Daniel Campos

Prosas

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17/11/2010 - Boca adormecida

Quantos hologramas se escondem nos lábios da mulher que dorme ao lado. Ao lado do homem, do mundo, do tempo que passa. A cor dos lábios ganha uma textura orvalhada, como se dormisse ao sereno. A temperatura dos lábios é desconhecida, afinal, tocá-los é um risco, uma vez que o sono é tão delicado quão a mulher. E eis a tentação, a prova de um amor que superara o físico, velar o sono dos lábios da mulher amada sem despertá-la num beijo. Que os beijos sejam lançados à distância, no auge da contemplação. ...
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Boca chabernet

Onze horas da manhã. O cabelo molhado, emaranhado e colado ao início das costas. O olhar varre o guarda-roupa. Depois de tanta procura, descalça e de hobby, vai para a sacada. Seu olhar ganha a linha paralela do horizonte. Paralela? Paralela com tantas coisas. Lembranças brincam de correr por aquela linha, brincam de escorrega, brincam de gangorra, brincam de pique - esconde. Lembranças.

Por debaixo daquela linha, paralela a um mundo distante, os olhos quase se afogam em um lago. É preciso ter cuidado e equilibrar o olhar naquela linha. Embora de águas calmas, ninguém sabe os perigos que habitam aquelas águas azuladas. Seres fantásticos podem existir ali. E talvez seja em busca desses seres que aquela mulher entrega olhares à varanda. Quase 12h e as piscinas do hotel, que se acabam antes do lago, continuam vazias. Nenhuma criança, nenhuma cena de beijo, nenhum copo carente de sol. Ninguém. ...
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12/03/2014 - Boca divina

Se deus fosse um beijo, seria a sua boca. Se deus morasse realmente no céu, moraria no céu da sua boca. Se deus fosse mulher, teria a sua boca. Se deus tivesse uma criação predileta, seria, sem dúvida, a sua boca. Se deus falasse com a língua dos contos de fada, o era uma vez e o foram felizes para sempre viriam da sua boca. Se deus roubasse, roubaria beijos de sua boca. Se deus deixasse de ser deus, seria batom para seguir na sua boca. Se deus perdesse a fé, bastaria ele escutar seu nome da sua boca. Se deus se permitisse se marcar, seria com o contorno da sua boca. Se deus tivesse cor, apareceria com os tons da sua boca. Se deus ficasse com água na boca, seria da sua boca. Se deus fosse mortal, renasceria pela sua boca. Se deus sonhasse, não iria querer acordar para permanecer na sua boca. Se deus comesse, comeria direto da sua boca. Se deus dormisse, seria de lado voltado para a sua boca. Se deus pecasse, seria na sua boca.


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02/06/2012 - Boca fechada

A duras penas, aprendi a viver em silêncio. De tanto falar a ouvidos não gratos, hoje caminho de lábios serrados. Minha língua não fala a língua dos homens, mas a língua das pedras. Somente as pedras estão a salvo de fofocas, invejas, calúnias e outros males causados pela língua. Hoje eu falo mais comigo do que com qualquer outra pessoa. A quietude é minha nova identidade. Meus verbos vivem às sombras e minhas canções são entoadas caladas como a lua.

Não há outro remédio para evitar o mal do que silenciar. Cale-se de manhã, de tarde, de noite. Os ouvidos alheios têm espinhos que quase sempre ferem suas palavras. Falar demais é se despir totalmente. E criaturas despidas são frágeis, vulneráveis, mortais. A fala em demasia empobrece o espírito, porque a tendência daqueles que lhe escutam é roubar o conteúdo e o significado das suas palavras. Ouça um bom conselho: guarde suas palavras antes que se perca delas. Palavras perdidas são vidas caídas....
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09/06/2011 - Boca florida

Quando eu toco em sua boca sinto camadas e camadas de flores compondo seus lábios. Sinto, entre um beijo e outro, as pétalas, as folhas, o pólen, as abelhas, os espinhos, as cores, o sereno, a renda. Sinto margaridas bem pequenas, alfazemas cheirosas, azaléias ensolaradas e damas da noite mescladas de lilás. Sinto flores feitas à mão por um anjo artesão. Algumas espécies se alastram por seu sorriso, outras se encolhem num canto da boca. Flores que murcham ao serem atingidas pelos cristais de sal das lagrimas que, vez ou outra, derrama mesmo sem querer. ...
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12/03/2011 - Bocejos lunares

Boceja a lua recostada no pé direito de uma casa de esquina. Tem desejos de mulher e olhar de menina aquela criatura curvilínea, redondamente atraente. Não tem medo de descer do céu para amar no meio da rua, feito o casal de namorados que beija com sabor de pipoca. Tomou coragem e tatuou um livro inteiro de Garcia Marques em uma de suas crateras e se pôs a espera de alguém que pedisse sua mão (e um pouco mais) para São Jorge.

