Daniel Campos

Texto do dia

Se você gosta de textos inéditos, veio ao lugar certo.

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Encontrados 30 textos de setembro de 2011. Exibindo página 1 de 3.

30/09/2011 - Jacy (Minas-Brasília) Afonso

Ê Minas, ê Minas!

Aos apitos festeiros, uma maria-fumaça traz vagões e mais vagões de histórias para uma cidade que ainda constrói seus trilhos. Nos olhos de um homem-menino o mundo das tradições se mistura ao cenário contemporâneo. O barroco voa nas asas do modernismo. Aleijadinho e Niemayer dividem a mesma escultura. As veredas de Guimarães Rosa seguem paralelas aos eixos de Lucio Costa. Com muito a contar, as folhas das janelas de madeira se abrem aos calados prédios espelhados. As pedras das ladeiras e os azulejos de Athos Bulcão se encontram no botequim do horizonte. ...
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29/09/2011 - Não estamos sozinhos

Não estamos sozinhos. Há sempre alguém a nos espionar, a nos bisbilhotar, a nos rondar. Pode ser um caçador, um espírito, um extraterrestre. São olhos e câmeras capturando todo e qualquer movimento que possa ser feito ou desfeito por nós. Não estamos sozinhos. Estamos sempre na mira de alguém. Há sempre uma sombra sobreposta ao nosso lado oculto. Há sempre um perfume misturado ao nosso cheiro. Há sempre um eco perseguindo nossas palavras.

Não estamos sozinhos. Há sempre um cálice amparando nosso vinho. Há sempre um filho querendo sair de nossas barrigas. Há sempre uma lua negra facetando a nossa lua branca. Há sempre um fantasma entre nosso passado e nosso futuro. Não estamos sozinhos. Há alguém que respira em nossa nuca. Há alguém que roça nossas costas. Há alguém que coça os nossos medos. Há alguém que coexiste com nossos paralelos. Há alguém que não nos permite estar a sós com o que há dentro ou fora de nós....
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28/09/2011 - Uma palavra

Uma palavra é mais do que eu posso dizer. Uma palavra é menos do que eu queria ouvir. Uma palavra pro estômago, outra pro santo. Uma palavra à medida do meu silêncio. Uma palavra que grita. Uma palavra que berra. Uma palavra que erra. Uma palavra de sangue. Uma palavra de honra. Uma palavra de destino. Uma palavra de menino. Uma palavra ao vento. Uma palavra úmida. Uma palavra perdida. Uma palavra remota. Uma palavra de canto.

Uma palavra e duas pedras de gelo. Uma palavra fria. Uma palavra que faz a ponte. Uma palavra vazia. Uma palavra sem volta. Uma palavra que arrepia. Uma palavra suspensa. Uma palavra intensa. Uma palavra final. Uma palavra sem boca. Uma palavra livre. Uma palavra errada. Uma palavra proibida. Uma palavra mocinha, outra bandida. Uma palavra borrada de batom. Uma palavra caída. Uma palavra que fere. Uma palavra à flor da pele. ...
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27/09/2011 - Ela voltou

Ela voltou. Ela voltou boemia, noite adentro, madrugada afora. Ela voltou calma e tranqüila. Ela voltou na ponta dos pés. Ela voltou leve e deveras perfumada. Ela voltou no meio de um vendaval. Ela voltou calando a terra. Ela voltou provocando cantorias. Ela voltou num clima de comemoração. Ela voltou com os olhos d’água do verão passado. Ela voltou com hálito úmido e corpo intimamente encharcado.

Ela voltou à boca miúda, sem estrondos ou holofotes. Ela voltou magra e fresca. Ela voltou no mesmo ritmo, dona da mesma sinfonia. Ela voltou apagando a poeira da saudade. Ela voltou beijando as flores em coma. Ela voltou declarando guerra aos pássaros secos. Ela voltou contínua, prometendo longa estadia. Ela voltou entre o sono e a fantasia. Ela voltou banhada de doce sem saber se veio por si ou se algo a trouxe....
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26/09/2011 - A mulher que caminha pela praia

