Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 59 textos de maio de 2015. Exibindo página 2 de 6.

26/05/2015 - E deixa viver

Eu ainda não sei o que vou fazer amanhã. Só tenho o hoje e o hoje é só o hoje, tanto que nem sabe do amanhã. Eu ainda não sei se vou pro norte, se vou subir ou descer, se é praia ou montanha, só sei que a sorte vai me querer. Eu ainda não sei o que escrever, só quando virar a próxima página é que eu vou saber. E deixa viver.

Eu ainda não sei o que será do meu amanhã, só sei que eu vou ser o que eu sou e assim meu sonho vai pra onde vou. Não sei o que será, mas o que há de ser será. Pode ser que eu seja estrada, casa, asa... Pode ser que seja sim ou que seja não, só sei que vou seguir o coração. Estarei entre a verdade e o mistério. E deixa viver. ...
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26/05/2015 - A lua do sertão

A lua do sertão
Se veste de xote
E tem por mote
Ser noiva de João

A lua do sertão
Tem um xaxado
E um véu bordado
Nem toca o chão

A lua do sertão
Pula sete fogueiras
E tem assanhação
De sinhá faceira

A lua do sertão
Quebra-queixo
Nos tira do eixo
Não sabe dizê não


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25/05/2015 - Coração folião

Ai meu irmão
Meu coração
Nasceu pra violão
Mas apanha
Tal tamborim
Em noite de folia
Ai e me arranha
Como uma cuíca
Cujo gemido fica
E, ai, me assanha
Como fantasia
De pobre que mal cobre
A intimidade
Com retalhos
De um pulsar
Que vai além
Da saudade que me ganha

Ai meu irmão
Chora no meu cavaco
Deixa mudo meu surdo
Bota alegria a vácuo
Joga confete e serpentina...
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25/05/2015 - Acaloramento

Um prato de sopa de avó com um pão entardecido aquece o estômago e a alma de quem não se esquece. O colo de quem se quer bem cobre mais do que coberta de casal que ainda se chama muitos e muitos anos depois de meu bem. A expectativa da chegada da pessoa amada incendeia mais do que o fogaréu da partida. O fogão a lenha é como nosso peito cozinhando uma paixão. E a vontade proibida nos queima entre o pecado e o desejo. Um pão sovado por mãos que são mães alimenta e sustenta de fermento os sonhos que crescerão. O porta-retratos bem postado dá gosto ao passado e morna o presente como banho de recém-nascido. A saudade quando remexe dentro da gente é como criança brincando em nossas entranhas com suas manhas e artimanhas. A cama desarrumada é um ninho que ferve a quem nela se atreve. O sol que a nós se estende pode dar calor como uma boa lua render suador. E quando a fé entra em ebulição não é preciso dizer mais nada não.


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24/05/2015 - Galo do dia

Ainda com os véus escuros da noite tomando conta dos sete céus, o galo que brilha avermelhado, ainda com os olhos de sono, suja seus pés na terra orvalhada em busca do melhor lugar para cantar. É como o artista a procura do palco perfeito. O seu público ainda dorme. As galinhas estão quietas no poleiro. As chocas estão acomodadas nos ninhos. As que já picaram estão cobrindo os pintinhos. O lavrador aproveita cada segundo de sono para se recuperar da última lida e sonha com chuva para plantação vingar. A camponesa está num baile, num vestido de tantos brilhos, dançando entre estrelas... ao menos no sonho. Os meninos dormem como se nunca mais fossem acordar. O cachorro perdigueiro dorme na porta da casa como que vigia entregue ao sono. Os porcos estão mergulhados na lama em sonhos porcos. O gado dorme junto para enfrentar a friagem. O ar frio que desce branqueando árvores e telhados desencoraja os pássaros que já despertaram. Mas o galo, de porte nobre, pensa mais no seu reino do que em si próprio, escala um pé de urucum, galho a galho, e a certa altura pula pra beira da primeira telha que cobre o galinheiro e lá, cisca como que tirando faísca, estufa o feito, olha pra cima como que querendo trazer um sol que ainda não há, bate as asas, e canta para acordar o mundo. O lavrador olha pro tempo e coloca as botas. A camponesa assopra as brasas para coar o café. A filharada reclama pra sair da cama. A passarada regozija pelos ares e galhas. Os porcos rolam. A galinhada cisca. O gado pasta. O bezerro dá cabeça na ubre da mãe. E o galo vai assistindo o seu espetáculo, pois o seu papel embora de protagonista é breve: abrir as cortinas pro dia passar.


