Daniel Campos

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12/06/2013 - Beijos enamorados

Beijos semeados. Beijos escritos. Beijos dados. Beijos benditos. Beijos roubados. Beijos aflitos. Beijos rasgados. Beijos de plebiscito. Beijos suspirados. Beijos bonitos. Beijos passados. Beijos infinitos. Beijos calados. Beijos de apitos. Beijos cantados. Beijos explícitos. Beijos triplicados. Beijos de curto-circuito. Beijos carregados. Beijos em conflito. Beijos estalados. Beijos favoritos. Beijos provocados. Beijos de delitos. Beijos tarados. Beijos de mosquito. Beijos cravejados. Beijos de arenito....
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01/09/2015 - Beijos pelo caminho

Olha na minha boca a procura do nosso último beijo. Veja quanto tempo faz. Pensa no quanto de beijos já deixamos pra trás desde que nossa boca se encontrou pela primeira vez num mês que já nem me lembro mais. Mentira! Eu guardo em mim cada detalhe seja quanto ao lugar, ao horário, ao medo, à textura, ao sabor do nosso beijo primogênito. Tudo segue intacto em minha memória. Tudo é nítido demais para mim. E isso é bom porque revivo cada movimento. E isso é ruim porque me vejo cada vez mais beijos ficando ao longo do nosso caminho. E beijos longe da boca não sobrevivem pra sempre. São como balões que ficam ao vento por dias, mesmo que mais murchos, mas quando tocam o chão ou até mesmo a ponta de uma estrela estouram. ...
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08/01/2011 - Belmont

Lembro das vezes que na calada da noite eu descia, vigiado pelos olhos de meu avô, a Rua São Miguel. Ia me espreitando pelas calçadas de pedras portuguesas e atravessava a esquina que dava acesso à Rua Santos Dumont guiando-me pelo som das tacadas das mesas de sinuca do bar do Furigo. Um bar feio, freqüentado por uma gente feia e por uma feiúra de espírito. As luzes amareladas iluminavam as garrafas velhas que ficavam empoleiradas sobre o balcão. Era naquele ambiente que buscava espaço entre um bêbado e outro me equilibrando na ponta dos pés para pedir uma carteira de cigarros. ...
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04/01/2014 - Bem assim mesmo

Sou de outro planeta. De outro tempo. De outra realidade. Sou o avesso do avesso. Sou extraterrestre. Sou virado de ponta cabeça. Sou o que não tem bula. Minha época já passou ou ainda não veio. Eu subo quando devia descer, e viro à esquerda quando devia seguir pela direita. Meu relógio gira ao contrário. Sou de um lirismo atípico, de um romantismo inútil para esta era. Sou a contracapa, o lado b, o que está entre a cara e a coroa. Sou coração que voa. E voa alto. Sou o amor de fato. Um apaixonado do primeiro ao último ato. ...
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02/08/2016 - Bem mais que isso

Para você pode ser o suficiente, mas para mim é pouco. Para você pode ser o suficiente, mas para mim falta. Para você pode ser o bastante, mas para mim é quase nada. Para você pode ser o possível, mas eu sou de ir além do impossível. Para você pode ser o que dá neste momento, mas eu não me prendo ao tempo. Para você pode ser o necessário, mas nem mesmo você não tem ideia da minha necessidade de você. Para você pode ser o justo, mas eu grito: não há nada mais injusto. Para você pode ser o que conseguiu, mas eu sei que pode fazer mais. Para você pode ser o que eu mereço, mas eu mereço você por inteira.


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26/11/2008 - Bem-casado

Mais uma vez, canto-te esse cântico que me habita e palpita sob o signo coração. Mais uma vez, sou teu soldado, a pólvora que explode ao teu lado e o teu canhão, a te defender, a te proteger, a te socorrer. Mais uma vez, mato em teu nome. Mais uma vez, sacias a minha fome. Mais uma vez, dorme enquanto sonho o dia em que a poesia será de todo dia. Mais uma vez, aporto em teu porto e cavalgo pelos teus campos como um potro que vem recém-nascido, recém-crescido, recém-querido por alguém.