A mulher que caminha pela praia deseja, por ao menos um instante, que as ondas quebrem em seu corpo. A mulher que caminha pela praia, mesmo sem saber, rege o mar – suas pernas são, na verdade, as batutas de uma maestrina casual. A mulher que caminha pela praia vai misturando seu perfume, seu paladar, sua temperatura às gotículas frias e salgadas que sobem do oceano. A mulher que caminha pela praia, caminha em ondas. A mulher que caminha pela praia, lança olhares, em feitio de rede de pescadores, em busca dos mistérios mais profundos do mar profundo. ...
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25/09/2011 - O vento galanteador

Quando soprou o vento norte, ela estremeceu num típico fricote. Aquela ventania lhe envolveu, lhe roçou, lhe beijou, lhe possuiu. A sensação de frio lhe fez cobrir o decote do vestido. Ouviu vozes. Esconjurou a morte. Redobrou o sentido. Negou o arrepio. Olhou para o vazio com olhos assustados. Recitou baixinho aquele salmo que fala dos prados. Foi tomada por um imenso mal-estar. Ficou tonta e rodou como no balanço de um fado. Havia se afasto de Deus por inúmeras razões pessoais, porém, a aflição lhe fez pedir perdão de seus pecados. Andava para frente, para traz, para os lados. Ficou sem direção. Ensaiou um choro, mas suas lágrimas foram varridas do rosto pela ação do vento. E logo vieram sorrisos. O vento lhe fazia cócegas e ela ria como criança. ...
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24/09/2011 - Sobre a saudade

Há momentos na vida em que todo mundo precisa de uma saudade. Não qualquer saudade. Uma saudade boa, capaz de dar textura ou engrossar o tempo presente. Porque muitas vezes o presente não dá ponto de jeito algum. Uma saudade que não interfira no paladar essencial e atual da vida, mas que realce o sabor vivido. Até um tempo atrás, a saudade era sinônimo de sofrimento, de tristeza, de insegurança. Agora, a saudade é como aquele toque do chef. Chega para acrescentar positivamente falando, para tornar mágico o prato do cotidiano. ...
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23/09/2011 - Sommelier

Num dia eu escondo segredos, noutro eu os sirvo numa taça. De manhã, finjo para agradar. Na hora do almoço, me calo sobre todo e qualquer pecado. À noite, falo verdades demais. Sou uma espécie de sommelier das palavras. Sou crítico e não aceito críticas nem de deuses nem de mortais. Tenho universidades, pés que já amassaram muitas uvas e os mistérios da arte da sinceridade. Olhe-me nos olhos e tente me decifrar.

Eu indico poetas e romancistas, cronistas, contistas e cantores de poesia. Conheço-os a fundo. Vivo com eles dentro e fora de mim. Confie em minhas sugestões sem medo de se aventurar por textos de amores profundos e mundos de solidões. Ou não confie e fuja com muitos passos das minhas páginas como quem foge de outros braços. Sou um sommelier querendo lhe fazer provar o meu eu literário, a minha era de aquário......
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22/09/2011 - Sombras são

Tudo às escuras. Não há faísca alguma de luz pelo ar. Tudo escuro. Luzes apagadas. Abajures invisíveis. Carros sem faróis. Lanternas quebradas. Postes nus como árvores sem frutos. Noite de luto. Vagalumes extintos. Santos sem velas. Estrelas caídas. Lua em curto. Sol do Japão. Negro neon. Cegueira coletiva. Fontes de escuridão. Criaturas das sombras. O mal vencendo o bem. Anjos das trevas reinam absolutos.

Os fósforos estão úmidos. Os isqueiros se perderam. O acendedor elétrico dos eletrodomésticos não funciona mais. Os escoteiros se esqueceram de como tirar fagulhas das pedras. Nem Santa Barbara nem Iansã nem Zeus nem Thor mandam um raio sequer. Os fumantes morreram e com eles, seus cigarros. Não há qualquer curto-circuito, explosão, incêndio em curso. Depois da era de luz, o tempo do breu. ...
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21/09/2011 - Para lhe ver sorrir

Vou a Paris pedir pessoalmente para Claude Monet lhe pintar um sorriso impressionista. Hei de percorrer Ipanema até que Vinícius de Moraes lhe escreva um sorriso-soneto como era o seu, livre de qualquer métrica? Será que Mikhail Baryshnikov lhe ensinaria a sorrir na ponta dos pés? Quem sabe Tom Jobim não tenha um sorriso-canção inédito entre as teclas de seu piano. Com sorte, Mario Lago, vai lhe dizer como encenar um riso farto, capaz de convencer sua alma do estado de uma pseudofelicidade.
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