Daniel Campos

Prosas

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28/05/2011 - Manchester x Barcelona

A mulher de Manchester descende dos cavaleiros templários, tem uma beleza aristocrática e o apoio incondicional da rainha. A mulher de Manchester é conservadora, e toma o chá das cinco, segue a pontualidade do big ben, entende de mercado financeiro e declama Shakespeare. A mulher de Manchester se esconde em névoas e tende ao inverno. A mulher de Manchester vive estrategicamente, posiciona-se na defesa e avança em contra-ataques precisos.

A mulher de Barcelona é romântica, artística e de vanguarda. É ciumenta e independente, sonhadora e valente. A mulher de Barcelona tem traços e cores de Miró e Picasso. Catalã por natureza, vai para cima com todo lirismo e com um balançado contagiante, entorta a realidade, provoca quem está a sua frente e toureia corações. A mulher de Barcelona é temente a Deus, mas se rende aos pecados passionais. ...
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11/10/2013 - Mande mensagens

Mande mensagens pelo vento norte ou pelos cataventos do sul. Mande mensagens dentro de garrafas de vinho, de cachaça, de rum... elas vão chegar sempre sóbrias. Mande mensagens pelos pássaros da estação que sempre voltam para o mesmo ninho. Mande mensagens pelos loucos que sempre falam a verdade de um jeito que não machuca. Mande mensagens pelo tempo que é o mensageiro que nunca tarda ou falha.

Mande mensagens pelas estrelas que falam piscando numa espécie de código-morse. Mande mensagens pelos camundongos que chegam aos lugares mais inacessíveis. Mande mensagens pelos sinais que hora ou outra surgem de forma improvável e não menos impactante. Mande mensagens pelos sonhos que são decifrados aos poucos. Mande mensagem pelos poetas que são mentirosos e fantasiosos como os profetas.


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30/11/2015 - Mangas da paz

As mangas caem como que oferecendo sua suculência às bocas famintas. E há mais naquela carne amarelada repleta de fiapos do que podemos enxergar a olho nu. Há paixão, desejo, conexão com a infância. Diante de uma manga madura perdemos a compostura, esquecemos a etiqueta, e rendemo-nos ao instinto de morder aquela pele macia. Os dentes fincando naquela carne quente. A língua passeando por aqueles sabores todos. Uma explosão não só na boca, mas no corpo todo. Eis o efeito de uma manga madura. Se no meio de uma guerra, entre as trincheiras, surgisse uma fileira de mangueiras, tenho certeza de que o combate teria fim ou, ao menos, uma pausa. Ninguém tacaria mangas, pois queremos as mangas para nós. Para o nosso deleite, para o nosso prazer, para o nosso desfrute. E depois de nos aventurarmos por tudo o que nos possibilita uma manga, suculenta e perfumada, a guerra perderia o sentido. Portanto, pelo encanto, plantemos mangueiras para colhermos a paz.


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13/08/2010 - Mangueiras em flor

Pelas ruas e quintais, as mangueiras estão todas vestidas de noiva. Desde as mais novas às centenárias, desde as grandes e frondosas às mirradas, todas querem se casar. A folhagem verde fica em segundo plano. Em cada galha, buquês e mais buquês de flores pequeninas num amarelo que tende ao branco. São mangas esperando que o vento, as abelhas ou marimbondos fecundem suas flores. E pelo ar se espalha um clima de flores de manga maduras.

E eu sou aquele menino que flerta com aquelas noivas à espera do fruto. Um fruto de lambuzar a boca. Um fruto que atenta. Um fruto que seduz. Um fruto que provoca. O perfume das mangas. A forma das mangas. O suco das mangas. A maciez das mangas. O sabor e os sabores das mangas. O doce e o sal, o glamour e a simplicidade, o calor e o arrepio na mesma fruta. A fruta que é o parto daquelas noivas floridas. ...
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11/12/2010 - Manguitas

Do lado debaixo de uma curva de nível bastante funda, onde antigamente reinavam goiabeiras, cavalos e abóboras, três mangueiras despontavam como senhoras do lugar. Duas mais frondosas e outra, um tanto quanto esbelta ficavam entre o açude e a estrada de pinheirinhos. Mangueiras de copa graciosa, lembrando, na baixada do sítio, saias verdes rodadas. Não eram mangueiras de manga rosa, de manga adem, de manga palmer, de manga espada, de manga manteiga, de manga abacaxi, de manga tommy... eram mangueiras de manguitas. ...
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20/06/2013 - Manifeste-se

Manifeste-se por mais e mais lirismo. Manifeste-se por mais beijos na boca. Manifeste-se por menos distância. Manifeste-se por mais abraços longos e apertados. Manifeste-se por mais textos de amor, sejam eles poemas ou prosas. Manifeste-se por menos, bem menos solidão. Manifeste-se por mais luas de mel. Manifeste-se por mais tempo a dois. Manifeste-se por menos saudade. Manifeste-se por mais juras e loucuras de paixão. Manifeste-se por mais casais. Manifeste-se por mais criaturas amadas. Manifeste-se por mais feituras de amor. Manifeste-se por menos separações e por mais encontros e reencontros. ...
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13/09/2008 - Manteiga caseira

