Daniel Campos

Prosas

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24/11/2008 - Cântico de Maria

Ò minha mãe, Auxilium Christianorum, perdoa as minhas faltas, os meus descaminhos e às vezes que eu não entendi os espinhos que colocaste em meus caminhos. Sou fraco, pecador, trapo, humano-sonhador, mas olha o amor que me há a vos adorar. Eu não mereço vosso colo, mas tenha misericórdia ao me lançar este vosso olhar de dolo. Perdão, Altíssima, pelas vezes que não dobrei os joelhos, a voz e os espelhos do meu eu diante de vós. Confesso a vós o meu desespero, o meu atropelo, o meu destempero de viver sem saber sofrer. ...
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16/01/2016 - Canto assim

Há quem cante no chuveiro. Quem cante pra espantar o mal. Quem cante para inventar um outro final. Quem cante de boca, de peito, de corpo inteiro. Quem cante na rua, no telhado, debaixo do coqueiro. Há quem cante afinado, compassado e que cante zumbido como num vespeiro. Há quem cante de amor e quem cante achando que é cantor, compositor, trovador... Há quem cante por dinheiro, por aplausos e por equilíbrio.

Eu canto, eu vibro, eu liro quando respiro a canção que vem de dentro como um unguento para o mal do silêncio. E muito silencio fazendo da quietude meu cio. ...
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22/05/2016 - Canto de libertação

Com o dia quase raiando, o galo subiu no poleiro, estufou o peito e silenciou. Ali não era o melhor lugar para ele anunciar o novo dia. Precisava de mais. Subiu então na carroça velha, que já dava de comer aos cupins, e se preparou, mas, novamente, engoliu o canto ao ver que a cerca. E subiu no mourão mais alto, chegou a abrir as asas, mas ainda não estava bom. Ele queria mais. E foi então que subiu no telhado da casa de seu dono. Já tinha certa idade e não tinha o mesmo vigor, seus passos eram lentos, mas seu canto ainda era belo. O tempo deu um tom ainda mais grave as suas notas. E ele sempre foi elogiado por sua afinação. E, com a teimosia de sempre, subiu no telhado vendo boa parte da fazenda aos seus pés. Bateu asas, esticou o pescoço e segurou o canto já no findar do bico vendo que o jatobazeiro era muito mais alto que o telhado da casa. A essa altura, o dia já clareava. E lá foi ele para o pé de jatobá, voando seu voo curto galho a galho. Perdeu muitas penas na subida, pois ora se debatia contra a árvore ora tentava se agarrar nela. Ficou sem fôlego, mas não se deu por vencido. Encontrou uma coruja que arregalou os olhos sem entender o que aquele galo fazia ali. Chegando ao ponto mais alto da árvore, ele contemplou o sol que já reinava. Nunca havia visto o sol tão de perto. E se galos não choram, aquele galo avermelhado, azulado, acaipirado chorou. Chorou diante da beleza do sol que chegava até seus olhos. Ficou hipnotizado. E preparou seu canto. Precisava ser seu canto mais bonito. O melhor de sua história. Concentrou-se. Deixou a música fluir por todo seu corpo. Peito estufado. Pescoço alongado. A curvatura perfeita. Bateu asas. Tremeu-se todo na iminência do cocoricar. Abriu o bico e... e... e... calou-se. Calou-se a perceber que as galinhas já estavam ciscando no terreiro, que o fazendeiro já ordenhava as vacas, que dona Maria já estendia roupas no varal, que os porcos já rolavam na lama, que a fazenda já havia amanhecido, acordado e acontecido sem o seu chamado. Sentiu-se desnecessário. Porém, estava feliz por estar ali e por estar liberto da obrigação de despertador que cumpriu por tantos e tantos anos. Ninguém havia dado por falta dele. E isso não era motivo para lamentação, mas sinal de que ele poderia partir. Estava livre. Foi preciso mudar seu ponto de vista, sair do óbvio, do lugar comum, para perceber que podia seguir em frente. E, ciente disso, de forma espontânea, cantou de um modo que nunca havia cantado. Um canto de libertação. De autolibertação. E já não importava para quem cantava, mas o que ele cantava a si mesmo. Ele segurou o último acorde para além dos limites e bateu asas. Voou um voo curto. Voou um voo último. Voou em direção ao sol. E por mais curto que seja o voo de um galo, durou, para ele, uma eternidade, antes de chegar ao chão num corpo condenado ao silêncio, mas numa alma que, para sempre, ecoaria ensolarada por aquela fazenda.


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27/08/2008 - Canto em morte

Ò alma ferida minha, trovador que sou, canto a minha morte no silêncio destas linhas. Basta de viver. Basta de apanhar. Basta de chorar. Basta de acreditar que depois do horizonte haverá um amanhã melhor. Que amanhã é este que nunca chega? Ah! O horizonte é só um risco perdido no longe do céu. E não há mais tempo para se esperar milagres! E independentemente se paraíso ou inferno, se anjo ou demônio, se coragem ou covardia, o que eu quero é partir. Partir para bem longe daqui. Que aqueles que me apedrejam sejam coroados em face da lápide de minha ausência. Afinal, eu nada serei senão o meu próprio adeus. Adeus! Adeus! Adeus! Ah! Deus, onde estás que não o vejo?...
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11/09/2008 - Canto triste

