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Encontrados 3193 textos. Exibindo página 46 de 320.
26/04/2012 -
Boiadeiro 7 Porteiras
Auê-uê-uê-ê boi! Xetruá Boiadeiro! Está ouvindo esse mugido cortando o sertão? Está ouvindo o trotar do cavalo rompendo o estradão? É sinal da chegada dos boiadeiros, caboclos de couro, Xetrô marrum bá xetrô! Quem foi que abriu as porteiras? Foi o chefe da comitiva, Boiadeiro 7 Porteiras, caboclo bom de laço, berrante e viola. Ele vem em de chapéu de abas largas, bota e calça arregaçada. Vem tocando sua boiada, abrindo e fechando porteiras ao longo da estrada.
Boiadeiro bom de papo, que se alegra fumando palheiro e bebendo cachaça. Sabe dançar tanto no chão do terreiro quanto em cima do cavalo. Vem aboiando e balanço os braços. Auê-uê-uê-ê boi! Xetruá Boiadeiro! Sob a luz de Iansã, senhora dos eguns, Boiadeiro 7 Porteiras conduz os espíritos dos mortos com a mesma destreza que toca seu gado. Leva cada espírito para seu destino, abrindo as sete porteiras do além para quem ele acha que convém. ...
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Comentários (29)
16/07/2013 -
Boldo encantado
A poucos passos de casa, ficava o quintal de dona Adélia, onde, entre outras ervas medicinais, localizava-se o pé de boldo milagreiro. Para quem herdou problemas de fígado e de estômago da mesma, aquele pé era um deleite para a saúde. Quantas as vezes que já cheguei perto dele com uma perna no além e após mastigar ou amassar aquelas folhas eu renascia. Era questão de segundos. E quando era ela ou seu Líbio quem preparava, como uma espécie de ritual, aquela macerada melhor ainda eu ficava.
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03/11/2013 -
Boneca do campo
A boneca, cosmopolita por natureza, deixou a caixa, a casa, a cidade grande e rumou para o campo. Sem mais pensar, abandonou roupas de grife, lençóis de centenas de fios, carros importados e mergulhou no verde. Fez um rabo de cavalo no seu cabelo de salões e correu pela chuva que perfumava ainda mais sua pele. Sim, trocou o perfume francês pela essência do mato. Sem trânsito, celular, televisão, a boneca brincava com as estrelas cadentes e ascendentes em seu signo. E sua beleza só fazia crescer naquele cenário de campo. ...
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Bonecas
Ela, do alto de sua meninice, estatela os olhos diante das vitrines de uma loja de brinquedos. Entorta o pescoço pra lá, a cintura pra acolá e fica na ponta dos pés só para conseguir enxergar melhor a vida por detrás daquele vidro. Chega a ficar com os olhos parados e esquecer de todas as preocupações mundanas. Mas qual era o mundo daquela menina de seis anos senão os brinquedos? Mas sua mãe parecia não entender. A mãe tinha uma reunião com a diretoria da empresa, um telefonema para o exterior, uma aula de primeiro socorros para a renovação de sua carteira de motorista, uma massagem, um almoço com o pessoal da turma de espanhol e... ...
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09/08/2013 -
Bons ou maus conselhos
Se tudo der errado, não tema errar outra vez. Quando lhe chamarem de louco, sorria e agradeça por não ser normal como todos aqueles que só fazem o mal. Se nada sair como esperado, aproveite o que a vida lhe ofereceu. Quando tudo estiver perdido, encontre-se. Se ninguém acreditar em você, faça de um tudo para poder contar com aquele que está do outro lado do espelho. Quando escutar um não, pense que o sim está a caminho e cada vez mais próximo. Se nada acontecer por conta própria, promova você mesmo uma revolução em matéria de acontecimentos. ...
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09/09/2012 -
Bons ventos
Antes do sol, o vento já barulhava na janela. O mesmo vento que alvoroçava os pardais, os cardeais e os casais de sabiá. Não importava se sul ou, norte ou sudoeste. O vento trazia o friozinho da serra e o ardume do agreste. O vento grudava nos corpos como uma espécie de cipreste. Trazia cheiro de café, de pão de queijo e de outros quitutes. Trazia os últimos suspiros do orvalho. Trazia o choro da seiva no tronco do velho carvalho.
