Daniel Campos

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04/08/2015 - Matança

Matar um leão não lhe fará rei. Matar um sabiá não lhe dará asas. Matar um tucunaré não impedirá que o rio continue a correr. Matar uma mangueira não lhe trará frutos. Matar um ipê não lhe colorirá. Matar uma seringueira não lhe enraizará. Matar uma abelha não lhe levará às flores. Matar uma cegonha causará abortos nada espontâneos. Matar um elefante não culminará num coração de marfim. Matar um macaco não ocasionará graça alguma. Matar um lobo não calará dentro de você o uivo. Matar uma cobra não lhe santificará. Matar um cisne não lhe embelezará. Matar uma amoreira não lhe adoçará, apenas lhe manchará como todas as mortes que lhe matam a própria sorte. ...
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09/02/2011 - Matar o tempo

Estou atrasado. Perdi a condução, perdi a condição, perdi a minha hora, perdi o nosso horário. O relógio me passou a perna. E eu achei normal. Feliz o tempo em que os homens costumavam medir suas vidas de acordo com o tempo de plantar e colher. Ninguém se preocupava em medir o tempo em termo de exatidão matemática. O tempo era uma coisa divina, uma espécie de dádiva a ser usada em nosso favor. Hoje, é um castigo. O tempo é calculado em suas frações minúsculas numa ciência exata e objetiva. O tempo foi materializado. Tornou-se um vilão, um algoz, um elemento concreto. Um pesadelo permanente e constante. Afinal, já reparou que o tic-tac não cessa? ...
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05/03/2010 - Matar ou morrer por uma janela

Você seria capaz de matar alguém que recusasse fechar uma janela? Pense. Você está em um ônibus, estressado por um motivo que diz respeito somente a você, e o cara da janela se nega a interromper o vento frio que entra no ônibus. Ele pode estar com calor, é um direito dele. Mas e você? Quem se importa com sua sensação térmica? Você pode pegar um resfriado, uma gripe, uma pneumonia... Porém, isso não muda em nada a vida do cara que controla a janela.

Você se sente humilhado, ridicularizado, roubado em seu direito democrático de decidir se a janela continua aberta ou fechada. Dentre aqueles sorrisos de deboche, a coletividade é só uma utopia, um resto de fantasia. Dane-se então o que os outros pensam sobre isso, o que vale é a sua opinião. Ele não sabe que você teve um dia ruim, que já matou outras pessoas, que só estava em busca de um pouco de calor humano. Ele não desconfia que você seja capaz de ir tão longe por conta de uma simples janela......
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25/07/2015 - Matas de Pai João

Matas verdes. Matas fechadas. Matas iluminadas. Matas encantadas. Matas frondosas. Matas virgens. Matas nativas. Matas abundantes. Matas belas. Matas formosas. Matas cheias de vida. Matas dos espíritos. Matas divinas. Matas floridas. Matas dos frutos. Matas perfumadas. Matas profundas. Matas saudáveis. Matas afáveis. Matas fortalezas. Matas refúgios. Matas firmes. Matas intensas. Matas ricas. Matas resplandecentes. Matas envolventes. Matas de passaredo. Matas presentes. Matas de alívio. Matas atemporais. Matas aclaradas. Matas nascentes. Matas guardiãs. Matas enluaradas. Matas selvagens. Matas intuitivas. Matas crescentes. Matas de energia. Matas em movimento. Matas de Pai João.


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27/01/2014 - Matematique

Subtraia o que lhe importa do que não tem volta. Faça as contas do que valeu à pena e aposte todos os seus créditos nos versos de um poema atemporal. Multiplique o melhor beijo pela vida afora num cálculo maluco e lindo de se viver. Relacione o possível e o impossível num teorema quântico. Faça dos números irreais palavras reais. Some todos os lados do coração (se é que coração tem lado) para encontrar o perímetro do amor e terá a prova de que amor não se mede. Morda os frutos da raiz quadrada. Fracione o seu todo para encontrar outros todos, porque toda parte é um todo. Abuse da regra de três para descobrir passado, presente e futuro. Equacione o quanto você quer para obter o que você deseja. ...
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11/05/2014 - Materno

Amor em ovulação. Amor em gestação. Amor em lactação. Amor embalado. Amor amamentado. Amor ninado. Amor de berço. Amor sem preço. Amor de laços. Amor de passos. Amor sem embaraços. Amor de histórias. Amor de memórias. Amor de carne e osso. Amor de almoço. Amor de cantigas. Amor das antigas. Amor de cuidados. Amor sem resguardos. Amor uterino. Amor destino. Amor que ensina. Amor que domina. Amor que não termina. Amor de primeira palavra. Amor que crava. Amor que lava. Amor que cava. Amor de enxoval. Amor umbilical. Amor maternal.


