Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 32 textos de março de 2011. Exibindo página 2 de 4.

21/03/2011 - Em você

Os caminhos que me levam são as linhas da sua mão. Minha casa é o seu corpo, onde me deito depois de correr sua pele de cima abaixo. Pelo seu avesso, escrevi meus segredos. Vez ou outra, eu ignoro o medo, entro num barco de papel e desço o rio escorregadio dos seus olhos amorenados. Corto o sertão dos seus pensamentos e choro a distância que me separa das suas lembranças mais desbotadas. Abro os braços fingindo ter asas e vôo no rastro da lua cheia impulsionado pelo sopro doce e quente da sua boca molhada. ...
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20/03/2011 - Copos e criaturas

Vasculhando as minhas memórias não encontro referência maior de pluralidade do que os copos que se esparramavam pelas mesas de almoços e jantares na casa de minha avó Adélia. Copos de diferentes cores, texturas, tamanhos, formatos e procedências. Difícil encontrar dois copos iguais nas prateleiras daquela mulher que foi quebrando e juntando copos ao longo de mais de cinqüenta anos de casamento. Copos comprados, ganhados, achados. Copos gorduchos e esbeltos, copos lisos ou desenhados, copos transparentes ou estampados com temas florais. Copos originalmente copos de requeijão, de massa de tomate, de milho, de azeitona, de geléia... ...
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19/03/2011 - Ouvindo-se

Ouça. Ouça o que seus ouvidos não estão acostumados a ouvir. Ouça o seu corpo. Ouça as suas células se reproduzindo, seus pulmões se enchendo de ar, seus neurônios dando choque. Ouça seus pelos se ouriçando, seus beijos passados, seus pensamentos guardados. Ouça a sinfonia indiscreta e, ao mesmo tempo, secreta que é você. Ouça o silêncio em cada um de seus gritos. Ouça os movimentos ósseos e musculares. Ouça sua alma querendo sair do corpo. Ouça as corredeiras sanguíneas e os convites das linhas do destino que correm em suas mãos. Ouça suas unhas e cabelos crescendo num movimento quase que constante. Ouça sua anatomia transcendendo dos campos da física e da química para os terrenos da poesia. ...
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18/03/2011 - O tempo da ingratidão

Ah! Ingratidão toma tudo que tudo é teu. Não adianta mais disfarçar ou remediar ou parafrasear, o que tinha de sofrer já sofreu. O coração, desvalido, da pobre criatura que se entregou ao amor desafinou. Os sonhos, tão sonhados e tão desejados, apodrecem dia após dia numa sucessão de agonia. A alma marcada pelos seus chicotes, ò ingratidão, segue sua via dolorosa chorando sua própria ilusão. Como pode? Não devia...

Ah! Não faz assim, ingratidão, com quem lhe deu da mão aos versos de sua maior canção. Como pode não acreditar em quem lhe acredita, como pode duvidar de quem lhe colocou acima de qualquer dúvida, como pode não compreender um sentimento tão compreensível. Como pode ser ingrata, ò criatura, a ponto de afirmar que tudo não passou de uma grande errata. ...
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17/03/2011 - Araticum

Depois da pinha, da fruta-do-conde, da atemóia, fui apresentado ao araticum, também conhecido como ariticum. O fruto estava ali me esperando já há alguns anos em uma banca de camelô. Seu tamanho de quilo e sua casca verde-amarronzada sempre me instigou. Depois de muito relutar, decidi levar para casa mais essa iguaria do cerrado, com sabor tão típico quão o pequi e o caja. De pronto, o cheiro infestou a casa. Dormi levado pelo perfume do ariticum.

Dormi sem saber que o araticum é uma árvore do tamanho de uma laranjeira e cuja folha lembra a do limoeiro. E mesmo assim, sabendo quase nada, sonhei que estava no meio de um imenso pomar dessa árvore. Eu corria de pé em pé, apalpava os frutos e entregava minha boca ao sabor de cerrado daquelas sementes carnudas. De repende, estava caminhando a passos largos por uma polpa macia e arenosa, no doce-azedo tipicamente silvestre de um araticum gigante. ...
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16/03/2011 - Um novo pacto

Precisamos de um novo pacto republicano onde o tempo deixe de ser tirano, senhor e soberano. Precisamos de um pacto de sangue entre o sonho e a realidade, pra que quando acordemos não percamos a vontade de viver. Um pacto capaz de selar um novo começo mesmo pra quem ainda não chegou ao final. Um pacto de sorte, de sucesso, de riqueza. Um pacto que nos leve a uma nova ordem mundial e, por que não, sentimental.

