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Encontrados 31 textos de outubro de 2011. Exibindo página 3 de 4.
11/10/2011 -
Oceânica
Suas lágrimas dão sabor a minha pele, a minha alma, a minha jornada terrena. Sua salga ora suaviza ora ressalta o gosto de um sentimento, dependendo da intensidade de seu choro. Também altera a minha cor e a textura dos meus pensamentos. O pranto é simples, intuitivo, receptivo.
Uma desilusão, uma decepção ou uma traição força a saída do sentimento salobro, desidratando sua alma de sereia. Quanto mais dor, mais sal e mais intensa a desidratação. O cenário influencia a salga. E o tipo de choro também faz diferença ao temperar corações alheios....
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10/10/2011 -
O amor e suas coisas
Não há razão alguma para resistir ao amor em nenhuma de suas formas. O amor chega escancarando portas, desobedecendo a normas, quebrando correntes, ignorando o segredo dos cadeados. De nada vale fingir ou adiar o que não tem desculpa. O amor, mesmo perdido, acha a criatura amada, seja nos porões do esquecimento, nas masmorras da solidão ou em qualquer outro esconderijo físico ou psicológico. Não há tempo ou espaço que detenha a sina de um amor de se cumprir em nós.
O amor já nasce jurado a ser amor por toda sua existência. É algo que foge da compreensão da ciência, que une pecado e inocência num mesmo corpo, contentamento e sofrimento num só tempo. Pode se ferido, mas não destruído. Pode ser proibido, mas não banido. Pode ser traído, mas não proibido. Pode ser bandido, mas não subtraído. O amor pode se transformar, mas vai continuar a ser amor, amor, amor......
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09/10/2011 -
Chuva fêmea
Minhas pernas em suas tabernas, eu bêbado de chuva e dançarino de estrelas. Ah! Ora pisava na ponta de uma das três marias ora caia nos domínios da ursa menor. Eu me pendurava ao vento, como se fosse uma peça de roupa somente, para logo perder a respiração numa tromba-d’água. Caia na lama, sujava a cama, trovejava em seus relâmpagos. Meu corpo ficava pesado e, ao mesmo tempo leve, cheirando a mato molhado.
E então veio o desejo de velejar pela chuva que escorria em sua pele, úmida e quente, em feitio de uma correnteza bravia. E o medo me seduzia e me enlouquecia e me convencia a ir mais longe. E tão logo me assumia náufrago me via capitão de seus afagos. Eu me sentia menino e ao mesmo tempo um velho lobo do mar. Queria valsar pelas ondas prendendo-a em meus braços ao longo de mil nós de marinheiro. ...
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08/10/2011 -
Steve Eva Jobs
Steve Joobs, como uma espécie de nova Eva, ao morder uma maçã gerou uma nova civilização. E se essas máquinas têm o seu DNA correndo em suas correntes elétricas o homem que morreu é o mesmo homem que viveu e viverá a cada download, a cada email, a cada clique do mouse. Steve Joobs enganou a serpente da morte ao entregar sua sorte em nossas mãos, ao levar seus sonhos para dentro da nossa casa, ao tomar de conta de nossos olhos e ouvidos e sentidos.
O homem que reinventou o nosso modo de escrever, de viajar, de corresponder, de saber, de navegar, de ouvir, de cantar, de aprender, de ensinar, de se divertir e de amar a máquina não pode simplesmente morrer. A morte, neste caso, é menor do que sua obra, do que sua revolução, do que sua linguagem. Seus filhos computadores e i-pads se misturaram aos homens causando prazer e dependência como uma nova Eva. Uma Eva tão inteligente quão sedutora. ...
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07/10/2011 -
Toda noite
Toda noite, um beijo de boa noite. Toda noite, a cama forrada. Toda noite, uma estrela caindo um pouco mais. Toda noite, uma canção de ninar. Toda noite, uma lua num balão de gás. Toda noite, o perfume dos anjos da guarda. Toda noite a dança dos pirilampos e siriris. Toda noite, os olhos abertos da coruja. Toda noite, o medo de assombração. Toda noite, o amor e a revolução se casando sob lençóis. Toda noite, sonos e sonhos. Toda noite, contos de fadas e princesas.
