Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 32 textos de agosto de 2011. Exibindo página 1 de 4.

31/08/2011 - Além do tempo

Além do tempo deve existir um beijo bom. Além do tempo há de se cumprir um tratado de paz permanente entre o amor e o ódio. Além do tempo há de se querer mais do que em qualquer outro tempo. Além do tempo o sol finalmente se entrega à brancura da lua. Além do tempo há de estar morto e sepultado, e quiçá esquecido, o tempo do adeus.

Além do tempo reina um novo sentido geométrico, gramatical e, até mesmo, existencial. Além do tempo vive um povo que brinca de roda e não se importa com a moda. Além do tempo palpita uma canção de amor atemporal. Além do tempo os passarinhos voam pelos céus da nossa boca em acrobacias que nos fazem duvidar da força da gravidade. ...
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30/08/2011 - Sozinho

O mar dos seus olhos arrebentou e me inundou inteirinho. O céu da sua boca serenou e me molhou de beijos miudinhos. A sua alma morena fermentou e virou vinho. A sua pele descosturou e um deus alfaiate lhe remendou com um pedaço do meu linho. O seu passo cruzou o meu e me levou para o seu caminho. O seu verso voou e pousou no mato, no mais alto ninho. A sua flor desabrochou e me falou que não tem espinho.

A sua bola de cristal quebrou e me indicou para ser seu adivinho. A sua canção desafinou e entornou meu cavaquinho. O sino do seu peito badalou e me chamou bem de mansinho. O seu passado levantou e rodou nos braços do moinho. O moreno lhe tomou de abraços e sacolejou seu corpo no pelourinho. O seu pé de vento virou e formou um redemoinho. A saudade rodopiou e o tempo se instalou como meu vizinho.


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29/08/2011 - Injustiças

Injusta é a espera que nunca chega ao fim. Injusta é a maneira que me toma. Injusta é a conta que nunca cessa. Injusta é a fome que roncando se manifesta. Injusta é a quebra de expectativa. Injusta é a seca que não distingue suas vítimas. Injusta é a sofreguidão dos inocentes. Injusta é a batalha entre verdades e mentiras. Injusta é a fogueira onde queimam as bruxas que me habitam. Injusta é a preocupação que não dorme em mim. Injusta é a falta que consome com o auxílio do tempo.

Injusta é a lâmina da descrença que me fere. Injusta é a boca que me abocanha. Injusta é a mão que me tira. Injusta é a língua que nos julgam. Injusta é a mentira que me conta. Injusta é sentença que me obriga a cumprir. Injusta é a palavra com que me apedreja. Injusta é a acusação que me levanta. Injusta é a ira sem propósito. Injusta é a cara feia sem remédio. Injusta é a força bruta que tudo tomba. Injusta é a incompreensão que lhe habita. Injusta é a raiva que toda vez, deslealmente, vence a ternura...
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28/08/2011 - Pai Joaquim das Cachoeiras

Toca o sino, bate o tambor, Pai Joaquim das Cachoeiras chegou para abrir minhas porteiras. Eê preto velho, filho de Xangô, guarda as águas das cachoeiras que formam o grande rio onde Oxalá se batizou. Veio do raio de Olorum para lavar toda inveja, todo mau-olhado, todo mal que ficou.

Pai Joaquim veio, sob o comando de Iemanjá, para limpar tudo de ruim que fulano me jogou. Cicrano me amaldiçoou, livrai-me Pai Joaquim. Afasta esse encosto de mim. Beltrano me esconjurou! Pai das Cachoeiras, do ramo do povo das águas e das sereias, fui eu quem lhe chamou. ...
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27/08/2011 - Sem mais

Sem mais a dizer. Essa é a frase, escrita no pé da página ou dita no decorrer da fala, que acaba com uma série de expectativas. Sempre há algo a ser dito. Não importa se bom ou ruim, se é o que se pretende realmente ouvir, se verdade ou mentira, mas há sempre algo por detrás da última palavra. Muitas vezes há mais coisas não ditas do que propriamente ditas. Há um universo de coisas e criaturas proibidas por detrás de um sem mais...