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23/05/2015 - Quebra-cabeça coração

Eu deixei de ser à toa
E agora sou um homem
Que para além da fome
Sente que pode voar
E do alto do precipício voa
E ao fim do sonhadeiro voa
E entre dois mundos voa
Voa em busca das partes
Perdidas, proibidas, partidas
Fazendo da busca uma arte
Indo sem lastro ou embaraço
Ao encontro dos tantos pedaços
Do quebra-cabeça do coração
Só que ao contrário de passos
Esse homem se joga e voa
Num voo que não é à toa ...
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23/05/2015 - Iludicamente

Nem todo vento enverga. Nem toda chuva molha. Nem todo puxão rasga. Nem toda criatura é do criador. Nem toda morte leva. Nem todo laço prende. Nem toda dor fere. Nem todo tempo é suficiente. Nem todo amor é pra sempre. Nem toda loucura dura. Nem todo calor esquenta. Nem todo coração se abre. Nem toda flor perfuma. Nem todo abraço acalenta. Nem toda boca geme. Nem toda palavra faz sentido. Nem todo braço é asa. Nem toda vida é para valer. Nem todo passado fica. Nem toda semente brota. Nem todo broto vinga. Nem toda partida volta. Nem todo bem é bom. Nem todo mal é ruim. Nem toda mulher quer. Nem toda fé é santa. Nem toda princesa tem reino. Nem todo cachorro late. Nem todo cacau é chocolate. Nem todo vento acaba. Nem toda estrada curva. Nem todo açúcar adoça. Nem toda pimenta queima. Nem toda poesia é poema. Nem todo choro é triste. Nem toda porta fecha. Nem todo galo acorda. Nem todo ser é pra ser. Nem todo humano tem plano. Nem toda esperança se alcança. Nem todo pivete é moleque. Nem toda seita é feita. Nem toda pedra quebra. Nem todo sol nasce. Nem todo beijo estala. Nem todo corpo se encaixa. Nem todo fim é o fim.


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22/05/2015 - Pelas cobertas

Quando o frio lá fora me aperta
Corro pra debaixo das cobertas
Fazendo da cama minha fortaleza
Entro em lençóis e lãs feito tatu
Cavando fundo e mais fundo
Em busca da quentura do mundo
E então o coração se aquieta
Ou não e eu fico de todo nu
E parece não haver mais tristeza
Num calor que chega me transpira
E me inspira a suar minha solidão
Botando pra fora essa alma fria
Que no suador sai e me arrepia


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22/05/2015 - A mão da realidade

Podia ter sido tão diferente. A gente podia ter sido pra sempre. Nosso amor, de porta-retrato, devia ter sido tudo o que foi de fato em nossas cabeças. Mas a realidade foi mais forte. E olha que para a realidade ter conseguido vencer nossos sonhos ela foi mais do que forte. Eu sonhei tanto. Você sonhou que foi um encanto. E a gente se sonhou como nunca se sonhou. Mas veio o futuro e nos pegou, pois fica fácil de destruir quando não se tem passado. E nós dois sonhamos o amanhã se esquecendo de viver o hoje. Fomos inconsequentes. Irresponsáveis. Canalhas com nós mesmos. Pois nos abortamos pensando que poderíamos nascer depois.


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21/05/2015 - E o hoje o que é?

O cerne da questão é que hoje
Preferimos o ontem e ontem
Queríamos apenas o amanhã

E quando enfim chegávamos
No amanhã nós sonhávamos
Só com o depois do amanhã

Ora, que coisa é essa agora
Que não sossega o coração
Perdido no tempo de ilusão

O tempo, cerrado nevoeiro,
Nubla nossas vistas e ilude
Pois a nossa vida é no hoje

E o hoje o que é senão a divisão
Irracional, imaginária e real...
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