Daniel Campos

Texto do dia

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Encontrados 31 textos de outubro de 2011. Exibindo página 2 de 4.

21/10/2011 - Símbolos

Eu acredito que o infinito é mais do que um oito deitado, que o coração vai além do desenho de duas mãos unidas, que a fé é maior do que uma cruz. Multiplicação para mim é amor e não um x, assim como o meu para sempre tem mais do que três pontinhos. A paz não pode ser apenas um pombo branco. Onde começa e onde termina o movimento de um círculo? Nem toda seta é capaz de indicar uma direção. A natureza é muito mais complexa do que um pentagrama. Será que o tão temido olho de lúcifer cabe no topo de uma pirâmide? Será que tudo o que queremos dizer consegue ser dito combinando vinte e poucas letras?...
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20/10/2011 - Foi Exu quem chegou

Bate, bate tambor, foi Exu quem chegou. Chegou fazendo movimento, movimentação. Chegou o mensageiro entre o Orun (espiritual) e o Aiye (terreno). Chegou falante, brincando, cheio de ginga. Chegou provocando. Chegou aquele quem primeiro recebe as oferendas, os cantos, as danças. Chegou mais uma vez confundindo com satanás. Chegou, chegou Exu, o senhor da noite. Chegou o mais humano dos orixás. Chegou aceitando toda e qualquer oferenda. Chegou aquele que tem olhos, nariz e boca feitos de búzios. Chegou metendo medo e causando arrepio. Chegou Exu ventando frio. ...
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19/10/2011 - Rua São Miguel, 71

Sem dúvida alguma, esse foi o endereço da minha juventude. Eu morava com meus pais nessa mesma rua, um pouco mais acima, mas a casa em questão era a de meus avos maternos. Conto nos dedos das mãos quantas vezes deixei de ir lá ao menos uma vez por dia ao longo de 25 anos de idade. Definitivamente, celebrei bodas de prata com aquela casa. Perdi a conta de quantos sorrisos, de quantos sonhos, de quantos poemas, enfim, do quanto de mim ficou impregnado naquelas paredes.

Ah! Quantos passos meus ficaram marcados num balé de encontros e reencontros naquele piso, que ora formava desenhos geométricos ora pinturas abstratas. Quantas danças garbosas de meu avô bailando por aquela casa permanecem dançando em meus olhos. Quantas vezes eu me sentei ao redor de uma daquelas duas mesas de madeira, construída por ele, para comer de iguarias típicas de minha avó como polenta com frango ou sorvete de ameixa. ...
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18/10/2011 - Pensativas

É de aço ou de lã esse amor que me consome? É sólido e pesado e intransigente como aço. É macio, quente e cheio de meadas como lã. Vem do chão ou do céu esse amor que me move? Vem do chão quando brota feito lavoura depois da chuva. Vem do céu porque parece milagre, suspenso no peito. É solene ou informal esse amor que me envolve? É solene em seus ritos e rituais. É informal em sua casualidade, em sua espontaneidade, em seu jeito sem quê nem pra quê.

Está em mim ou fora de mim esse amor que me abraça? Está em mim como pedaço de meu corpo. Está fora de mim como um sopro. Está aberto ou fechado esse amor que me embaraça? Aberto quando tudo conflui a favor num esforço de dar certo. Fechado quando faz balanço e rebeldia. Está claro ou escuro esse amor que me enlaça? Claro quando se trata de coisas objetivas, práticas, reais. Escuro quando falamos em saudade, quando desço fundo na escuridão da alma. ...
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17/10/2011 - Religião bossa nova

Havia um tempo em que minha religião era a música. Tom Jobim e Vinícius de Moraes sempre foram meus principais deuses, aqueles que haviam criado o mundo de canções em que eu habitava. Tom e Vinícius, como Jesus, Buda, Alan Kardec, tiveram sua passagem pela terra. Ao contrário de parábolas, falavam por meio de versos e partituras. E como poucos, estavam ligados diretamente à natureza. Falavam do amor com propriedade. Era uma religião sem castigos, sem medos, sem pecados.

A música de Tom e Vinícius é milagrosa por si só. Capaz de curar problemas do corpo e da alma. Além disso, as canções tanto trazem a pessoa amada até você como a levam até ela. São capazes de tocar profundamente nas questões mais íntimas e secretas. Suas canções provocam alívios, renovam esperanças, alimentam desejos. Letras e ritmos que confortam e provocam ao mesmo tempo. São músicas vivas que não só simbolizam, mas que concretizam a vida como deve ser vivida – de maneira atemporal e intensa.


