Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 30 textos de setembro de 2012. Exibindo página 2 de 3.

20/09/2012 - A magia da ventania

A ventania provocou o sabiá, que desandou a cantar, a cantar, a cantar aquele velho refrão como que numa sinfonia já nas primeiras horas do clarão do dia. O ventou levantou o pó e, deixou a galha sem frutos ou flores ainda mais só e deu um nó nas previsões do tempo. O vendaval espalhou folhas de árvore e de papel pelo quintal, misturando seiva com Neruda, nervuras com Drummond. O som do vento provocou uma chuva de sentimento pelas camas, um boom por entre camisolas e pijamas.

A ventania fez a alegria do pardal que de pulo em pulo foi apresentando seu musical. O vento desalinhou os cabelos, desequilibrou os botões de rosa, calou até a rotina mais sestrosa. O vendaval limpou os caminhos, suscitou o desejo de bons vinhos, desafinou o lá menor dos pinhos. O vento foi como um unguento para as almas mais doloridas. Ventou alívio e arrefecimento mesmo que deixasse nuvens de pernas para o ar. A ventania nos lembrou de que tudo pode mudar a partir de um sopro. ...
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19/09/2012 - Se meu criado-mudo falasse...

Se meu criado-mudo falasse, revelaria meu conjunto de ações noturnas, conscientes ou não. Se meu criado-mudo falasse, confessaria meus pecados. Se meu criado-mudo falasse, o mundo se escandalizaria com o tempo e o enredo da minha insônia. Se meu criado-mudo falasse, descrever-me-ia os anjos e os demônios que rondam meu sono. Se meu criado-mudo falasse, falaria também dos sussurros, gemidos e gritos que ecoam pela penumbra do meu quarto. Se meu criado-mudo falasse, trair-me-ia antes do romper do sol....
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18/09/2012 - Listas

Quantas promessas ainda são somente promessas em sua lista? Quantos daqueles amores que foram colocados em uma lista você ainda ama e quantos deles você pretende continuar amando? Quantos alimentos proibidos pela lista de sua dieta você ainda consegue ficar sem comer? Quantos amigos de sua lista você ainda confia para chamar de amigo? Quantos deuses de sua lista ainda estão no altar? Quantas regras listadas por você tempos atrás ainda são obedecidas? Quantas alegrias da sua lista foram dadas como lida?...
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17/09/2012 - A esmo

Corpo cansado, nó na garganta, amor encurralado. Cabeça cheia, marcas de estresse, dores generalizadas por toda a alma. Pés feridos, sonhos proibidos, romances não lidos. Mãos atadas, falta de perspectiva, bloqueios na estrada. Coração desafinado, olhos carregados, linhas desalinhadas pela palma das mãos. Ombros pesados, lábios marejados, esperanças frustradas. Alegria interrompida, chegada e despedida, poesia perdida.

Filosofia desperdiçada, fantasia dormindo na calçada, chuva sem trovoada. Perfume de decepção, tempo abstrato, contínua ilusão. Ardume de mudança, autorretrato de esperança, justiça sem balança. Pensamentos tortos, canteiros do esquecimento, anjos mortos. Sangue pálido, destino inválido, céu da boca sem estrelas. Sono cálido, passos sem dança, tranças de DNA. Arroz sem torresmo, ar sem sabiá, o mesmo do mesmo do mesmo.


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16/09/2012 - Um pouco do tudo que sou

Eu não sou quem eu fui nem quem eu seria. Eu sou o que quis ser um dia, uma centelha de poesia. Sou como vento, intenso e sem forma definida. Sou como água corrente, levando barquinhos de papel, folhas e semente. Sou como pássaro que não se cansa das asas. Sou caramujo, levando uma casa nas costas. Uma casa de sentimentos. E sentimentos são como ventos soltos e revoltos que reviram de um tudo por dentro e por fora do mundo.

