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Encontrados 62 textos de março de 2015. Exibindo página 2 de 7.
26/03/2015 -
A vida de quanto em quanto
De quantas idas e vindas, com direito a mergulhos num minúsculo oceano de pólen, precisa uma abelha para fazer um litro de mel? De quantos sóis e chuvas carecem uma manga para madurar corretamente a ponto de ser açúcar na medida exata? Quantas ramas de trigo precisam dourar para dar vida a um único pão? Quantas folhas precisam se unir para não deixar pelado um jequitibá-rei? Quantos finitos precisam ser derrubados para se chegar ao infinito? Quantas pedras são necessárias para fazer o caminho de um vencedor? Quantos eu te amos precisam ser ouvidos até que uma criatura se convença de que é amada? Com quantos embalos se faz uma criança dormir? Um, quarenta, oitenta, cento e vinte, duzentos... Quantos pulsos por minuto são prova de que uma pessoa está viva e apaixonada? Quantas jabuticabas maduram são necessárias para fazer um amante delas escalar cegamente pelos galhos de uma jabuticabeira? Quanto de vento se precisa para fazer girar um cata-vento? Quanto ridícula deve ser uma carta de amor para ser verdadeira? Quanto nós precisamos tirar de nós mesmos, no tocante às lembranças, promessas, preocupações, medos, desejos, para estarmos verdadeiramente nus? Quantas caretas se fazem necessária para conseguir o sorriso de uma criança? De quantas notas o compositor precisa para uma canção inesquecível? Quantas ondas o mar precisa criar para manter o equilíbrio do mundo num vai e vem constante? Quantas velas precisam ser acesas para iluminar o caminho de uma alma? Quantos poetas ainda precisam nascer para que os sentimentos não sejam ignorados? Quantas gotas de água fazem um rio? Quantos sapatos devem existir no armário de uma mulher para que ela não se sinta descalça? Quantas passadas separam o sonho da realização? Por quantas luas deve passar um romance até ele ser para sempre? Quantos erros são necessários para o acerto? Quantos feijões precisam se juntar para dar uma feijoada? Quantas flores urgem raiar para fazer o dia amanhecer em primavera? Quantas noites de sono hão de vir para se dar o reencontro com aquele sonho que ficou incompleto? De quantas histórias precisa a nossa história para valer a pena?
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26/03/2015 -
Dá jeito
Põe defeito
No tempo
Põe a culpa
Em deus
Mas dá jeito
No vento
Que surta
Os ateus
De sentimento
Que não dão corda
Ao amor à moda
De Julieta e Romeu
De Isolda e Tristão
De Eurídice e Orfeu
Põe defeito
No perdão
Fala que é
Malfeito
O coração
Da mulher
Mas dá jeito
Nessa ilusão
Que corrói
Que destrói
Que ainda mói
Julieta e Romeu...
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25/03/2015 -
Todaria
Nem toda tarde arde
Nem todo sol dá arrebol
Nem todo medo vem cedo
Nem toda fé dá pé
Nem todo jardim dá alecrim
Nem todo arcanjo foi anjo
Nem toda esperança cansa
Nem toda sina se destina
Nem toda beleza põe mesa
Nem toda peia clareia
Nem toda rosa é prosa
Nem todo curió dá timbó
Nem toda bruxa murcha
Nem toda moça é de louça
Nem todo pecado é castigado
Nem toda janela dá aquarela
Nem toda galinha bota sozinha...
