Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 32 textos de março de 2011. Exibindo página 1 de 4.

31/03/2011 - Sementes de Zé Alencar

Zé Alencar morreu como morrem os guerreiros – nas trincheiras da guerra. Morreu fiel a sua luta, temente ao seu Deus, honrado em sua missão. Quem fica, chora. Quem vai embora, parte aliviado sabendo que deixou pra trás um grande legado. Zé Alencar, sinônimo de labuta, de ética, de emoção bruta, ganhou anos, comemorou dias, celebrou a vida, avançou o quanto conquistou. Não abaixou a cabeça, não vestiu uma mortalha, não se entregou nem desafinou uma nota sequer do seu canto de batalha.
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30/03/2011 - Choradeira

Chora. Chora feito chuva. Choro manso ou de vento, choro fino ou de granizo, choro que cala à terra ou que troveja de dor. Chora feito uva virando vinho. Chora feito viúva sem carinho. Chora como uma porta se abrindo e deixando escapar o que esconde. Chora como se estivesse em trabalho de parto, perdendo um pedaço de seu corpo. Chora como choram as virgens, meio que sem saber chorar. Chora por brio, vazante como um rio. Chora como uma gaivota que voa. Chora sem motivo, chora à toa.

Chora como se fosse o tempo das águas. Chora mariritamente mágoa a mágoa. Chora o choro dos cristais. Chora aos deuses do sal. Chora suas muitas marés. Chora o amor de um corsário. Chora fazendo de seus olhos um perfeito aquário. Chora e me conta quem é. Chora como prova de fé. Chora num tamborim. Chora um choro de guerra ou de festim. Chora com perfume de flor. Chora de favor. Chora baladas e hortelã até amanhã de manhã. ...
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29/03/2011 - Ninguém vai nos separar

Ninguém vai nos separar. O tempo da saudade não há de nos alcançar. Porque somos fortes como as aves do norte. Por mais que não suporte o conceito da morte, seu corpo é o meu leito. Se os anjos falam mal de nós, que importa? Se a inveja não nos deixe a sós, damos a volta. Podemos sofrer, mas sofrer de prazer. Vamos alongando a estrada, enganando a morte e suas desculpas. Vamos tropeçando e perdoando as nossas culpas. Vamos seguindo em frente, com versos e rosas entre os dentes.

Ninguém vai nos separar. Já disse isso, mas sempre é válido reforçar o juramento contra todo e qualquer feitiço. Nosso amor é tão bonito, tem um requebrado, um reboliço. Eu acredito em paraíso, em falta de juízo. Eu acredito num mundo de escolhas, num jardim de trevos de quatro folhas. Eu acredito no humano e no mito que há por trás de cada um. Eu acredito em destinos cruzados, em tempos redimensionados, em sonhos acordados. ...
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28/03/2011 - Doído

Inútil fingir. Impossível mentir. Adeus. Não posso mais viver nos lábios teus traindo os sonhos meus. Estrela da manhã, pecado da maçã, sorte da romã, vou-me embora amanhã. Chora porque eu também hei de me prostrar. Grita porque eu também terei de me calar. Sangra porque eu também irei sangrando. Mas pro nosso amor continuar no mais alto esplendor o espinho terá de renunciar à flor.

Irei tão doído como lágrima de palhaço, como saudade em cordas de aço, como corpo sem abraço, mas irei. Irei porque é necessário, mas guarda minha foto em seu relicário pra caso de eu voltar, um dia, poder se lembrar do meu rosto. O gosto da sua poesia ficará na minha boca. E seu nome eu irei chamando até minha voz ficar rouca e se perder no silêncio da distância. Prometo que anos depois vou continuar buscando nossa infância.


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27/03/2011 - Estrelas pirilampos

Menina preste atenção no que as estrelas do cruzeiro querem nos dizer. Lá de cima elas sabem tanto do nosso caminho quanto a velha que lê nossa sorte nas cinzas do cinzeiro. As estrelas, tanto as mais sérias quanto as mais fagueiras, estão nos mandando atravessar o sertão rumo ao encontro de um novo tempo ou ao reencontro de um velho sentimento. Somos as sementes de uma nova plantação. Já recebemos o sinal. As estrelas nos mandaram um postal. Vamos...