Cá estou eu a esperar o meu pai. Já faz uns quinze anos que ele saiu para comprar uma daquelas manteigas batidas no tacho. Será que ele demora? Será que ele ainda vem? A vista se perde longe e não o encontro pelo caminho. Ah! Bem que ele poderia voltar logo lá da feira do mercado. Uma feira improvisada, de bancas de lonas coloridas, instalada no centro velho da cidade. Na verdade, a feira de fim-de-semana era uma extensão do Mercado Municipal. Já na entrada, que se dava pela rua Marciliano, um grande movimento de senhoras com sacolas e senhores com chinela nos pés dava as boas vindas. ...
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Mãos

Um exército de mãos marcha. Diariamente, invade as quadras, as calçadas, as praças de pedra e de flor. A cidade é tomada por outra cidade. Uma cidade que não é feita de placas de concreto ou vergalhos de ferro ou baldes de piche... Uma cidade que é feita de mãos. Algumas mãos surgem delicadamente, outras como tapas na cara. Algumas mãos machucam, por ódio ou pena. Mãos com anéis. Mãos com feridas. Mãos brancas. Mãos negras. Mãos sujas. Mãos acostumadas. Mãos pequeninas. Mãos com unhas esmaltadas. Mãos calejadas. Mãos com linhas que dizem a mesma coisa: fome, miséria, violência, medo....
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20/11/2015 - Mãos que faltam

Olhando para o ontem, hoje faltam mãos para catar feijão, pra quarar a roupa, para engomar os colarinhos, para bater as claras em neve, para mexer as brasas do fogão a lenha, para escrever com giz nos quadros negros, para bater as teclas das máquinas de escrever, para dar corda nos relógios, para colocar a ponta da agulha no vinil, para reger as juntas de boi do carro, para socar café no pilão, para afinar viola, para bater figurinha, para fazer carrinhos de lata, para fazer a corte, para virar a antena da televisão, para pregar botão nos olhos da boneca, puxar a cadeira para sua dama, para subir em árvore, para achar a estação no rádio, para semear a lavoura, para carpir quintal, para debulhar lágrimas, para jogar bola de gude, para enrolar bola de meia, para acender o lampião, para selar cavalo, para pendurar balanço, para cuidar do seu amor.


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18/09/2014 - Mãos sujas

Já parou para pensar como vai conseguir viver com isso? Você matou uma pessoa que tinha tantos sonhos. Matou da pior maneira, como não se mata nem o pior dos bandidos. Matou dando esperança. Graças a você essa pessoa nunca mais vai conseguir ser feliz. E isso não é pouco. Será que algum dia vai conseguir dormir tranquilamente tendo cometido tal monstruosidade? Uma pergunta que sabemos a resposta. Por mais fria e prática e calculista e desapegada que queira ser, não vai conseguir se livrar dessa macha. E não pense que o passar do tempo vai amenizar esse peso. Pelo contrário, por todos os seus dias esse crime vai repercutir em seu ser de uma forma ou de outra. Haverá aqueles dez segundos de arrependimento e então se deparará com uma dor ainda maior: a de que o seu arrependimento não lhe valerá de nada. Vai lembrar para sempre dessa morte trágica do amor, morte matada, diga-se de passagem, que vai se embrenhar por suas mãos, tirar o brilho de suas unhas, envergonhar suas linhas do destino. Você matou um apaixonado. Talvez o último deles forjado com essa intensidade. Aproveita enquanto essa ferida é recente porque depois ela vai se enraizar e tomar de conta da sua existência. Você está condenada a viver essa dor. Não sou a favor de castigo, mas de todos paguem pelo que fizeram de mal a alguém. E você vai pagar com essa lembrança dolorida que irá se manifestar nas horas mais importunas. Você matou um homem que era capaz de fazer tudo e mais um pouco por você. Você matou quem se entregou de forma única a você. Você matou aquele que só fez lhe cuidar. Que a falta de reconhecimento, de gratidão e até de perdão não lhe enlouqueçam mais dia menos dia. Que suporte sobre os ombros o defunto que criaste. Um defunto que não se consegue enterrar, mas arrastar por séculos sem fim. Beba, divirta-se, faça terapia tendo a certeza de que nada vai lhe trazer paz de espírito. Você acabou com os desejos, fantasias, expectativas daquele ser humano que se sacrificou por você a troco de nada. Ou melhor, a troco de dor, de descaso, de solidão. Faltou respeito e sobrou impunidade. Até quando? Até consciência acordar e declarar guerra. Pode eliminar todas as provas e indícios, mas quem mata, ainda mais um homem grávido de amor, fica pela eternidade com as mãos tão sujas que nem os esmaltes mais caros hão de conseguir disfarçar.


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