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25/10/2014 - Mato luzido

Descobri que não sei nada de mim. Desconheço minhas vontades. Não me reconheço no espelho. O que eu quero agora, logo mais desquero. Não sei o que serei. Tenho medo de saber quem sou e descobrir que nada sou além do sonho que ainda não veio. Eu era fantasia, mas ontem ela foi embora sem se despedir. Sou a poesia que ainda não escrevi. Sou o que nunca vivi. Eu não sei se sou de chorar ou de sorrir, cada hora me dou de um jeito e tem dia que tenho certeza de que eu não tenho mais jeito. Sou cheio e vazio ao mesmo tempo. Sou o futuro-do-pretérito-mais-que-imperfeito. O eleito da solidão. Lágrima por lágrima, sou o que carrego. E muitas vezes, eu me assumo e eu me nego, vindo de arrasto. Sou mugido que ecoa no pasto deserto. Sou o que está longe e o que está perto. Sou mato luzido, crescido e não sabido.


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04/07/2016 - Me conjuro a você

Eu te seguro. Eu te curo. Eu te livro de todo e qualquer apuro. Eu juro. Eu juro amor te tenho amor e faço amor. Eu te tiro do escuro. Eu trago a tua felicidade a furo. Eu te livro do muro. Eu te procuro, procuro, procuro... Eu te dou meu sonho maduro, meu sonho prematuro, meus sonhos todos eu juro. Eu desconjuro a nossa distância. Como é duro ficar sem você. Eu me asseguro na esperança de casar com você. Meu presente-futuro é você. Eu me conjuro a você e desconjuro tudo o que me leva você.


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16/12/2011 - Me diga

Me diga o que fazer daqui pra frente, me diga o que buscar nesse tempo ausente, me diga como quebrar essa corrente. Me diga como combater a saudade, me diga qual o caminho para a anti-realidade, me diga qual o segredo que habita a cidade. Me diga o que há por trás deste mundo, me diga como curar um coração moribundo, me diga como ir ainda mais fundo. Me diga como encontrar a palavra perdida, me diga como estancar a seiva dessa ferida, me diga como ultrapassar novamente a nossa medida.

Me diga uma forma de descobrir o ponto fraco do medo, me diga como ser para sempre cedo, me diga como encontrar uma árvore no meio de um arvoredo. Me diga como terminar o que não começou, me diga como ir sem dizer para onde vou, me diga como saber se o sonho que sonhei foi o mesmo sonho que sonhou. Me diga como correr sem olhar pra trás, me diga como me livrar do “mas”, me diga que eu ainda sou capaz. Me diga uma cantiga, me diga uma novidade antiga, me diga que nosso amor ta de barriga.


Comentários (1)

17/09/2014 - Me engana que eu gosto

“O sentimento não mudou, eu tive que mudar”. Muito lindo de se ler e até de se guardar para vida toda no melhor do coração se não fosse mentira. Se o sentimento, de fato, não tivesse mudado, o tratamento seria outro. Não há sentimento da forma como está contextualizado que admita ser espectador de tamanha crueldade. Portanto, e para tanto, a afirmação é muito bonita, mas não passa de uma frase de efeito. Certas mudanças exigem renúncias e transformações interiores. Não há como o sentimento ser mantido intacto em um corpo que prova a todo instante que está muito longe de agir como prega. E eu sei muito bem a diferença entre amor-poético e amor-publicitário. O marketing-coração impressiona, mas é só uma propaganda com ares de perfeição. E eu não vivo de amor de propaganda. Eu vivo de amor que extravasa, que abusa dos limites, que não se preocupa com opinião alheia, que não se vende. Será que me acha tão imbecil para acreditar em qualquer lorota, para eu cair como um patinho em qualquer frase pronta. A afirmação de que o sentimento não mudou na verdade é uma negação, pois você nega tudo o que existe para dizer tal inverdade. Quer que eu acredite no engodo desse amor-publicitário por ignorância ou má-fé, pura e simples? ...
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