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25/03/2015 -
Pe(r)dição
Ela me pede um beijo, não dou. Ela me pede para ser seu super-herói, não sou. Ela me pede um abraço, passo. Ela me pede uma cena obscena, faço cinema. Ela me pede o proibido, dou como lido. Ela me pede um cachorro, corro. Ela me pede “não solta”, dou volta. Ela me pede resposta, dou as costas. Ela me pede em casamento, entrego ao vento. Ela me pede uma oportunidade, falo em saudade. Ela me pede uma dança, digo “não cansa?”. Ela me pede um sorriso, peço juízo. Ela me pede colo, amolo. Ela me pede estrada, dou em nada. Ela me pede atitude, fico amiúde. Ela me pede futuro, depuro. Ela me pede um sonho, proponho. Ela me pede tamarindo, vou indo. Ela me pede minha boca, chamo-a de louca. Ela me pede afeto, veto. Ela me pede para deitar em seus seios, volteio. Ela me pede um toque, digo “não provoque”. Ela me pede miragem, eu aragem. Ela me pede sementes, faço-me ausente. Ela me pede trégua, vou a léguas. Ela me pede choro, quebro o decoro. Ela me pede presença, peço licença. Ela me pede carinho, aninho. Ela me pede cumplicidade, dou realidade. Ela me pede desordem, sou pela ordem. Ela me pede casa, só tenho asas. Ela me pede um canto, espanto. Ela me pede cupuaçu, dou umbu. Ela me pede que a deixe descalça, vou numa valsa. Ela me pede o que não espero, faço-me bolero. Ela me pede mambo, sou tango. Ela me pede para me ver nu, desligo o abajur. Ela me pede companhia, dou poesia.
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24/03/2015 -
Carriola de sonhos
Há quem cate laranja, papelão, algodão... Eu cato sonhos... Vou pelas ruas da poesia catando sonhos esquecidos ou abandonados... Ora empurrando ora puxando vou levando minha carriola onde deposito os sonhos que encontro... Muitos chamam essa carriola de coração, pra mim é um carrinho de mão cheio de sonhos que levo pra cima e pra baixo... Vou catando sonhos como quem cata moedas, parafusos, figurinhas... Levo sonhos meus e sonhos alheios, que passam a ser meus... Adoto sonhos de rua como quem adota cachorros ou gatos vira-latas... No final das contas, é como se tivessem nascidos de mim... Sonhos possíveis e impossíveis se misturam na minha carriola... Há sonhos de todos os tamanhos e intensidades... Sonhos de amor, de felicidade, de saúde, de paz, de prosperidade, de encontros e reencontros... Sonhos para muito mais do que uma vida inteira... Sonhos que precisam de cuidados, de serem alimentados, de serem colocados em terreno fértil... E nessa minha carriola, que muitos chamam de coração, todo sonho pega, vinga, viça... Não me importo com o que dizem, mas com o que sinto... E me sinto pai de cada um desses sonhos que seguem comigo... Já viu aqueles andarilhos que empurram seus carrinhos cercados por cachorros que vão latindo, brincando, festejando... Pois bem, vou empurrando a minha carriola repleta de sonhos, que quando estão prestes a se realizar vão fazendo festa abrindo e dando segurança e significado ao meu caminho... Um caminho de sonhos... Vim de um sonho e vou ao encontro de outros sonhos...
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24/03/2015 -
Vamos brincar
Vamos brincar
Você pega a minha mão
E a leva pelo seu corpo
Revelando-me seu mapa
Astral e visceral
De uma só vez
Vamos brincar
Deita em minhas costas
E em feitio de caramujo
Levo-te como minha casa
Onde eu entro
Por perigo ou prazer
Vamos brincar
Você coloca sua boca
Na minha e só a deixa
Quando, sem pausas,
Disser todo o amor
Que tem para dizer
Vamos brincar...
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23/03/2015 -
A chuva no bico do João
Choveu, a menina entrou debaixo da coberta. Choveu, a lavadeira se queixou. Choveu, o pintor de parede preocupou-se com sua meta. Choveu, o sino da igreja nem tocou. Choveu, o menino não foi jogar bola. Choveu, deu preguiça de ir para escola. Choveu, o jardineiro agradeceu. Choveu, a florista enlouqueceu. Choveu, o carro não saiu do lugar. Choveu, no fogão uma sopa pro jantar. Choveu, guarda-chuvas e sombrinhas se abriram como flor na primavera. Choveu, a roupa deu em lama. Choveu, não faltaram convites para cama. Choveu, tudo fica mais lento e o relógio não espera. Choveu, o pescador se animou. Choveu, a mulher reclamou que ninguém limpou o pé para entrar em casa. Choveu, passarinho sacudiu a asa. Choveu, passarada cantou pra valer. Choveu, João que é de barro ganhou o que fazer. Choveu, João colheu sua matéria-prima pelo quintal. Choveu, Joana-de-barro pode fazer seu enxoval. Choveu, João-de-barro vai construir no alto do angico. Choveu, e o João-de-barro levou a chuva no bico.