O vento atiçava os corpos a ficarem por mais tempo debaixo das cobertas. O vento em todas as direções e sentidos fazia as horas ficarem incertas. O vento de Santa Bárbara revirando o mundo. O vento de Iansã calando fundo. O vento limpando a terra de pensamentos imundos. O vento misturando pólens, folhas e cabelos. O vento despedaçando e colando corações. O vento cicatrizando canções. O vento, como trem, trazendo e levando estações. ...
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11/11/2008 -
Borboleta amarela
Quando uma borboleta amarela pousar no teu ombro é sinal de que o dia já vem. Mas não o dia dos relógios, dos calendários, dos cotidianos. Falo de um dia especial, que não sabe se é sol ou lua. Quem sabe os dois dividindo o mesmo céu ou a mesma terra ou o mesmo mar. Ah! Enquanto voa, essa borboleta de asas amareladas vai mexendo com as marés, com as sementes, com os cabelos que são de pólen, que são de néctar. Asas de ouro, asas de trigo, asas de mel.
Magicamente, o pó de suas asas cega nossos olhos para tudo o que não for poesia. E aquele balé no céu vai deixando cada vez mais clara a poética da vida. E eu aprendi na escola que amarelo com azul dá verde. E verde é a esperança que se espalha pelas chuvas de novembro. Pena que muitas não vivem mais do que um dia. Pena que muitas são seduzidas pelas redes dos caçadores. Pena que muitas sintam o alfinete afixando seu corpo a um quadro morto. ...
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14/03/2015 -
Borboleta bruxa
Por algum feitiço, vindo de alguma deusa mal-amada ou de algum deus traído, quando a noite desce as borboletas viram bruxas. No decorrer dessa transformação ganham em tamanho e perdem o colorido. Desproporcionais e cinzentos, os seres admirados tornam-se odiados. As pobres borboletas não dão contam de voar, e como que bêbadas, voam aos pulos trombando lá e cá. Geralmente enroscam-se em alguma cortina ou se encolhem em qualquer soleira esperando o dia clarear para voltarem ao corpo de borboletas poéticas. Mas nem sempre isso lhes é permitido porque diante da figura assombrosa não faltam chineladas e vassouradas. Os poucos que seriam capazes de atentar contra uma borboleta ainda continuam inquisidoras contra as bruxas. Pobre sorte das borboletas que de criaturas divinas passam a sombrias mensageiras da morte, no caso, da própria morte.
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14/08/2010 -
Bordaduras no jardim
Bordaduras no jardim. Eis o que vejo quando me debruço no parapeito da janela da sua casa. Sua casa me lembra a casa da infância que não tive. Ali, vejo as flores se compondo num arranjo de pétalas e folhas como num tear daqueles que fiavam nossas ilusões. Tempos idos. Desejos esquecidos. As flores e os botões se intercalando como pontos de crochê, de tricô, de cruz. O perfume e a luz existentes ali são capazes de fazer a menina rica se apaixonar pelo jardineiro.
Pouco a pouco, meus olhares ganham a textura daqueles bordados. E eu vou ponteando pelos arbustos e folhagens de cetim em vários matizes. São cordões, caesados, pespontos, ilhoses em roseirais de tafetá. E todas as bordaduras bordadas a mão em pontos e laçadas de algodão. Entre as pedras do jardim, bordados em pedrarias de lírios. São gérberas e orquídeas e tulipas fazendo-me perder o fio da meada a ponto de me esquecer da estrada que me leva de volta. ...
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27/12/2009 -
Bordeaux já!
Meu amor pegue o primeiro avião porque quero lhe encontrar em Bordeaux. Quero lhe amar provincianamente, em uma França bem menos badalada. Quero lhe pegar pela mão e correr meninamente pela planície de Aquitânia, país das águas. Quem sabe a gente vai além dos rios Garrone e Dordgone e chegamos às estações de esqui dos Pirineus. Vamos nos perder pelas parreiras. Vamos visitar os châteaux e provar várias safras.
Vamos nos esbaldar nesse clima temperado, passear pelo Bosque de Landes. Vamos namorar sobre os terroirs, que foram plantados há dois mil anos pelos romanos, quando conquistaram os celtas. Vamos trabalhar uma batalha amorosa e relembrar que ali foi Palco da Guerra dos Cem Anos. Vamos caminhar por sobre um mar de garrafas vazias que alimentaram começos e finais de outras paixões....
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