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Encontrados 63 textos de janeiro de 2015. Exibindo página 6 de 7.
07/01/2015 -
Tia Dodô e o céu das águias
No céu de Madureira, a águia-mãe se veste de negro e alça um voo triste sobre passistas que não passam, acenam o luto da despedida. Tia Dodô, com o coração de águia que sempre teve, voou pra outras bandas em busca de um jardim de flores brancas e azuis. Dama das damas, Maria das Dores Alves silenciou os nossos tamborins. Aos 95 anos, a primeira porta-bandeira, que desfilava desde os 14 anos defendendo a azul e branco, foi sambar noutro lugar junto de Paulo da Portela, Candeia e Heitor dos Prazeres. Salve os bambas que aplaudem da janela Tia Dodô, que aos 84 anos desfilou como rainha da bateria nota 10 de Madureira; Coisas de Portela. Lá em Mangueira e na velha quadra da Estácio se chora a partida de Tia Dodô. Aplausos e repiques para mais uma rainha que subiu para os céus das águias que bebem das águas do carnaval do Rio.
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06/01/2015 -
Quando longe de casa
Quando longe de casa
O pássaro abre a asa
O malandro mostra a faca
E o barqueiro não abarca
Longe de casa o pinto pia
Pela galinha de dona Maria
O cachorro marca terreno
A cobra deixa no ponto seu veneno
Longe de casa o gado pasta
O gato seduz suas gatas
O cavalo se exibe pela estrada
E o rato não se proíbe de nada
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06/01/2015 -
Abandono do abandonado
Asa de mosquito. Casca de barata. Antena de borboleta. Couraça de besouro. Fóssil de pernilongo. Tudo pelo chão acusando a falta de cuidado, a falta de habitação, as garras da solidão. Cama desarrumada. Poeira pelos cantos. Teias de aranha. Livros empilhados. Janelas fechadas. Portas emperradas. Panelas vazias. Rascunhos jogados. Vida embolorada. Ciscos trazidos por um vento invisível. Silencio e pó. Heróis e mocinhas esquecidos nas páginas amareladas dos romances que caíram da estante. Sonhos rasgados. Esperanças desbotadas. Velas queimadas, palitos de fósforo quebrados. Provas de abandono por quem abandonado foi.
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05/01/2015 -
Minha missão
Atenção, o meu compromisso
É minha missão, meu serviço
Na Lei do Auxílio, sou jaguar
Buscando amar, amar incondicionalmente
Meus iguais, meus diferentes
Estou à disposição da espiritualidade maior
E não sou melhor do que ninguém
Quero ser sempre muito pequeno
Em meio a essa força que agiganta
Pra caber no coração do pai, Pai Seta Branca
Trabalho a cura do veneno
Da desobsessão
Não faço distinção, minhas mãos estão abertas...
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05/01/2015 -
Epidemia no céu
O céu foi tomado por uma epidemia de nuvens. São nuvens brancas, negras, rosas. O céu azul nunca mais foi azul. O céu deixou de ser dos anjos para ser das nuvens. E são infindos formatos, tamanhos, profundidades que nossos olhos terrenos chegam a ficar tontos com tanta informação. Há nuvens de chuva e de seca. Há nuvens engraçadas e sem graça. Há nuvens inteiras e partidas. Há nuvens de bichos e homens. Há nuvens simples e dobradas. Há nuvens carregadas e vazias. Há nuvens de dar medo e de se apaixonar. Há nuvens de sombra e de sol. Há nuvens de silêncio e de trovão. Há nuvens aos pares e na solidão. E epidêmicas, as nuvens se multiplicam na velocidade da luz. Com nuvens só há nuances de luar. Sim, a lua fica semanas sem dar os quartos. E as estrelas ficam detrás das cortinas de nuvens se esforçando pro seu brilho não ser em vão. As nuvens que embelezam o céu são as mesmas que escondem o universo por detrás de seu falso véu.
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04/01/2015 -
Cruzada
Ela chega e cruza pernas, cruza braços, cruza olhares. Ela é de cruzada, das antigas cruzadas que se matava em nome de deus. E o seu deus é sedutor, é sedução. Ela é de cruzar. Cruza noite e dia com homens, mulheres, titãs e até mesmo com deus. Cruza por prazer, por fé, por amor e por não ter mais o que fazer. Cruza por ruas, avenidas, alamedas, chegadas e partidas. Ela cruza traços, abraços, beijaços. Cruza laços e embaraços. Seu corpo é cruzamento em movimento.
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04/01/2015 -
Arvoredo
Deita seu corpo em meu leito
Toma minha cama, diz que ama
Até perder a noção dos limites
Aceita meu convite imperfeito
Confessando suas tragédias
Consultando minhas enciclopédias
Sobre amor e mais o que for
Deita seu corpo em meu leito
Com todo respeito e pudor
Não me conte seus segredos
Mas me entregue seus medos
Abandona chão, teto, paredes
Dependurando suas redes
Pelos meus arvoredos
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03/01/2015 -
Alheio
Queimei a mão
Nos seus seios
Suspirei de aflição
Nos seus anseios
Ri da ingratidão
Dos seus devaneios
Fui seu mocinho
Seu cavalo, seu vilão
E depois jogado
Para escanteio
Queria ser futuro
Mas fui lançado
Pro seu passado
Mais escuro
Nosso amanhã não veio
Na hora de separar
O joio do trigo fui centeio
Não houve nós
Fiquei a sós, fiquei alheio
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03/01/2015 -
Dias secos
Meu amor, que calor, quanto sol, falta nuvem, o azulão urge, o vento sumiu, tudo sopra quente, o sangue ferve, a lágrima evapora, a poeira ergue, a chuva foi embora, o rouxinol caiu, as pedras pipocam, os rios sem força já não desembocam no mar, as águas ficam pelo caminho, o suor toma de conta, queimaram os ninhos, a cachoeira já não ronca, o sono se perdeu, a fome morreu, o gado esqueleteia, a onda seca serpenteia, cadê a chuva, cadê a chuva, cadê a chuva por estas costas ruivas?
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02/01/2015 -
Luz azul
Tão logo a noite do sul caiu as estrelas se jogaram uma a uma aos pés da mulher que passa por retas curvas como um farol. E eu, barco perdido no oceano das paixões, com todas as bússolas interiores girando em falso, fui ao encalço daquela luz perfumada de azul. Uma luz de porte que cortava como lâmina estrelada, afiada e brilhante como as previsões da morte. Eu não sabia se ia ao seu encontro ou se fugia, ainda tonto, depois da última surra dos piratas do norte. Quanto mais avançava, mais aquela luz me atiçava. Como sereno, suava, chorava, cravava meus olhares naquele raio que se jogava aos meus braços. A luz tinha tudo para ser trêmula, incerta, imprecisa, mas era certeira. Chegava como holofote fazendo com que aquele mar bravio, salgado rio, se transformasse no palco do meu monólogo. Diferente das criaturas que morrem caladas, eu cantava o meu fim na esperança de uma reviravolta no rumo daquelas ondas sonoras de silêncio. E fechando os olhos eu ouvia o riso denso vindo daquela luz. Podia sentir seus seios, seus leites, seus deleites, seus anseios, seus enfeites... Nem a tempestade de sentimentos que volta e meia me colocava em naufrágio impedia de eu sentir cada fio de seu cabelo, cada arrepio de seus pelos, cada desvio de sua pulsação. E no mar-alto da minha solidão eu, nu de qualquer medo, confessava em segredo os meus pecados e amados àquela luz que me transformava num remo da cabeça aos pés. Um cego fazendo da luz a sua fé. ...
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