Daniel Campos

Prosas

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09/07/2013 - Aproveite

Aproveite o sol antes que ele se apague. Aproveite o trem antes que ele trilhe. Aproveite o amor antes que ele saia de cena. Aproveite o santo antes que ele peque. Aproveite o sorriso antes que ele azede. Aproveite o olhar antes que ele inunde. Aproveite o destino antes que ele embarace. Aproveite a estrada antes que ela não leve mais a lugar algum. Aproveite o perfume antes que suas notas silenciem.

Aproveite a lua antes que ela mingúe. Aproveite o rio antes que ele corra. Aproveite o grito antes que ele cale. Aproveite o tempo antes que ele mude. Aproveite a chama antes que ela queime. Aproveite o pássaro antes que ele pouse. Aproveite a flor antes que ela murche. Aproveite a sombra antes que ela se ilumine. Aproveite a sede antes que ela seque. Aproveite o humano antes que ele petrifique.


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13/05/2012 - Aquífera vida

Todos nascem das águas. Das águas do ventre. Das águas que mantém vivo o corpo das mães. Foram as águas que deram liga ao barro da criação. É a chuva que traz o broto, que germina a semente, que madura o fruto. A flor d’água é o milagre do sertão. A água está em todas as receitas, em todas as dietas, em todas as coisas. A água trouxe profetas. Da água nasceram as yabás. Quanto sofrimento marejou e transbordou dos olhos de Maria.

A água é a manjedoura de todas as coisas, vivas ou não. A água na seiva das matas. A água no choro das pedras. A água na forja do aço. A água que povoa o coco. A água das piscinas, das banheiras, das marés. A água que serena nos violões boêmios. A água dos brindes, dos banhos, dos cheiros, das possessões, das nascentes, dos arvoredos, das corredeiras, das cachoeiras que águam segredos. A água que nos dá forma e nos transforma. ...
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04/09/2008 - Aqüífero

Além de brotar das minas, a poesia deveria sair das torneiras. Além de regar as plantas do jardim com uma boa prosa, já imaginou se ensaboar com versos que, pouco a pouco, impregnariam por todo o corpo? Ah! Mais do que cremes e outros cosméticos, a pele precisa de palavras. Muitas vezes o problema maior é a alma ressecada, mas nada que uma boa hidratação a base de estrofes sentimentais não resolva. As dores nas costas, o cansaço mental, a depressão - esses e outros males cotidianos seriam curados após a ingestão diária de copos de Quintana, Drummond, Vinícius, Pessoa... E isso não é simpatia, é medicina poética. ...
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15/08/2008 - Arara Azul

A tara da arara azul é o céu de papel blue. O gingado do lado de lá da capoeira levantou poeira de cá. Ôo arara voou e a baiana suburbana arrastou a saia e deu um passo de arraia, que foi quebrar lá na praia da gandaia. E a arara azul voou no ritmo do pandeiro. Eê eu sou brasileiro. Tem povo guerreiro lá na minha aldeia. Ôo incendeia, é lua cheia. Ôo clareia, é rua de meia.

Lá na minha tribo, a vitória é régia, a história é prévia e o homem alado do sul é considerado inimigo da arara-azul. O pajé já perdeu a fé. O cacique usa aplique. E a índia de cá se deita pra lá do atlântico sul. Tem fitinha do Senhor do Bonfim no rosto do moço e pintura de carmim na louça da moça. A minha terra que tinha palmeiras, hoje tem clareiras e o frevo das madeireiras corre solto pelas ladeiras. ...
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17/03/2011 - Araticum

Depois da pinha, da fruta-do-conde, da atemóia, fui apresentado ao araticum, também conhecido como ariticum. O fruto estava ali me esperando já há alguns anos em uma banca de camelô. Seu tamanho de quilo e sua casca verde-amarronzada sempre me instigou. Depois de muito relutar, decidi levar para casa mais essa iguaria do cerrado, com sabor tão típico quão o pequi e o caja. De pronto, o cheiro infestou a casa. Dormi levado pelo perfume do ariticum.

Dormi sem saber que o araticum é uma árvore do tamanho de uma laranjeira e cuja folha lembra a do limoeiro. E mesmo assim, sabendo quase nada, sonhei que estava no meio de um imenso pomar dessa árvore. Eu corria de pé em pé, apalpava os frutos e entregava minha boca ao sabor de cerrado daquelas sementes carnudas. De repende, estava caminhando a passos largos por uma polpa macia e arenosa, no doce-azedo tipicamente silvestre de um araticum gigante. ...
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25/08/2015 - Arca turquesa

Os soldados vasculharam tudo não deixando corpo sobre corpo em busca do coração azul. Do sul ao norte foram tombando homens e tomando mulheres de assalto como no mar-alto da paixão. A carne foi secando de prazer e de qualquer outro querer quando o peito se revelava sem a arca turquesa. E foram declaradas guerras e devastadas terras em nome de um procura que não se encerra com a loucura dos homens que matam por uma lenda. E pela história sangrenta o coração magenta não escapa pela fenda.