Sem mais a dizer. Sem mais a fazer. Sem mais a sofrer. Sem mais a nascer. Sem mais a querer. Sem mais a florescer. Sem mais a esquecer. Sem mais a convencer. Sem mais a colher. Sem mais a tecer. Sem mais a enlouquecer. Sem mais a beber. Sem mais a escrever. Sem mais a oferecer. Sem mais a poder. Sem mais a prometer. Sem mais a falecer. Sem mais a envolver. Sem mais a aprender. Sem mais a amanhecer. ...
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27/08/2011 - Indigno

Eu não sou digno de cruzar a sua porta e entrar em sua morada. Eu não sou digno de tomar do seu cálice, de repartir o seu pão. Eu não sou digno de dormir em sua cama, de escutar que me ama. Eu não sou digno de vestir suas roupas, de usar seu perfume, de me banhar em sua água. Eu não sou digno de questionar suas palavras, seus feitos.

É indigno quem desobedece as suas ordens. É indigno quem contraria seus planos. É indigno quem duvida de suas promessas. É indigno quem fala e quem cala na hora errada. É indigno quem pensa de forma diferente. É indigno quem sonha outros sonhos senão os sonhos seus. É indigno quem nega se culpar pela culpa por ti atribuída. ...
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26/08/2011 - Consagro a ti

Consagro a ti meus sonhos mais distantes e meus pesadelos mais próximos. Consagro a ti a flor das minhas revelações. Consagro a ti o elo perdido, ou proibido, que liga o corpo ao espírito de quem ama. Consagro a ti o pecado e o santo que há em mim. Consagro a ti meus telefonemas, meus dilemas, meus poemas. Consagro a ti minha esperança e minha espera. Consagro a ti minhas retas, minhas curvas, minhas esferas. Consagro a ti meu sertão e meus oceanos. Consagro a ti meu 367º dia, minha quinta fase da lua, meu décimo terceiro apóstolo. ...
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25/08/2011 - Tudo apagado

Tudo apagado em mim. Tudo fosco, sem brilho. Toda luz que havia se esvaiu até o fim. Estou, por completo, desluminado. O fogo virou brasa que virou cinza que o vento levou. Não há incêndio, não há chama, não há uma fagulha sequer. Roubaram minhas estrelas de um modo que não é possível mais vê-las. Tudo sem cor, sem vida, sem calor. Pálido, ajoelho, mas nem deus é capaz de acender uma vela em mim.

O pranto que corre em mim desaguou nas fogueiras interiores e tudo se apagou. Até o magma que borbulhava em meus olhos virou rocha. No meu céu não há mais raios ou cometas, nem um corpo incandescente corta meu horizonte. E esfregando meu coração de pedra não há faísca sequer que consiga chamuscar um papel. Meu inferno é frio. Um frio que provoca ardor, pavor, torpor e escuridão. ...
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24/08/2011 - Será Maria... Será...

Maria... Será que ainda lembra o meu nome? Será que ainda me reconhece nas ruas? Será que ainda ouve as minhas preces? Será que ainda escuta quando eu lhe chamo de mãe? Será que ainda me pega pelo braço me mostrando o caminho? Será que ainda me apazigua as dores? Será que ainda me vê com bons olhos? Será que ainda me defende? Será que ainda me coloca em seu colo?

Será Maria... Será...

Maria... Será que ainda sofre por mim? Será que ainda me concede suas graças? Será que ainda me perdoa? Será que ainda me deseja bom dia? Será que ainda acredita em mim? Será que ainda me espera? Será que ainda me chama? Será que ainda me acolhe? Será que ainda semeia sua lavoura em mim? Será que ainda me entoa canções de ninar? Será que ainda me entrega um sorriso seu? ...
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23/08/2011 - Amor ou amor...

O amor é a lei suprema ou a quebra da lei. É o endereço ou o avesso do kharma. O amor existe ou insiste em não existir a olho nu. É a permanência ou impermanência do ser. O amor é infinito ou a condição finita de todas as coisas mundanas para alcançarmos as coisas sobre-humanas. O amor é plural ou a brusca experiência da singularidade. O amor é uma flor da consciência ou a faculdade da inconsciência.

O amor é a vontade de continuar amor ou a condução expressa para alguma coisa nova. O amor é concreto ou especulação. É a promessa de cristo ou o filho do anti-cristo. É a aceitação da escravidão ou a difícil tarefa de superar a condição egoísta de quem ama. O amor é a antítese ou a teoria paradoxal, é elitista ou proletário, é guerra ou paz. O amor vai de canção em canção ou se esvai em silêncio. ...
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