Mais uma vez, bendigo o teu umbigo no meu e te abrigo, brigo-te e mordo o figo da tua boca. Mais uma vez, devoro e sou devorado por essa paixão louca. Mais uma vez, a eternidade é pouca para essa saudade que menina, alucina e fascina. Mais uma vez, estou a esquecer o mundo, sou teu rei vagabundo e teu poder de mulher. Mais uma vez, bem-te-quero e bem-me-quer. Mais uma vez, eu te espero, e berro e me incendeio como Nero. Mais uma vez, te sou, me vou, me desespero....
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22/08/2013 - Bem-estar

Porque tudo nos leva a chorar é que devemos nos apegar com o que nos faz sorrir, com o que nos faz gostar, com o que nos faz esquecer da dor que nos sonda e ronda por todos os lados. É preciso se agarrar aos motivos que nos trazem contentamento, que colocam um pouco de unguento em nossas feridas que o mundo com essa gente doente e delinquente não deixa fechar justamente por não saber amar, por não deixar amar, não não querer amar.

Porque tudo nos leva a chorar é que devemos enxugar as lágrimas e seguir em frente, buscando novos ânimos, sonhos e desejos. Nada de viver a velar o que não deu certo. Nada de declarar luto eterno diante das fantasias caídas. É preciso ter o coração sempre aberto e por perto, independentemente se nosso caminho nos leva ao dilúvio ou ao deserto, se o que vivemos é o errado ou o certo, se o que pretendemos é provável ou incerto. ...
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Bem-vindo ao caos

Na mitologia grega, antes da criação do mundo, existia o caos. Milênios depois, eu acredito que voltamos ao caos. E nem vou falar do mundo em geral, onde mulheres e homens-bombas explodem o que restou de suas vidas. Vou falar do nosso país, onde o presidente se enche de discursos franceses, enquanto mulheres desse mesmo país, numa pobreza tamanha, trocam o absorvente pelo sabugo de milho. Caos, triste realidade.

O caos, ou seja, a bagunça, a confusão, a desordem é o resultado de uma falta de política. A nossa política sempre privilegiou uma parte minúscula da população. Uma política que visa o dinheiro. Pergunto: como sobrevivem os não ricos? Sobrevivem no caos. ...
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03/03/2014 - Benção de amor

Pai Seta Branca chegou trazendo chuva, um verdadeiro toró falando ao coração, com lua e sol se encontrando num eclipse intenso e sem hora para acabar. Mensagens diretas do céu a terra numa comunicação especial sem palavras. Ao menos, palavras sonoras. Sob os olhares de Pai João de Enoque, de Nossa Senhora Apará, de Mãe Tildes e de nossa Mãe Clarividente, caminho à pira numa fila de pacientes, ninfas e mestres. Sal, perfume e vinho servidos pelas Samaritanas mexem com os sentidos. Salve, salve, muitos salves ao grande Simiromba de Deus. Salve Pai Seta Branca que é Oxalá e Francisco de Assis. Pensamentos elevados. Mayanty, Mayanty... Forte irradiação. O corpo incendeia. Uma energia tanta. As entidades do Amanhecer que me acompanham se fazem presentes. Sinto o aroma das matas, as forças de Pai João das Matas, de Caboclo Tupinambá e de Oxóssi, com seus cavaleiros, e de doutor André Luiz. A cabeça lateja, o estômago queima, as mãos esquentam e vibram. Sinto com nitidez uma essência tão conhecida e especial e uma imagem imediatamente se projeta tão real em minha cabeça, em meus olhos interiores. Difícil conter o choro. Diante do pai, totalmente entregue com o coração escancarado. Reverencio, as mãos se tocam, e ao som daquela voz trovejada recebo as palhas e agradeço. Ali, diante do pai, tudo se ilumina na certeza de um amor verdadeiro, infinito e abençoado.


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06/06/2011 - Bendídia

Ah! Que Bendis, a deusa lunar da Trácia, me leve para seus quartos crescentes e minguantes. Que eu possa me agarrar a sua face brilhante e me esconder em sua metade fosca. Que ela mexa com minhas marés e com minhas plantações. Que ela provoque o meu parto.

Que ela semeie em mim suas sementes de encantamento, de adoração e de magia oculta. Que ela influencie meus cabelos, meu apetite, meu romance. Que ela dance comigo pelas constelações perdidas. Que ela, durante a Bendidia, renove minha alma e encha meu corpo. ...
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