02/06/2012 - Boca fechada
A duras penas, aprendi a viver em silêncio. De tanto falar a ouvidos não gratos, hoje caminho de lábios serrados. Minha língua não fala a língua dos homens, mas a língua das pedras. Somente as pedras estão a salvo de fofocas, invejas, calúnias e outros males causados pela língua. Hoje eu falo mais comigo do que com qualquer outra pessoa. A quietude é minha nova identidade. Meus verbos vivem às sombras e minhas canções são entoadas caladas como a lua.
Não há outro remédio para evitar o mal do que silenciar. Cale-se de manhã, de tarde, de noite. Os ouvidos alheios têm espinhos que quase sempre ferem suas palavras. Falar demais é se despir totalmente. E criaturas despidas são frágeis, vulneráveis, mortais. A fala em demasia empobrece o espírito, porque a tendência daqueles que lhe escutam é roubar o conteúdo e o significado das suas palavras. Ouça um bom conselho: guarde suas palavras antes que se perca delas. Palavras perdidas são vidas caídas.
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