Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 62 textos de março de 2015. Exibindo página 5 de 7.

11/03/2015 - Um dia não é um dia

Um dia é pouco para quem é louco. Um dia é muito para quem não tem assunto. Um dia é dilema, problema e ao mesmo tempo poema. Um dia é belo e pode ter gosto de marmelo. Um dia é fundo quando se dá conta do que é o mundo. Um dia é sublime se formos além da vitrine. Um dia é intimista ao gosto do artista. Um dia é enfático para o lunático. Um dia é vendaval para manchete de jornal. Um dia é avesso para quem não tem preço. Um dia é incisivo para quem é vivo. Um dia é solitário para quem o peixinho dourado do aquário. Um dia é multidão para a galinha que leva a vida de grão em grão. Um dia é o recomeço do começo ou o contraponto do final em ponto. ...
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11/03/2015 - De veneta

Leva um beijo para casa
Lambuze-me feito abelha
Faça o que der na telha
Quebra o gelo seja brasa
Pegue o último cometa
Rumo aos sóis girassóis
Lance poemas da corneta
E nunca me deixe a sós


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10/03/2015 - Sou feito de terra

Sou feito de uma colcha de retalhos
Meu pai foi café coado no pano
Minha mãe foi de jabuticabeira
Meu coração é defumado no fumeiro
Queimo intenso como fogão à lenha
Sou caipira em cada poro, extrapolo
Caipirices em tudo o que sou e faço
Vou cortando estradão feito boiada
Vou festejando a vida feito leitão
Vou anunciando cada dia feito galo
Tenho gosto de fruta colhida no pé
Inocência de menina de pé descalço
E o frescor de pasto orvalhado ...
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10/03/2015 - Esqueci-me

Esqueci-me de marcar meus poemas preferidos e hoje estou perdido dentre tantos versos. Esqueci-me de guardar minhas memórias em compartimentos à prova do tempo. Esqueci-me de listar os beijos que ainda tinha para dar. Esqueci-me de terminar de ler tantos livros que poderiam ter mudado muito em mim. Esqueci-me de dizer tantos eu te amos por vergonha ou medo ou simplesmente porque deixei para depois e o depois se foi. Esqueci-me de acompanhar as mudanças da fase da lua nos últimos anos. Esqueci-me de conversar com o vento e hoje ele está mais calado comigo. Esqueci-me de que o futuro se torna passado rápido demais. Esqueci-me de alimentar tantos sonhos acreditando que eles resistiriam ao passar da vida. Esqueci-me de olhar nos olhos do meu destino e fui tocando, tocando, tocando... Esqueci-me de que a felicidade é o agora, aliás, tudo o que sou e, o que importa e o que significa de fato é o agora. Esqueci-me de fazer minhas receitas prediletas obrigando-me ao arroz com feijão diário. Esqueci-me de que é preciso não só engolir, mas apreciar, degustar, descobrir novos sabores no velho prato. Esqueci-me de tentar ser pássaro ficando cada vez mais preso ao chão. Esqueci-me de esquecer tantas coisas inúteis, doloridas e pesadas que pesam desnecessariamente na bagagem. Esqueci-me de podar alguns medos que hoje são mais fortes do que eu. Esqueci-me de colocar para fora tanta coisa que hoje não quer mais sair. Esqueci-me de dançar mesmo que tropeçando nos próprios passos, de cantar mesmo que desafinado, de continuar encantado como menino. Esqueci-me de que a vida é muito mais do que aquilo que se vê, que se ouve, que se toca... Esqueci-me de que não existe infinito, eterno, para sempre se não houver o hoje. Esqueci-me de que o exato momento é único e mágico, a chave do nosso mundo.


