Daniel Campos

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09/09/2012 - Bons ventos

Antes do sol, o vento já barulhava na janela. O mesmo vento que alvoroçava os pardais, os cardeais e os casais de sabiá. Não importava se sul ou, norte ou sudoeste. O vento trazia o friozinho da serra e o ardume do agreste. O vento grudava nos corpos como uma espécie de cipreste. Trazia cheiro de café, de pão de queijo e de outros quitutes. Trazia os últimos suspiros do orvalho. Trazia o choro da seiva no tronco do velho carvalho.

O vento atiçava os corpos a ficarem por mais tempo debaixo das cobertas. O vento em todas as direções e sentidos fazia as horas ficarem incertas. O vento de Santa Bárbara revirando o mundo. O vento de Iansã calando fundo. O vento limpando a terra de pensamentos imundos. O vento misturando pólens, folhas e cabelos. O vento despedaçando e colando corações. O vento cicatrizando canções. O vento, como trem, trazendo e levando estações.

O vento e as promessas de mudança. O vento e a expectativa de dias melhores. O vento levantando maranhões e papagaios. O vento rodando nas rodas das crianças. O vento madurando a esperança. O vento enxugando o suor dos lacaios. O vento mensageiro de boas notícias. O vento que beija como brisa e castiga como vendaval. O vento que se casa com a chuva trazendo fertilidade e tempestade. O vento, sempre o vento, o colecionador de saudades.


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