Como queria deitar numa cama e ser acordada só na noite seguinte não importando se estrelas ou cometas questionassem sua ausência longa e súbita. Fria como a brisa que caminha pela madrugada queria se embrulhar em lençóis, beber uma bebida quente e dormir de conchinha. Queria ser chamada de “minha” no meio de um eclipse. Queria dançar com meteoritos de carne em passos de elipse. ...
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26/03/2013 - Bodas de lã

Sete. Sete pecados capitais. Sete maravilhas do mundo. Sete virtudes divinas. Sete chaves fecham um segredo. Sete mares. Sete velas. Sete gênios persas. Sete artes. Sete yogas. Sete ciências naturais. Sete palmos. Sete súplicas do Pai Nosso. Sete anjos dos sete céus. Sete falas de Cristo na cruz. Sete linhas da Umbanda. Sete dores de Nossa Senhora. Sete notas musicais. Sete raios. Sete cores do arco-íris. Sete sacramentos. Sete chakras metafísicos. Sete vidas do gato. Sete ondas para pular o ano. Sete dias da semana. ...
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26/03/2011 - Bodas de Madeira

Cinco anos dividindo as mesmas bocas, achando os conceitos de infinito e eternidade coisas tão poucas diante do tempo que queremos para nós. Cinco anos dividindo os mesmos lençóis, os mesmos pratos, os mesmos sóis, os mesmos fatos. Cinco anos dividindo o mesmo espaço, procurando e se encontrando num passo sem freio, se perdendo e se achando no traço alheio. Cinco anos se misturando, se multiplicando, se revirando, se descobrindo e se amando mais e mais. Cinco anos de fartura e de loucura sentimental. Cinco anos emergindo e submergindo em amor e em amores carnais, espirituais, viscerais, transcendentais, zodiacais. Cinco anos unindo suspiros e ais. Cinco anos casais imersos no primeiro gosto do amor. ...
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Bodas de vida

Cinqüenta. 50 tardes. 50 músicas. 50 encontros. 50 olhares. 50 anos de amor, amizade,..., devoção. 50 anos em que a vida já se faz infinita por si só. Quantas rosas floresceram ao longo dessa caminhada? Quantas as pétalas? Quantos os espinhos? Uma rosa que no início se equilibrava em uma rama tão frágil. Mas a beleza sempre triunfa e a rosa que se vê murcha, já doa sua vida a outro botão.

Cinqüenta anos em que uma roseira floresce seus botões com uma beleza diferente a cada dia. Floresce com novas esperanças e promessas. 50 anos onde uma vida se entrega a outra em plena devoção. Quantas mãos sonharam chegar juntas aos cinqüenta anos? Amores que nascem em frações de segundo e que perduram pela vida toda como se fossem algo mágico. Uma magia que permite, a cada dia, que os olhos se cruzem e tenham a certeza de que tudo valeu a pena. ...
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17/04/2008 - Boi da cara preta

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Boi boi boi, boi da cara preta pega essa criança que tem medo de careta.

Pode parar de cantar. Eu não vou dormir. Estou assustado com as caretas dessa gente ai. Não vou fechar os olhos com tantos piratas, falsários e donos da corrupção aprontando por aqui e por ali. Cuidado! Tem que abrir o olho e gritar pega ladrão. Estão roubando minha carteira, minha feira, minha beira de chão. Tão metendo a mão, de cara limpa, no futuro da civilização. Tão levando nosso ar, nossa água, nosso mato, nossa chuva, nosso sapato, nosso pulmão. É muita raposa para pouca uva. Tão nos tirando o futuro, tão levando nosso mundo seguro e nos cercando com um muro de sofreguidão. ...
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