Por que esses olhos cabisbaixos? Por onde se esconde sua esperança? Por favor, não desista. Quem sabe se respirar fundo e mergulhar mundo afora, possa se reencontrar com aquela criança que eu via caminhando em seus olhares. Da última vez que eu a vi, ela engatinhava, escorregava e cantava baixinho pelos labirintos do seu eu. Ah! Não chora não! Para cada lágrima que cai desses seus olhos férteis nasce um pé de tristeza. E olha que a flor do entristecer não combina com você. Ela é pálida, fria, dolorida e, quiçá, carnívora. Ela devora sonhos. ...
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06/11/2008 - Cantoria

Mais do que um grito, o meu canto é uma súplica contra a morte do dia-a-dia. Feito cigarra, quero explodir de amor, de fantasia e de outras intensidades musicais, ou seriam sentimentais? Feito soldado que vai para os campos de batalha, quero duelar o meu sonho e cantar a minha guerra. Feito trovador, quero espalhar minhas trovas olhos e luar afora. Feito quem chora, quero lançar meus sentimentos ao vento. Feito amora, quero manchar a boca de quem devora meus versos, e me doar pelo avesso num desejo sem paga ou preço. Ah! Quero ser a serenata que passa debaixo da tua janela arrancando de tua boca um sorriso envergonhado. ...
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10/05/2015 - Cão abandonado

Numa curva da estrada, um cachorro negro de peito imponente e olhar doce, como que esperando o que não há de chegar. Plantado naquela dobra do caminho, às margens do asfalto, emoldurado pelo capim entre o verde e o dourado que tomba ao vento. Tem mostras de que tomou todo o relento da última noite numa separação advinda do açoite. Ainda há sentimento em seus olhos, uma vontade de voltar para casa, mas cachorro não tem mapa interior nem asa. Ainda bem lavado, de pelo domado, espera por seu dono com olhares caídos de sono doídos de abandono. Não é filho, tem porte. Vontade de levá-lo, mas não é comigo que ele quer ir. Mas quem partiu não só para o norte, mas a sorte de um amor canino não há de vir. Até quando aquele cachorro ficará naquela curva? Quanto de sol, quanto de chuva vai tomar? Até onde aquele olhar doce vai aguentar? Logo ganhará carrapichos, costelas à mostra, indícios da tua solidão. Será que um dia ainda sentirá o gosto tão habitual da ração? E o cachorro afetuoso se transformará em um cão desgostoso capaz de morder. Morder para tentar aliviar o teu sofrer. Será que quem o deixou não sabe que ele nunca o deixará? Quem não acredita que bicho ama é porque nunca viu um cachorro chorar. E daqueles olhos negros escorriam as lágrimas do desassossego. Lágrimas de quem só conhecia a terra do quintal três por três. O que será que ele fez desta vez? Comeu um vestido? Mastigou um sapato? Fez xixi no tapete da sala? Latiu pro gato? Abriu uma vala? Quem é que não erra? Se é que errou... Só fez as cachorrices de sempre que sempre lhe renderam afagos e risos muito em razão de seu latido gago. Não sabe uivar, caçar, atravessar a pista. Ele nem entende o que está passando pela sua vista. Plantado ali, no meio do nada, numa curva da estrada, como árvore replantada que ou não há de vingar ou há de se transformar no que era. ...
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17/11/2011 - Caótico

Tudo errado, trocado, virado pelo avesso. O futuro começando antes do passado, a separação se antecipando ao casório e a morte chorando no berçário. Será que ainda compensa parir mais um sonho nesse mundo tão arredio? Pra que lado corre o rio? Que dia eu tenho e que dia nós teremos para nos dar? As perguntas batem contra meu rosto como um vento forte tentando me empurrar para trás da linha da ilusão. Chovem canivetes, giletes, pivetes ferindo, rasgando, roubando as nossas vidas. Não consigo romper a barreira que me separa do sonho que sonhei pra mim, que sonhamos para nós. Tanta paixão resumida a pó... ...
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09/03/2010 - Capítulo 1

Mesmo com o demônio sendo esmagado pelo pé e açoitado pela lâmina afiada da espada de São Miguel Arcanjo há uma mistura de aflição e medo no ar. E por falar nele, o ar passa áspero pelas narinas, pesa sob os ombros e traz apertos ao peito, nós à garanta e calafrios à espinha.

Bobagem. Deve ser apenas má impressão, afinal nós estamos em uma igreja, em horário de missa e na companhia de um sacerdote. Aparentemente, nada de ruim pode acontecer. Aparentemente...

Mesmo com uma voz em sua consciência dizendo “não” sucessivas vezes, a freira responsável pelo cerimonial do colégio Escravas do Sagrado Coração de Jesus levanta-se da cadeira de veludo arroxeado posicionada no corpo do altar e quatro passos à frente sussurra algo próximo ao ouvido direito do padre que realiza uma missa de Ação de Graças pelos formandos da oitava série de um dos mais tradicionais e rígidos colégios de Buenos Aires. ...
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08/04/2010 - Capítulo 10

Sebastian fecha os olhos e começa a rezar. Aquela coisa que se apoderou de Malena continua falando absurdos ao seu respeito. Mas ele não desiste e insiste nas orações até o momento em que a cor dos olhos de sua mulher retorna ao tom normal e ela volta a si.

Para sua surpresa, ela reclama de dor de cabeça e diz não se lembrar de nada. Teve um lapso de memória. No entanto, voltou ainda mais estressada. Com ódio, pergunta ao marido que coisa é essa que ele se tornou a ponto de beber escondido, de esmurrar os outros, de se descontrolar no tribunal. ...
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