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09/03/2015 - Tarde de temporal

Entre raios, vejo seus olhos alumiando temporais
Eu te amos trovejam uma saudade de granizo
Que cai ferindo, cortando, zunindo corações
Chuvosos alagados de pranto, dados a enchentes
E outras inundações de verão. Bocas de vento
Se beijam entre nuvens e folhas que rodopiam
Em redemoinhos de sentimento cegos
Que arrastam multidões de cupidos e flechados
Que entre rodopios rezam pelo fim
Ou pela intensificação do toró

Os galhos envergam, o capim deita...
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09/03/2015 - Caipirice de luto

Há alguns pés de vento que vêm para cumprir o destino. No mesmo sopro, o vento sertanejo levou Zé Rico e Inezita Barroso. Ambos são parte da minha infância e juventude. Os domingos no sítio ao som de Milionário e José Rico. Os domingos em casa ao ritmo de Viola Minha Viola. Antônio e Liberato, meus dois avôs, encantavam-se tanto com a música de Zé Rico quanto com a de Inezita. Pode parecer antiquado para aqueles que colocaram o sertanejo na universidade, mas não há nada mais atual e autêntico do que essa dupla caipira levada pelo vento de março. ...
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08/03/2015 - Às mulheres

Às responsáveis pela vida
E pela paixão
A saudação
E as reverências
E intermitências
De um poeta que lida
Diretamente
E apaixonadamente
Com os ventres
Os seios, as bocas, os anseios
As ternuras e as loucuras
As pernas, a nuca, as costas
E as encostas
De quem é porto e mar solto
De quem é cancela e janela
De quem é mais que braço
É abraço
De quem é mais que olhos
É o conjunto de óleos...
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08/03/2015 - Almoço só

Ai meu amor, o almoço está pronto. Eu ainda ando tonto, mas fiz tudo o que você mais gosta. Nossa mesa está posta e seu lugar, vazio. Ai chega a me dar arrepio colocar seu prato e você me dar esse destrato. Sua ausência é corte em minha alma, é o desarvoramento que cala fundo na minha calma, é proeminência à morte. Ai meu amor eu preciso ser forte para engolir a minha solidão. Eu tenho catado esperança como se cata feijão. Eu ando procurando você pelos temperos, achando-a em cada cheiro. Comprei aquela louça que você sempre quis e fiz o cardápio para lhe fazer mais que feliz. Fiz suco para manchar seus lábios e num romantismo sábio estou pronto para dar a vida minha pouca na sua boca. Ai meu amor como é difícil conversar com você sem escutar sua voz, ser apenas eu ao contrário de sermos nós. Fiz a sobremesa inspirado em sua beleza que se reflete no espelho como a minha tristeza de ser tão só, de ser tão só, de ser tão só que a minha poesia queima e o meu dia vira pó.


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07/03/2015 - Noite no mato

Quando o sol se abaixa no meio da mata e a bicharada começa a silenciar. O verde escure, a lua se apruma e o rio corre bem mais devagar. A montanha azul some na bruma da noite e as estrelas como vagalumes começam a piscar. A reza é pro dia logo clarear porque nas sombras do prefácio ao prólogo da vida tudo pode tombar. O medo no coração de um rouxinol é proporcional ao apetite da onça que caminha em segredo. A caverna do urso morcego só fica de ponta-cabeça. A esperança se perde no meio do capinzal e nada é igual na batalha da sobrevivência. Cresça e pode perder o pescoço. Encolha-se e pode virar apenas o osso. Todo mundo está de olho em todo mundo. O estômago da noite cala lá no fundo.


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07/03/2015 - Roda do destino

Um dia a gente se encontra
No outro a gente apronta
E assim a roda do destino
Põe a girar seus viventes
Em poentes e nascentes
Em meninas e meninos
Tudo se acha e encaixa
De forma tão natural
A paixão é tão sagrada
Que devia vestir túnica
Somos nós que fazemos
Que nascemos e crescemos
Tudo está na nossa mão
O mundo é nossa profissão
Temos que trabalhar dia a dia
Quebrando pedra para tirar
A poesia. Eis a nossa sina...
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