Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

Arquivo

2017 2016 2015 2014 2013 2012 2011 2010 2009 2008
jan fev mar abr mai jun jul ago set out nov dez

Encontrados 31 textos de janeiro de 2011. Exibindo página 1 de 4.

31/01/2011 - O amanhecer do limão galego

Hoje acordei e me assustei: o meu limoeiro estava loiro. O cabelo longo e escuro e verde das folhas deu lugar a um amontoado de luzes. Mas ao contrário de mechas luminosas o que vi foram bolas e mais bolas pondo fim à escuridão. Bolas brilhantes e chamativas como bolas natalinas. Na verdade, bolas amarelas-limão, cheirando a sumo e temperos e caipirinhas e outras coisinhas. Hoje acordei e me assustei: o meu limoeiro amanheceu verdadeiramente galego, como na terrinha de antigamente.

Tão logo o vi, eu me esqueci de relógios e compromissos. Perdi hora. Cheguei atrasado ao serviço. Foi um reboliço. Tudo porque parei e me sentei debaixo do pé de limão galego. Fiquei brincando com pensamentos. Voei no tempo e na imaginação. Quantas lembranças e sensações os frutos pequenos e atrevidos daquele limoeiro me traziam. É como se eu tivesse me reencontrado com um perfume perdido, com um gosto há tempos não sentido e com uma coloração sumida da minha paleta cotidiana. ...
continuar a ler


Comentários (1)

30/01/2011 - Felinamente assim

A mulher amada se veste felinamente com gatos tatuados no corpo e na alma. Quando menos se espera, coloca as garras pra fora e arranha a criatura que ama provocando arrepios e suspiros. Feito bailarina, equilibra-se sobre superfícies e situações complicadas sem perder a graça. Ao pé do ouvido, ronrona em busca de carícias. Como todo gatuno, usa e desfruta de um universo de malícias.

A mulher amada tem crias e crias de fantasias e outras poesias. É fria, independente, soberana e ao mesmo tempo uma explosão de afeto. Não se importa com teto ou com outras amarras, vivendo o luxo e o lixo com a mesma intensidade. A gata que recebe comida na boca em uma de suas almofadas de cetim é a mesma que se suja em um amor bandido. Afinal, toda gata tem seu dia de rata. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

29/01/2011 - Brevidade, o pássaro que não nasceu

De repente, terra e céu se encontram numa queda. À margem da estradinha, entre o lago horizonte e sobrados de concreto, um pássaro. Uma ave pequenina, recém-caída do ninho, sob um sol de suores e tonturas. Solitária, abandonada, perdida. Nenhum sinal da mãe, do pai ou do restante da ninhada. Ali, só havia aquele bocadinho de vida pulsando cinza se equilibrando em uma galha rasteira, com o bico aberto de fome, ou de calor ou de pranto.

Antes da chegada de gatos, crianças e carros distraídos, era preciso resgatá-la. Um drible pra lá, uma corrida pra cá, um mergulho acolá. Pronto. Em pouco tempo a ave já está dentro do carro tomando água mineral. Ao chegar a sua nova casa, ao menos na qual passaria os seus primeiros dias, fica instalada provisoriamente em um ninho de periquito. A comida também é improvisada: alpiste, painço, quirela, angu de fubá, minhoca. Tudo dado diretamente em sua garganta, com muita calma e delicadeza. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

28/01/2011 - Venho vindo

Eu venho de longe, de um lugar onde o tempo esconde seus amores, suas dores. Eu venho vindo tocando a estrada como um vaqueiro toca sua boiada. Cavaleiro alado, peão apaixonado. Trago no peito o gosto de um beijo que o vento não levou. Venho vindo resistindo me iludindo perseguindo o brilho de uma estrela que ainda não apagou.

Eu venho distante, de um lugar errante onde amores e amantes não têm final feliz. Venho de uma terra onde a solidão rendeu, cresceu, criou raiz. Venho vindo sozinho, semeando sonhos tintos como vinho. A seca é brava, a lua é cheia, a cova é rasa e a paixão, serpenteia....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

27/01/2011 - Mulher jardim

Pare e olhe à rua, à mulher que passa levando consigo uma saia florida. Passa levando um jardim tatuado no corpo. O mundo enlouquece e louco anuncia uma primavera na qual padece a falta da flor. Muitos querem cheirá-la, apanhá-la, despetalá-la entre o romantismo e o casuísmo contido nos amores à primeira vista e nas paixões de florista.