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23/03/2015 -
Não medra
Diante das pedras
Não medra
Não peça
Licença
Não meça
Presença
Não pensa
Em seu linho
Siga o caminho
Pisa as pedras
Como se uvas
Fazendo vinho
Do sangue
Que cavalga
Pelo interior
Das pedras
Feito mustangue
Em viagem
Sem trégua
Sem régua
Por léguas
Num amor
Bruto
Incorrupto
Abrupto
Selvagem
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22/03/2015 -
Precisadaria
Preciso te dizer
Que preciso
Precisar
Desquerer
Tu precisada
De mim
Eu precisado
De tu
Num amor
Impreciso
Assim
Eu e tu, tu e eu
Precisamos romper
Com as imprecisões
Dessa precisadaria...
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22/03/2015 -
Quero o tempo de ter tempo
Quero o tempo de ter tempo para observar para que lado o vento sopra. Quero o tempo de ter tempo para acompanhar a flor virando fruto. Quero o tempo de ter tempo para esperar a fruta madurar e não precisar comê-la de vez. Quero o tempo de ter tempo para desvendar os mistérios da lua que do alto de seu altar nos diz tanto. Quero o tempo de ter tempo o intuito de colher os sinais do tempo para saber se vai chover ou se vai estiar. Quero o tempo de ter tempo para aprender com a chuva que cai sem pedir nada em troca. Quero o tempo de ter tempo para saber qual hora do dia o rio dá peixe. Quero o tempo de ter tempo para pensar em quem amo, unindo ação ao sentimento. Quero o tempo de ter tempo para colocar no papel tudo o que meu coração me dita, linha por linha, verso a verso. Quero o tempo de ter tempo de apurar o doce alcançando o ponto ideal. Quero o tempo de ter tempo para provar novos sabores, para cheirar novos perfumes, para olhar novas cores, para ouvir nossos sons... que estão por aí e passam despercebidos em minha correria. Quero o tempo de ter tempo para engolir cada despedida, aceitar e aprender com cada adeus. Quero o tempo de ter tempo para me encantar, pois preciso viver encantado, caso contrário tendo a murchar. Quero o tempo de ter tempo para navegar com fé numa total entrega em águas profundas, sejam elas passadas ou vindouras. Quero o tempo de ter tempo de alimentar meus sonhos, muitos necessitando de receberem o seu comer na boca. Quero o tempo de ter tempo de viver cada dia de uma vez, intensamente, sem me preocupar com as promessas do futuro ou com as dívidas do passado. Quero o tempo de ter tempo para não ser injusto com nada ou ninguém que pede um pouco ou muito de mim. Quero o tempo de ter tempo para não só falar, mas fazer valer cada eu te amo declarado por minha língua, por meus olhos ou por minhas mãos. Quero o tempo de ter tempo para gestações completas de belos e verdadeiros amores. Quero o tempo de ter tempo para me dedicar aos livros e aos discos que me esperam. Quero o tempo de ter tempo para fazer da vida um tremendo e merecido espetáculo. Quero o tempo de ter tempo para realizar cada palavra dita ou escrita por mim. Quero o tempo de ter tempo para aprender tudo o que eu preciso para não carregar arrependimento algum, seja aprender a dançar, a tocar piano, a fazer uma nova receita, para saltar de asa delta, para conhecer outros mares... Quero o tempo de ter tempo para agradecer tudo o que até então conquistei e também o que não obtive, entendendo as razões desses não acontecimentos. Quero o tempo de ter tempo para ser melhor do que sou hoje e oferecer essas melhorias ao tempo que me esculpe como estátua viva que sou.
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