Eu não sou quem queriam que eu fosse. Eu sou o que sonhei e, o que cantei e, o que imaginei e, o que dancei e, o que chorei e, o que jurei e, o que amei e, o que matei e, o que batalhei e o que não sei. Não sei o que fui, o que sou, o que serei. Sou o retrato abstrato de um coração. Sou a sétima corda de um violão. Sou a quinta estação do ano. Sou o acerto escondido no engano e vice-versa. Sou a entrelinha da canção. Sou a criatura que versa. ...
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15/09/2012 - O amor é lenda

O amor não pode vencer todas as guerras. Um dia o amor cai sobre a terra. Até o maior dos poetas erra quando fala do coração. Labirinto de lampejos, calabouço de desejos, encontro de realejos. O coração é embarcação à deriva, tesouro de pirata, náufrago em alto mar. Ora é espada ora é escudo, ora é nada ora é tudo, ora é mudo ora é surdo ora é cego, assim é o amor, incompleto mesmo completo. O amor é o encontro de tetos, de prediletos, de dialetos, de afetos.

O amor constrói ao mesmo tempo em que destrói o que construiu. É o ciclo contínuo, o movimento que nunca termina. É invenção permanente. É a contravenção das regras. É a promessa de luz sobre as trevas. O amor é a lenda do invencível, do impossível, do incrível. Porém, mais do que um mito, um super-herói, um deus, o amor é o remédio humano contra o tédio. O que seria da humanidade sem suas paixões? Saudade e grilhões... ...
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14/09/2012 - Sempre há

Sempre há um sim em algum lugar do não. Sempre há um coração batendo verde no meio da seca. Sempre há um perfume de nuvem na imensidão do céu azul. Sempre há contornos de esperança num futuro ainda sem forma. Sempre há um pouco de medo mesmo nos olhos do leão. Sempre há uma brecha na mais dura realidade. Sempre há uma chance de sorriso mesmo nas temporadas mais difíceis.

Sempre há um pássaro para dizer que é possível voar. Sempre há um canto para abafar a solidão. Sempre há um cuidado a mais para ser tomado. Sempre há uma palavra que se encaixa perfeitamente nos momentos de silêncio. Sempre há um mistério de lua na mulher, por mais pública que ela seja. Sempre há um sonho em germinação, até mesmo nos corpos mais céticos. ...
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13/09/2012 - Chuvisco

Chuvisco parece nome daqueles cavalos de desenho animado ou de bolinhos pingados na frigideira com o auxílio de uma colher. Chuvisco pode estar associado a um ato, o ato de chuviscar perfume ou granulados sobre um bolo de aniversário. Chuvisco indica sonoramente algo leve, suave, breve. Um chuvisco de dança, um chuvisco de inspiração, um chuvisco de sono. Foi só um chuvisco... Nada muito intenso, embora determinante para a quebra da rotina. É isso, o chuvisco é, na melhor das definições, a quebra de expectativa. ...
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12/09/2012 - Mulheres cansadas

Conceição se cansou de sua vida arroz com feijão. Maria se cansou de mendigar por fantasia. Valentina se cansou de paixões repentinas. Cecília se cansou de sentir numa ilha. Tereza se cansou da busca pela beleza. Raquel se cansou da disputa entre inferno e céu. Rosa se cansou da velha prosa. Carlota se cansou de escutar lorota. Mariana se cansou das promessas da cigana. Pietra se cansou da esperança falseta.Gaia se cansou da gandaia. Salomé se cansou de ser mulher de fé. Teodora se cansou de ir embora. Begônia se cansou da insônia. Margoth se cansou do amor. Violante se cansou de ser amante. ...
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11/09/2012 - Outra coisa

Ela quer outra coisa. Ela quer outra roupa, outra comida, outra estrada. Ela quer outro sorriso, outro florista, outro viver. Quer outro crediário, outro carro, outro amanhecer. Quer outro beijo, outra cidade, outro prazer. Quer outro cachorro, outro tolo, outro perfume. Quer outro feriado, outro ardume, outro passado. Quer outro plano, outro cigano, outro fulano. Quer outro deus, outra bebida, outro lado. Quer outro sonho, outra lida, outro adeus.

Ela quer, ela quer, ela quer... Quer outro salário, outro céu, outro calendário. Quer outro papel, quer outra estação, quer outro menestrel. Quer outra canção, outro falsário, outra paixão. Quer outro telefonema, outra aparição, outro poema. Quer outro emprego, outro jardim, outro sossego. Ela quer outra fantasia, outra boca, outro dia-a-dia. Ela quer outro jornal, outro natal, outro carnaval. Ela quer outra dança, outra criança, outra esperança. ...
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