Toda noite, corpos colados. Toda noite, uma xícara de chá. Toda noite, um capítulo inédito de novela. Toda noite, um novo mesmo jeito de adormecer. Toda noite, uma saia rodada de abajur ilumina o quarto. Toda noite, um gato em serenata. Toda noite, velas e preces acesas. Toda noite, corações de pijamas. Toda noite, beijos de néon. Toda noite, o mingau das almas. Toda noite, o vento batendo o portão. Toda noite, silhuetas e sombras. Toda noite, piratas avançando sobre o oceano da escuridão....
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06/10/2011 -
A casa do caboclo
O que cai do céu não se sabe se é chuva ou o choro do Caboclo das Sete Encruzilhadas diante da destruição de sua casa. Ao golpe de marretadas, telhados e paredes que abrigaram o berço da Umbanda vão ao chão. Acabam com o marco inicial da religião genuinamente brasileira. Destroem mais de cem anos de história, forjada com muita luta e sacrifício. Ôô sacerdote, ôo curandeiro! Os espíritos dos caboclos e dos pretos velhos estão na rua Floriano Peixoto, número 30, no bairro de Neves, no município de São Gonçalo, Rio de Janeiro, despedindo-se do terreiro que é a certidão de nascimento da Umbanda. ...
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05/10/2011 -
Doce tristeza
Nada ao seu redor conseguia ser mais triste do que seus olhos entristecidos pela falta de deus. Uma situação de abandono, uma sensação de falta de dono, uma carência de filha deixada pelo caminho. De quem seria sua alma se o apocalipse se cumprisse agora? Por não saber responder, calava-se numa tristeza fatal e conflituosa.
Uma tristeza que, mergulhada em seus olhos de compotas, cortava como lâmina amolada nas pedras do tempo. Sua tristeza, em flor, espalhava-se pelos jardins da solidão, descolorida e rasteira, como planta misteriosa que distende os ramos querendo juntar bocas e espinhos num mesmo beijo. ...
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04/10/2011 -
Eduardo Matarazzo Suplicy
Suplicy. Tradicional e, ao mesmo tempo, contemporâneo. Suave nas notas iniciais e extraforte nas finais. Tipo exportação. Cultura permanente. Safra em movimento. Suas palavras têm aroma e sabor. Discursos encorpados que despertam e estimulam a criatividade e as atitudes alheias. Ideias e ideais que podem ser bebidos no café da manhã, após o almoço, numa roda de amigos ou solitariamente. Pensamentos que brotam, dão flores e lançam sementes como um bom pé de café. Presente nos barracos, nas casas do campo, nos palácios. Puro ou acompanhado, Suplicy é sempre uma boa pedida. Simples e sofisticado, faz parte do dia-a-dia de brancos e negros, de homens e mulheres, de jovens e idosos. Charme e elegância saborizados. ...
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03/10/2011 -
Quem é que não tem medo?
Quem é que não tem medo dos pássaros da noite que pousam nas mãos de Iyá Mi Osorongá? Quem é que não tem medo dos vendavais de Iansã? Quem é que não tem medo dos pântanos de Nanã? Quem é que não tem medo da vidência de Yewá? Quem é que não tem medo das encruzilhadas de Exu?
Quem é que não medo do firmamento, Ofurufu. Quem é que não tem medo da morte, Omulu. Quem é que não tem medo do perigossímo odu Oyeku Meji que governa a meia-noite? Quem é que não tem medo do poder de sedução de Oxum? Quem é que não tem medo das armas de Ogum? Quem é que não tem medo do poderio de Olurum? Quem é que não tem medo da arrebentação de Iemanjá? ...
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02/10/2011 -
Mulher e pássaro
A mulher é pássaro que voa longe. Seus cabelos são como nuvens, que passam por nós. Suas costas vão roçando o horizonte e sua boca bebendo sol comendo lua. Quando ela abre suas asas ninguém sabe onde vai parar. Vem e vai ao vento, varrendo céu, cruzando mar. Rompe plantações, porteiras fechadas e estações. Voa molhada de chuva e de prazer. Voa azul turquesa, lilás, amarela, vermelha e negra ao anoitecer. Faz pouso nas estrelas e nas gaiolas do seu absoluto querer.
No alto do salto de um sapato alto ou de um sobressalto, a mulher faz seu vôo. Um vôo cego de intenções, de aflições, de orações. Um vôo em que deixa para trás o tempo fugaz, os olhos do rapaz, os amores surreais, as paixões carnais, as desilusões fatais. Precisa de leveza de alma para voar. Não pode levar sobrepesos de expectativas ou de solidões contigo. Precisa se desligar de seu umbigo e se entregar ao infinito como se o nada fosse o seu único e mais bonito abrigo. ...
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