Precisamos selar esse pacto com sangue, com beijo, com assinaturas. Precisamos de um pacto cigano que não nos dê paradeiro e que embaralhe as linhas das nossas mãos. Um pacto astrológico, passível de mexer com astros e estrelas de hollywood. Um pacto mágico, nostálgico, nevrálgico. Um pacto de natureza eterna, possível de ser selado num aperto de mãos ou num encontro de pernas. Um pacto firmado em cartórios ou tabernas. ...
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15/03/2011 - Um ano sem herói

Há exatos doze meses, entre a dor e o medo, descobri que heróis também morrem. Há um ano perdi aquele que povoou minha vida com a magia mais pura que se tem notícia – a imaginação. Há um ano perdi aquele que me fez acreditar que um homem pode ter superpoderes como voar, enfrentar exércitos, vencer o tempo. Há um ano perdi aquele que fazia o impossível virar possível num estalar de dedos. Há um ano perdi o herói de fé, de coragem, de força de vontade, de superação... Há um ano o herói, meio bruxo meio guerreiro, depois de 77 anos de luta e fantasia, fez-se adeus. ...
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14/03/2011 - Girassol sem sol

Como seria o girassol se ele perdesse seu amarelo? Será que continuaria sendo girassol? Será que continuaria girando em torno do sol? Certamente, teria outro nome e função bem menos poética. Se ficar branco ainda poderá ser giralua. Mas e se virar um descolorido só ou um borrão de nanquim? Girará em lembranças do que um dia o foi. Até mesmo os pássaros que se alimentam de suas sementes hão de perder o apetite.

Pois bem, é bom se acostumar com essa realidade. Pois “vaso com 12 girassóis”, uma das obras mais famosas de van Gogh está perdendo a cor. O amarelo cromo se transformará em amarelo ocre e depois em marrom. Girassóis marrons não existem. Essa aberração artística é culpa do tempo que ao passar promove um sem número de variações químicas. Especialistas tentam encontrar uma solução, um remédio, uma saída, mas van Gogh morreu e com ele vai morrendo o amarelo cromo. ...
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13/03/2011 - Estação das ameixas

Seus olhos são como ameixas negras, que mesmo negras são vermelhas, rubras, magentas. Olhos suculentos, lágrimas de um sangue açucarado. Prazer dos sedentos. Olhos de ameixas, queixas da estação, paixão aristocrática. Olhos lisos, aparentemente homogêneos, porém, formados por centenas, milhares, milhões de pontos luminosos. Olhos de casca fina e polpa macia; desejáveis a olhos e bocas alheias.

Olhos de ameixas, madeixas de frutas; deixas de cicuta. Olhos maduros mesmo novos, doces mesmo azedos, silvestres mesmo civilizados. Olhos de ameixas nas ameixeiras, nas prateleiras, nas bandejas, nos pratos, nas quitandas, nas gargantas e nas entranhas. Olhos de ameixas sendo lambidos, mordidos, decorados, engolidos, digeridos, incorporados a outros olhos, olhares, lugares de óleos e holísticos. ...
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12/03/2011 - Bocejos lunares

Boceja a lua recostada no pé direito de uma casa de esquina. Tem desejos de mulher e olhar de menina aquela criatura curvilínea, redondamente atraente. Não tem medo de descer do céu para amar no meio da rua, feito o casal de namorados que beija com sabor de pipoca. Tomou coragem e tatuou um livro inteiro de Garcia Marques em uma de suas crateras e se pôs a espera de alguém que pedisse sua mão (e um pouco mais) para São Jorge.

Como queria deitar numa cama e ser acordada só na noite seguinte não importando se estrelas ou cometas questionassem sua ausência longa e súbita. Fria como a brisa que caminha pela madrugada queria se embrulhar em lençóis, beber uma bebida quente e dormir de conchinha. Queria ser chamada de “minha” no meio de um eclipse. Queria dançar com meteoritos de carne em passos de elipse. ...
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