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16/10/2011 - Sons da noite

Quando a noite cai, sussurros e urros chegam cegos aos nossos ouvidos. Mensagens urgentes trançam pernas no escuro, tropeçam em declarações antigas. Tudo se mistura, tudo se confunde e se funde na noite escura. São tantos sons se procriando na noite. São gemidos abraçados, versos alados, refrões casados, vozes do presente, do futuro e do passado no mesmo espaço. Sons cardíacos, viscerais, animais. Sons que atravessam paredes, corpos, dimensões.

Quando tudo se aquieta, a noite cai em sinfonia. O que a noite toca, vira música. As rezadeiras cochicham orações. Até mesmo a lua chega a cantar em vibrações que só alcançam os mais apaixonados ouvidos. São grilos, besouros, corujas, pirilampos, ratos e outras criaturas se expressando verbalmente, cada qual a sua maneira. Isso sem falar das almas penadas que ao contrário de arrastar correntes, colocam a conversa em dia. Durante a noite, as línguas se amam sonoramente. ...
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15/10/2011 - Desejo de jabuticaba

O meu reino por um pé de jabuticaba. Trocaria toda minha cavalaria, a beleza da minha realeza, por uma jabuticabeira. Alguma feiticeira deve ter colocado todo o sabor da noite naquelas frutas nascidas como flores de primavera. Como é doce escutar aquele ploct entre os dentes. Uma explosão de caldo, de vida, de lembranças. Comer jabuticaba do pé, dependurado entre os galhos, dividindo espaço com as abelhas. Uma paixão cíclica, que por mais que seja eterna, precisa da saudade para se renovar.
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14/10/2011 - Sopro de mulher

A mulher amada é como o vento que sopra sobre a cidade. Ora acalanta ora destrói o mundo alheio, quando não até o próprio. É um vento carregado de anteontem querendo, a todo custo, alcançar o futuro nem que para isso precise passar por nós ou nos levar com ela, em seus redemoinhos. Ora traz chuva ora alimenta o fogo ora seca o orvalho. Ninguém sabe que hora vai chegar ou que hora vai partir. Ora é uma rajada fria ora um alimento quente.

A única certeza é de que ninguém a prende entre os dedos ou num quarto escuro. Ela sempre parte à solta. Cavalga por nuvens ou pelo éter do infinito. É contínua. Quando quer traz ciscos aos olhos ou os enxuga de qualquer lágrima. Carrega luas, balões, polens e poeiras em seus braços. Passa entre espinhos sem se machucar. Entra em todos os ambientes, espalha todos os segredos, semeia os mais variados perfumes e uma leva de desastres. ...
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13/10/2011 - O amor me faz assim

O amor me domina, me tira do sério, me rouba o juízo, me dá sua língua. O amor me agiganta, me transmuta, me leva a outra dimensão. O amor nunca obedece as minhas fronteiras, rompe meus limites, confunde meu sim com seu não. O amor em mim é marco e micro, sol e chuva, luz e escuridão ao mesmo momento. O amor me multiplica, me acaricia e me esbofeteia com a mesma intensidade. O amor me transforma em saudade, em distância, em silêncio...

O amor me faz repensar a solidão, a ciência e o tempo. O amor me tira do chão, e depois me faz cair do céu mais alto, e depois ainda me entrega novas asas. O amor me condena, me inocenta, nunca me esquece ao longo de sua sentença. O amor me faz andar contra a corrente, matando ou morrendo em nome dele. O amor me lê e permite que eu o escreva. O amor me hipnotiza, me faz de gato e sapato e depois explode dentro de mim átomos e mais átomos de amor. ...
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12/10/2011 - A gente

E se a gente de repente, absolutamente, mudasse a direção, o sentido e o ritmo dessa jornada que anda tão ausente da gente. Sobra passado e falta presente em nossa frente dissidente de batalha. Antigamente nossa trajetória era adjacente, agora escapa pela tangente. O que era abrangente ficou restrito e o que era bonito se tornou delinqüente. A flor, a fruta, a folha, a raiz... Nada está perdido, tudo está contido numa semente. Uma semente de afeto permanente, uma semente afluente louca para germinar como uma sobrevivente do melhor e do pior da gente....
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