Olhe lá vem descendo a mulher vestida com pétalas, sépalas, póles e folhas e Eva. Traz em suas pernas, ternas sementes de desejo e doçura. Flor do sexo, botão de beijo, cálice de perfume e cor. Como são macias as pernas da mulher à qual o catavento assovia mesmo sem vento. ...
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

26/01/2011 - Clonar ou não clonar?

O clone humano só valeria à pena se os cientistas por meio das teclas de piano fizessem nascer um novo tom, maestro Jobim. Se com o DNA asfáltico do autódromo Interlagos, mais precisamente do S do Senna, acelerassem um novo Ayrton. Se de um copo de uísque trouxessem novamente ao mundo, com a benção dos orixás, Vinicius de Moraes. Se com uma pimentinha reavivassem por mais uma vez o canto de Elis Regina.

Os médicos poderiam pegar palavras, em genes de versos e prosas, e fazer novos nerudas, drummonds, pessoas, guimarães. Poderiam apanhar rosas que não falam e florescer outros cartolas. Poderiam isolar células de solidariedade e dar à luz a betinhos, uma série deles. Poderiam juntar marios e lagos e reproduzir Mario Lago. Poderiam fazer uso da mais pura matéria teatral palco afora e dar um bis de Paulo Autran, Raul Cortez, Paulo Gracindo......
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

25/01/2011 - Dormenina

Dorme menina, dorme fingindo ser minha. Dorme em silêncio ou falando sozinha. Dorme como maranhão pedindo linha e mais linha ao vento. Dorme suspirando, sonhando com contos e fadas. Dorme escondendo os olhos. Dorme fugindo da verdade. Dorme diminuindo a saudade que há entre o real e o imaginário. Dorme nos braços de Maya, a deusa da ilusão. Dorme no peito de Morfeu, o anjo do sono. Dorme encolhida, despreocupada da vida, amada e decidida a acordar só depois das seis. Dorme agora inédita ou como da outra vez....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

24/01/2011 - Doce voz

Como é doce ouvir a sua voz. Como é doce ouvir a sua voz no silêncio de uma oração ou no meio da multidão. Como é doce ouvir a sua voz na linguagem dos sinos, construindo destinos como quem constrói frases. Como é doce ouvir a sua voz curando cicatrizes, fixando raízes, colorindo almas em seus matizes. Como é doce ouvir a sua voz. Como é doce ouvir a sua voz falando de nós.

Sua voz que vem em forma de vento, brisa, ventania. Sua voz que cobre nosso coração em feitio de manto. Sua voz que não diz adeus e que tem tanto de deus. Sua voz que vinga a poesia, que aflora o mesmo pranto que cala. Sua voz que clareia a escuridão, que destrona a solidão, que se espalha feito canção nas bocas dos pássaros de amores e perdão....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

23/01/2011 - Sem luz

Estou sem força, sem energia, sem luz, sem eletricidade. Estou ilhado, no escuro, com saudade dos watts e volts. Já perdi a hora de quantas horas vivo em blackout. Perdi o capítulo da novela e da janela só se vê o breu. Voltei ao tempo da roça, dos lampiões e lamparinas, de andar pela rua escura em companhia da lua. Os cachorros não param de latir, assombrações e ladrões aproveitam, cada um ao seu modo, dias e noites assim.

Não há como ligar o computador, recarregar o celular, ouvir um disco, assistir um filme, fazer uma ligação. Em seus altos e baixos, em seus piques e repiques, a energia ainda se dá ao desfrute de queimar o que restou na tomada. Tá tudo um caos. É preciso comprar mais velas e pilhas para as lanternas. Estou, como tudo ao redor, apagado, desligado, exilado... se explodir a terceira grande guerra só irei saber quando os soldados chegarem aqui....
continuar a ler


Comentar Seja o primeiro a comentar

22/01/2011 - Deixa a madame pra lá

Não, não meu senhor, não adianta discutir com a madame. A madame tem sempre razão até mesmo quando não é sim e sim é não. Não, não meu senhor, não adianta discutir com quem não dá o braço a torcer e não se importa de fazer sofrer. Não, não meu senhor, não reclame, não adianta discutir com a rainha do enxame.

A madame finge eu é feliz ou infeliz conforme lhe convém, esquece o que faz, o que pensa, o que diz. Ela varre sua sujeira pra debaixo do tapete. Bate, assopra e esconde o cacete. Madame dá vexame e jura que é lady, mas vive de band-aid em band-aid juntando cacos e fazendo pactos. Madame entende de máscaras e disfarces. Vai à igreja, de praxe, mas seu forte é a mandinga. Excomunga o santo, se vinga, amaldiçoa e põe quebranto. ...
continuar a ler


Comentários (1)

      1  2  3  4   Seguinte   Ultima