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13/07/2015 - Ardente

Toma meu corpo de assalto, furta meus prazeres e rouba meus quereres pra sua vida. Enrosca-se nas minhas tantas despedidas que se acumulam por meus meandros. Entra com sua roupa de bailarina no meu escafandro. E diz que me ama sem dizer nada. Eu sou da mulher amada e isso é incontestável. Vou como poeta do imponderável coração. E a minha canção já é cantada por sua língua. Beija, beija, beija até dar íngua. Meus pulsos febris e nossos corações se doando como que passando em funis. São tantos amores pelos brasis, pelos braseiros, pelos brasões dos sentimentos que são balões ao vento. Agarra-me por inteiro. Atarraca-me como se eu fosse o seu prisioneiro. Amarra-me como rede por entre os coqueiros dos seus olhos que vergam para mim. Não nega que mesmo indo de encontro ao fim queremos tanto o começo quanto o recomeço. Amor de entrega não se nega e nem tem preço. Eu sou o endereço do seu desejo, da sua vontade. Vem e num beijo me invade por completo. Não tenho chão nem teto só o querer que me arde.


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Arrozal

Os cochichos de ave-maria se misturam ao ensaio do coral. As ministras, longe da Esplanada dos Ministérios, escolhem quem vão fazer as leituras, carregar as velas, o pão, o vinho, os cestos da oferenda... Os fiéis entram, ajoelham-se, benzem-se e rezam alguma coisa rápida. Depois dessa reza, ela senta-se e espera pelo início da missa. Ao deixar a mão cair sobre o banco de madeira, tateia alguns grãos de arroz. Arroz sem casca e sem cozer.

Grãos de arroz crus. Se juntasse o arroz daquele banco e o que estava no chão, certamente daria um punhado. E ela, sozinha ali, põe-se a imaginar. O tapete vermelho. A chama dos lustres, das velas, dos olhos. O arranjo dos copos de leite ou dos lírios de São José, como bem desejar, ao longo de um caminho tão perto quão longínquo. O vestido da noiva e a longa cauda, que arrastava levando os olhares de tantos. Ela, de braço dado, com o pai, que fizera questão de colocar seu melhor terno. Ela caminhava vendo rostos se misturarem, a emoção não dava para capturar detalhes. Quem estava ali de fato, ela só saberia na fila de cumprimentos ou no álbum de fotografias. ...
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07/01/2011 - art nouveau

Mulher de negócios, cosmopolita, vibrante, capital dos meus sonhos. Milhões e milhões de sonhadores habitam sua alma, desejam seu corpo. Mulher nascida em berço de ouro e criada nas ruas da ilusão. Mulher de beijo bilíngue, olhos escritos em francês ou monegasco, braços e pernas de compassos de aberturas mil. Mulher de pensamentos ultramodernos e fantasias pitorescas.

Mulher agradável nas noites de verão e essencial nas noites de inverno. Quantos baristas, floristas, cosmonautas, escafandristas, toureiros e turistas tatuam sua pele passando para lá e para cá num correr sem fim. Passam com lamparinas acesas e quartos de lua imersos no suspense de uma penumbra. Mulher de leitos e tumbas. Mulher de emoções fundas. ...
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29/08/2014 - Arte do pretérito

Eu tenho um sonho antigo que você bem que poderia sonhar comigo. Eu tenho três quartas de terra num coração que sobe serra e do amor não se aparta. Eu tenho um céu de asa-delta que bem cabe essa sua curvatura de atleta. Eu tenho duas colinas exclusivas pras bandas do sonhador ideais pras suas pernas meninas e lascivas. Eu tenho uns trezentos vagalumes que são capazes de iluminar sua cama entre a luz e o perfume das damas da noite. Eu tenho direito a efeitos especiais, de neblinas às cortinas de fogaréu, perfeitos para casais. Eu tenho acertos e enganos que podem ser encarados à vista ou parcelados em milhares de planos. Eu tenho um pé de fantasia que dá de comer noite e dia em frutos de poesia. Eu tenho um mistério que nos leva ao futuro do presente mesmo sendo partes da arte do pretérito.


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