que se encantam com as explosões do milho em pipoca mesmo depois de tantos anos vendo essa transformação dia atrás de dia bem na sua frente. Mesmo com os cabelos branquejados e com os pés tendo perdido a conta de quantos passos já foram dados empurrando aquele carrinho de pipoca pelas ruas do relento, ele faz festa a cada nova estourada. Chega que sua alma dança dentro do corpo de tanta alegria. E quando chega uma criança, seja de que idade for, ele enche aquele saquinho de papel como se enchesse um céu de estrelas. O choro vira sorriso. A birra vira agrado. A fome vira paz. O desejo vira prazer. Zé Piruá, pipoqueiro por vocação, profundo entendedor da natureza da pipoca, sempre diz que o estouro é de dentro pra fora. E assim, pipoqueando pelo mundo, com a sabedoria dos simples, vai empurrando seu carrinho dividido entre pipoca de sal e colorida, para onde lhe manda o vento. E como um homem que se dedica aos estouros tem um apelido encruado, sinônimo daquilo que não deu certo – piruá? Quando alguém lhe pergunta sobre isso a resposta é certeira. Os olhos sorriem e ele diz que é porque assim ele se alembra de que é preciso continuar estourando; Estourando mais e melhor do que estourou até agora. ...
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17/09/2015 -
Se for para sair
Se for para sair dos meus braços
Que saia logo. Aperte os passos
Casa habitada por muito tempo
Acaba absorvendo o sentimento
De quem nela habita. Palpita
Em meu peito, mas não repita
A última que se aninhou
E ao bater asas pra outro verão
Abandonou toda sua agonia
Neste peito que de nada sabia
Se for para sair dos meus braços
Que o faça já. Desdê os laços
Antes que os destinos deem nó
Tendo tendências ao abandono...
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16/09/2015 -
Luzir nas trevas
Espia
Esses dedos de anéis ciganos
Caminhando por costelas frias
Que não são costelas de Adão
E mia
Sem se importar se as maçãs
Aparecerão mordidas ou não
Ao raiar da manhã
Confia
Seus segredos e planos
E confessa quantas Evas
Gritam dentro de você
E adia
O seu pedido de socorro
Porque mais uma vez
Corro pras suas trevas
Sorria
E me leva. ...
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