Se a estrela não mente, vamos, enquanto semente, deitar na terra onde tudo dá e esperar a chuva nos germinar. Vamos plantar nosso coração no chão e rezar pra não dar erva daninha, seca ou geada durante a nossa jornada pelas terras de Santa Cruz. Que possamos madurar, lado a lado, à luz das estrelas de luz. Que a morte não envolva nossos olhos matizados em seu capuz. Ave-Maria, madre luz. ...
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26/03/2011 - Bodas de Madeira

Cinco anos dividindo as mesmas bocas, achando os conceitos de infinito e eternidade coisas tão poucas diante do tempo que queremos para nós. Cinco anos dividindo os mesmos lençóis, os mesmos pratos, os mesmos sóis, os mesmos fatos. Cinco anos dividindo o mesmo espaço, procurando e se encontrando num passo sem freio, se perdendo e se achando no traço alheio. Cinco anos se misturando, se multiplicando, se revirando, se descobrindo e se amando mais e mais. Cinco anos de fartura e de loucura sentimental. Cinco anos emergindo e submergindo em amor e em amores carnais, espirituais, viscerais, transcendentais, zodiacais. Cinco anos unindo suspiros e ais. Cinco anos casais imersos no primeiro gosto do amor. ...
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25/03/2011 - A mulher e as trovoadas

Quando ela ouve o ronco da trovoada, estremece-se toda. Sua pele treme, sua boca empalidece e seu olhar entonce querendo colo, abrigo, defesa. Quando o céu faz zoada, como um zangão gritando mel, ela se esquece até das palavras daquela oração que aprendeu quando ainda usava véu. Seu corpo fica ouriçado, frágil e assustado ao mesmo tempo. É só um trovão, mas ela corre como se corresse de um leão.

Se eu fosse anjo desceria pelos relâmpagos como um cavaleiro só para confortá-la em minhas asas. Mas eu sou demônio e, nesse caso, chamo mais e mais trovões para que ela enlouqueça e padeça em mim. Não que ela mereça tanto sofrimento, mas eu a mereço num sentimento bruto e sem fim. E os trovões vão deixando-a nua de histórias e memórias. E mesmo não cultuando os céus, não escondo que dou glórias e mais glórias a cada estrondo. ...
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24/03/2011 - Reza de menino

Quando eu dormir, ò mãe, permita que a tua luz afugente as sombras que se escondem na escuridão. Impeça que criaturas ruins se aproximem de mim ou habitem meus sonhos. Por mais que eu tenha cobertas sobre o meu corpo, cubra-me com teu manto. Se puder, deixa ao menos um de teus anjos aos pés da minha cama. Antes de ir, ò dama das damas, recolha as contas do terço que rezei em teu nome e a flor que coloquei aos pés da tua imagem. Aquece-te à chama da vela que acendi e faça em mim, se me julgar merecedor, os teus milagres. ...
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23/03/2011 - Pra longe, vamos

Vamos pra longe, pra longe dos problemas. Dar adeus ao que o tempo esconde e se jogar na estrada. Vamos pra longe, pra longe dos dilemas. Colocar o sentimento na bagagem, comprar passagem para a mais apaixonada das luas. Vamos pra longe, virar à esquerda da terceira estrofe do poema. Vamos pra longe de todas as ruas que conhecemos. Vamos tomar rumo a partir do instante em que nos perdemos um no outro e nos envolvemos outro no um. Vamos pra longe, pra todos os lugares e pra lugar algum.

Vamos pra longe, pra longe dos velhos lençóis. Desatar os nós de marinheiros que os caminhos e descaminhos nos deram. Vamos pra longe, pra longe de cada um de nós. Inventar outro cotidiano, virar o ano, mudar o plano, entrar pelo cano, trocar o certo pelo engano. Vamos pra longe de um tempo a sós. Correr cidades, capturar momentos, redimensionar saudades. Vamos pra longe, pra longe no silêncio de um monge. Partir em segredo, sem medo de cair ou sorrir. ...
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22/03/2011 - A morte, o que será?

Se deus é sinônimo de vida o que é a morte? A antítese divina? E quem é a antítese de deus? Lúcifer? Acho que não. Aquela figura lendária que vaga entre os moribundos com capuz negro e foice, ceifando a vida dos humanos está atrelada a deus ou ao demônio? Por que o criador iria matar sua criação? Não faz sentido. Por que o diabo iria matar sua fonte de pecado, se o inferno é vivido na crosta terrestre? Também não faz sentido. Será a morte o elo perdido entre deus e o diabo?

Quem ou o que é a morte afinal? Se a morte não é deus pode-se dizer que é tão antiga quanto ele, ou até mesmo que ela o precede na linha do tempo. E, sendo assim, deus e morte duas criaturas antagônicas, o todo-poderoso pode morrer. Difícil imaginar isso, mas há um duelo incessante entre a vida e a morte, entre o começo e o fim, entre a luz e a sombra. E perguntas não se calam: deus venceu a morte ao ressuscitar seu filho? O diabo compra almas para continuar vivo? ...
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